Sexta-feira, 10 de Outubro de 2008

GOVERNO LULA E A IMPRENSA

 


A imprensa tem como função divulgar a notícia sem distorcê-la, promover a denúncia quando a notícia é transgressora, formar opiniões sem ser parcial e principalmente, ser mais um órgão a serviço da população que a lê. Claro que nem sempre a imparcialidade acontece. Vários são os exemplos registrados na história da manipulação da notícia. Em períodos de governos autoritários a imprensa torna-se um potencial porta-voz de propaganda populista a serviço do estado, e a imprensa independente é amordaçada. Mas esta manipulação não é uma prática do passado e só dos regimes autoritários. Um exemplo mais recente foi o primeiro ano da Guerra do Iraque, desencadeada em 2003, quando a imprensa americana foi proibida de divulgar os verdadeiros acontecimentos, formulando opiniões favoráveis e notícias nacionalistas para manipular a população norte-americana para que continuasse favorável à guerra. Notícias contraditórias e mais realistas vazadas na internet e os dissabores de uma guerra prolongada e sem concretizar os seus objetivos, fez com que essa manipulação fosse vencida pela própria força dos acontecimentos. Outro exemplo foi a não renovação da concessão pública à Radio Caracas Televisión (RCTV) na Venezuela, pelo presidente Hugo Chavez, alegando que esta falava mal do seu governo. Nem sempre imprensa e governo andam lado a lado. Uma das características do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é a sua visível animosidade em relação à imprensa. Todas às vezes que viu a sua popularidade abaixar, Lula acusou a imprensa de manipular uma imagem negativa a seu respeito. Até onde a imprensa brasileira e o governo Lula são incompatíveis? E essa incompatibilidade seria fruto de uma imprensa não receptiva ou da falta de uma assessoria de imprensa mais capacitada a defender às críticas desfavoráveis ao governo, sem ofender quem elaborou tal crítica?

A Assessoria de Imprensa do Presidente e a Imprensa

Longe vai o tempo que para se defender da ditadura militar, o então metalúrgico Luiz Inácio da Silva, o Lula, precisava que a imprensa divulgasse a sua luta, estar presente no noticiário nacional evitava que a ditadura sumisse com ele, como fez com vários líderes políticos. Há quem afirme que esta mágoa de Lula em relação à imprensa nasceu em 1989, quando a Rede Globo teria manipulado uma imagem favorável ao seu opositor, Fernando Collor, vencedor nas eleições daquele ano. Verdade ou não, há uma assessoria de imprensa do presidente que insiste em não refutar críticas, mas sim dar a desculpa que a imprensa brasileira é burguesa e não aceito um presidente sem um diploma universitário. Desculpa simplista para uma assessoria presidencial, que prefere gastar milhões em propaganda do estado, não sabendo aproveitar em benefício próprio o que lhe pode oferecer a imprensa oficial além da notícia negativa.
Uma das crises mais sérias entre o governo Lula e a imprensa foi deflagrada em 2004, quando o repórter norte-americano Larry Rother, correspondente do “The New York Times” no Brasil, escreveu um artigo insinuando que o presidente Lula bebia além do recomendado para um homem com o primeiro cargo público de um país, sugerindo inclusive problemas de alcoolismo na conduta de Lula. Ofensivo ou não, a atitude do governo foi de um autoritarismo digno de um governo repressivo. O visto temporário de trabalho no Brasil do jornalista foi cancelado, havendo inclusive ameaça de expulsão. Atitude imperdoável, pois para esse tipo de notícias há processos que caracterizam a difamação e os danos morais. Mas tentar calar um jornalista dessa forma repressiva e autoritária pôs em evidência uma prática que os militantes do partido do presidente condenaram durante a ditadura militar.

José Dirceu, o Brasileiro do Ano pela IstoÉ

Mas houve um tempo que a imprensa até manipulou a favor do governo Lula. A revista IstoÉ que tanto tinha orgulho de se dizer independente, foi uma das que mais publicou reportagens favoráveis durante o primeiro mandato do presidente petista. Para se ter uma idéia da propaganda ao governo Lula na época, o exemplar número 1836, de 15 de dezembro de 2004, estampava na sua capa o brasileiro do ano: José Dirceu. E não foi em um ano que o ex-ministro da casa civil estava no seu auge inatingível, em fevereiro daquele ano, tornara-se pública uma fita que registrava o ex-subsecretário de assuntos parlamentares da casa civil, Waldomiro Diniz, a extorquir um bicheiro em 2002. A revista dava o título de brasileiro do ano justamente por achar que José Dirceu tinha vencido esse vendaval de forma ética e superior. A verdade é que o assunto foi abafado e varrido pelo governo para debaixo do tapete, esquecido pela imprensa quando deixou de render bons furos jornalísticos, como sempre acontece. A revista publicava este texto:
“(...) Waldomiro foi expelido do Palácio e Dirceu cruzou quase que solitário os ventos bravios de então para convencer o País de que o assessor traíra a sua confiança. “Sou um homem acostumado a nunca ter dúvida sobre a minha honra e ética. Pela primeira vez, num assunto no qual não tenho nenhuma responsabilidade, se criou na sociedade uma idéia de que eu podia estar envolvido com algo. Como sei que não estou e nunca estive envolvido, tenho tranqüilidade. Mas que é duro, é”, confessa ele, com olhos cheios d’água, passados dez meses do escândalo e frisando a solidariedade do presidente Lula, que insistia que o episódio era uma bobagem e estava superado. (...)”
A história provou que não, poucos meses depois, em 2005, surgiu o escândalo do mensalão, que derrubou a honra e a ética proferidas por José Dirceu, derrubando o homem do ano eleito pela revista IstoÉ. Ainda nesta revista era eleito Luiz Gushiken como o homem do ano na comunicação social. Também ele não resistiria às acusações de corrupção e deixaria o governo Lula pela porta de trás.
Uma curiosidade, lá embaixo, em menor destaque, a revista dava o título de consolação de homem do ano nos esportes a Vanderlei Cordeiro de Lima, aquele nosso herói que, apanhado no meio de uma maratona nas Olimpíadas de Atenas por um louco de saias, foi obrigado a deixar a corrida, voltando bravamente e alcançando o terceiro lugar. Se a revista tivesse sido imparcial e apurasse mais os efeitos de um escândalo não solucionado, mas abafado, talvez não tivesse perdido a credibilidade de muitos dos seus leitores, como eu, que não a leu mais.
Assim, para que não nos deixemos manipular pela imprensa, devemos primeiro perceber a sua linha editorial, para lermos as suas notícias com imparcialidade e não nos deixarmos conduzir por uma suposta interpretação dos fatos. Porque seja as revistas Istoé, Veja, Época, etc, ou os principais jornais do país, todos eles seguem uma linha editorial, e nesta linha encontramos a chave da interpretação da notícia. Ela jamais nos chega de forma imparcial e cem por cento honesta, sem tendências. Cabe a nós aceitar ou não a notícia política. Ela nunca é inocente.
 
 
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publicado por virtualia às 15:44
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