Todos os anos, quando da aproximação do dia 25 de dezembro, data que se comemora o nascimento de Cristo, há sempre uma pausa para reflexões de vida, atitudes e até mesmo uma análise dos dogmas. Mais de dois milênios depois do seu nascimento, Yeshua Ben Yossef (Jesus filho de José, em aramaico) ainda é uma das personagens mais enigmáticas da história. A começar pela própria data do seu nascimento, desconhecida dos registros históricos, a comemoração no dia 25 de dezembro foi herdada das festas pagãs da Roma antiga, conhecidas como saturnais, que ocorriam entre 17 e 24 de dezembro.
No decorrer de mais de vinte séculos, Jesus Cristo despertou paixões, controvérsias, ódios e polêmicas. No século XX a sua própria existência foi contestada, uma vez que só tínhamos registros históricos da sua vida além dos evangelhos, nas Antiguidades Judaicas e uma versão de História da Guerra dos Judeus, do historiador judeu Josefo, quase contemporâneo seu. Deixando a corrente cética sobre a sua existência, surge a pergunta, quem foi este judeu que mudou a história da humanidade e que, em seu nome, foram travadas as mais terríveis guerras, os mais calorosos discursos de fé?
Para entendermos o cristianismo e os seus dogmas, é preciso jamais esquecer as suas origens, ou a etnia a qual Jesus pertencia.
Os Filhos de Abraão
Conta a história que Abraão, nômade nascido em Ur, na Mesopotâmia, por ordem de Deus, migrou para o território habitado pelos cananeus, entre o rio Jordão e o Mediterrâneo 1800 anos antes de Cristo. Sua esposa Sara não lhe podendo gerar um filho, convenceu-o a se deitar com a escrava Hagar, que lhe gerou Ismael. Mas Deus concebeu a Sara o dom da maternidade já na velhice, e ela gerou Isaac aos noventa anos. Com o nascimento do filho, Sara convence Abraão a mandar Hagar e Ismael embora, assegurando assim, a herança de Isaac. Assim é feito, expulsos por Abraão, Hagar e o filho seguem para o deserto de Bersabéia. Deus guia os passos da escrava até a Arábia e promete-lhe que o seu filho seria pai de uma grande nação. De Ismael surgiria a linhagem do profeta Maomé, fundador do islamismo seiscentos anos depois do nascimento de Cristo.
Da linhagem de Isaac surgem os gêmeos Esaú e Jacó. Através de um ardil, Jacó compra a primogenitura ao irmão Esaú, tem a bênção de Isaac e torna-se Israel, pai de doze filhos, que dariam origem às 12 tribos dos israelitas e ao povo hebreu. A saga do povo judeu através dos séculos é voltada para as promessas de um povo eleito por Deus e separados dos outros povos, para que não se contaminem com falsas adorações e falsos deuses. O Deus de Israel é Único e não admite idolatria. Promete a Abraão uma descendência próspera e com ele faz a aliança, selada pela circuncisão dos seus varões, diferenciando-os das outras nações.
O pacto é renovado através de Moisés e da conquista da terra prometida e da criação de uma série de leis que o hebreu deve cumprir para que se mantenha puro e continue com o privilégio de ser o povo escolhido de Deus. Mas o povo israelita muitas vezes fugiu ao cumprimento das leis mosaicas. A cada traição às leis são castigados e entregues a diversos povos que os dominam através dos séculos. O pacto é renovado na casa do rei Davi, da sua linhagem cumprir-se-ia a profecia messiânica do rei dos reis, que surgiria e elevaria o povo de Israel diante dos seus opressores. Povo eleito de Deus, através do messias alcançariam a paz e a felicidade prometidas , e através deles se estenderia para toda a humanidade.
A Palestina na Época de Cristo
Jesus nasce na Palestina entre o ano 6 ou 7 a.C., numa época conturbada da dominação romana ao povo judeu. Por esta ocasião encontramos as facções dos saduceus, que controlavam o Templo e eram mais condescendentes em sua interpretação da Lei; dos fariseus, mais radicais e mais austeros, usavam a tradição oral para impor minuciosamente os aspectos da Lei na vida judaica, são radicalmente contra o domínio romano. Há ainda as seitas austeras e fanáticas, como os essênios e os zelotes. Os zelotes desprezavam não só os romanos, como os judeus que com eles colaboravam. Promoviam o terrorismo como forma de luta contra o domínio romano e os seus impostos e opressão. Enviavam assassinos conhecidos como sicários (homens do punhal), que mesclados à multidão, assassinavam os seus inimigos.
Durante os primeiros trinta anos da vida de Cristo, há poucas referências sobre as suas ações. Sua pregação começa justamente nessa idade. Após ser batizado por João Batista, apresenta-se como o Messias (ungido) vociferado pelos profetas. Profundo conhecedor da Lei, usa de metáforas e parábolas para se identificar como o ungido e expandir os seus pensamentos. Cristo contesta a mecanização da Lei, mas jamais a renega. Jamais renega a sua condição de judeu ou demonstra que veio para criar uma nova religião, ele veio para cumprir a função do judaísmo e às suas profecias. Chancela as leis mosaicas e acrescenta “amai-vos uns aos outros como a ti mesmo”. Critica a forma colaboracionista dos saduceus com as forças dominantes vigentes e como conduzem o Templo. Numa terra de convulsão política e religiosa, é visto pelas seitas como um homem carismático e de forte influência sobre os hebreus, e com isto, como aquele que vai conduzir Israel à liberdade e contra o domínio de Roma. Mas Cristo rejeita a idéia de conduzir o povo à guerra contra a opressão romana, separa o estado do da religião, “a César o que é de César”. A sua forma pacifista desagrada aos zelotes, sedentos pela revolução e extermínio dos romanos e seus domínios em terras israelitas. Com um idealismo considerado historicamente lunático, declara-se o mensageiro de um novo reino espiritual que viria a partir de então. É acusado de blasfêmia por se dizer o filho de Deus e vociferar a destruição do Templo. Em um acordo entre os saduceus e os romanos, é julgado e crucificado. Segundo a tradição, ressuscita em um corpo diferente, mas reconhecido por seus apóstolos, cumprindo todas as profecias.
O Cristianismo Depois de Cristo
Após a sua morte e à propagação das suas idéias por seus apóstolos, Yeshua torna-se Jesus, seu nome em grego, o Cristo (ungido em grego). Apesar do domínio romano, o grego é a língua mais difundida no mundo antigo, e os relatos sobre a vida de Cristo seriam escritos em aramaico ou grego. Quatro evangelhos são escritos para contar a saga de Jesus Cristo, três deles são sinóticos (Marcos – Mateus e Lucas), assim chamados porque é possível fazer deles uma sinopse única de grande parte do seu conteúdo, pois não diferem uns dos outros. O evangelho de João é o mais denso. Talvez por João ter sido o que atingiu a idade mais avançada dos apóstolos de Cristo, e por ter assistido à queda de Jerusalém, o cerco do povo hebreu, a tragédia que levou à morte de milhões de hebreus e à destruição do Segundo Templo pelos romanos no ano de 70, os seus escritos são vociferados em previsões catastróficas e na criação do próprio livro do Apocalipse.
Com a destruição do Templo em Jerusalém, há a diáspora judaica pelo mundo e o abandono da terra prometida. Os seguidores de Cristo surgem como uma nova seita no mundo antigo. Seguem os ensinamentos de Cristo e as leis mosaicas, com a crença em um só Deus e no Messias, rejeitam a idolatria e os sacrifícios aos deuses. Paulo de Tarso converte-se ao cristianismo e a partir dos seus conceitos, é o primeiro a rejeitar a idéia de que para ser cristão primeiro tem que se ser judeu, o que contraria os primeiros judeus que seguem os ensinamentos de Cristo. É neste momento que há uma ruptura com o judaísmo e a consolidação de uma seita cristã. Em Roma os judeus são vistos como uma nação, mas os cristãos como uma seita incômoda que se alastra. Começa a perseguição aos cristãos, o que gera a consolidação de uma nova religião.
Judeu praticante da Lei, Cristo surge para consolidar o judaísmo. A partir dele a religião hebraica perde a sua função, já não se justifica a existência de um povo eleito para evidenciar a profecia da vinda de um messias. Com certeza que o fator condenatório da religião e a própria ameaça da sua extinção pelo referido messias, e por não ver naquele que assim se apresentava as evidências do rei profetizado, foram as razões que influenciaram os saduceus a negociar com os romanos o julgamento e a condenação que resultaram na morte de Jesus Cristo, justificada pelo sumo sacerdote Caifás : “É de vosso interesse que um só homem morra pelo povo e não pereça a nação toda.” Sacrificando Cristo, os saduceus garantiram a sobrevivência do judaísmo como religião e do seu objetivo de esperar o cumprimento das profecias messiânicas que irão redimir a humanidade através dos filhos de Abraão.
Mais de dois mil anos depois, há a pergunta que encontra ecos, mas jamais uma resposta definitiva, Cristo queria fundar uma nova religião? Em nenhum momento ele renegou a Lei, pelo contrário, citou-as como exemplo a ser seguido. Também Paulo de Tarso, judeu considerado o fundador do cristianismo, todas às vezes que não encontrava nas palavras de Cristo respostas para os questionamentos, buscava-as na Lei e no judaísmo. Após a conversão de Roma e à romanização do cristianismo primitivo, e a sua adaptação às antigas religiões pagãs do continente europeu, como o fortalecimento da figura de Maria substituindo as deusas pagãs, o judaísmo foi desaparecendo da igreja que era erguida em Roma. A imagem de Cristo torna-se européia, é transformado em um homem louro, de olhos azuis ou verdes, longe da figura física de um semita. Muitos dos judeus que foram convertidos voltam ao judaísmo diante da romanização do cristianismo. Surgem os dogmas medievais como os da Santíssima Trindade. Cristo deixa de ser o Messias judeu para se tornar a encarnação de Deus na terra. Judaísmo e cristianismo se tornam inconciliáveis. Para os judeus Deus é único e superior, não se iria materializar na forma humana. A citação medieval “santa Maria mãe de Deus” é vista como blasfêmia, uma simples mortal jamais poderia ser mãe do Deus Único de Abraão. O cristianismo só voltaria a resgatar algumas das suas características judaicas com a Reforma no século XVI.
E novamente a pergunta: Proclamando-se o Messias, Cristo quis fundar uma nova religião ou cumprir o propósito do judaísmo? Se em nenhum momento Cristo deixou de auto-afirmar que era o Messias, provavelmente a segunda hipótese é a mais correta. Mas como há até os historiadores que duvidam que ele existiu, assim como duvidam da existência de Abraão, como não duvidar da sua condição messiânica? A história e a fé muitas vezes são inconciliáveis, cabe ao homem decidir por elas. Uma certeza é irrefutável, amado ou odiado, aceito ou rejeitado pelos homens e pela história, Yeshua Ben Yossef foi um dos mais ilustres judeus que Israel e as suas promessas de redimir o mundo geraram para a humanidade.
No decorrer de mais de vinte séculos, Jesus Cristo despertou paixões, controvérsias, ódios e polêmicas. No século XX a sua própria existência foi contestada, uma vez que só tínhamos registros históricos da sua vida além dos evangelhos, nas Antiguidades Judaicas e uma versão de História da Guerra dos Judeus, do historiador judeu Josefo, quase contemporâneo seu. Deixando a corrente cética sobre a sua existência, surge a pergunta, quem foi este judeu que mudou a história da humanidade e que, em seu nome, foram travadas as mais terríveis guerras, os mais calorosos discursos de fé?
Para entendermos o cristianismo e os seus dogmas, é preciso jamais esquecer as suas origens, ou a etnia a qual Jesus pertencia.
Os Filhos de Abraão
Conta a história que Abraão, nômade nascido em Ur, na Mesopotâmia, por ordem de Deus, migrou para o território habitado pelos cananeus, entre o rio Jordão e o Mediterrâneo 1800 anos antes de Cristo. Sua esposa Sara não lhe podendo gerar um filho, convenceu-o a se deitar com a escrava Hagar, que lhe gerou Ismael. Mas Deus concebeu a Sara o dom da maternidade já na velhice, e ela gerou Isaac aos noventa anos. Com o nascimento do filho, Sara convence Abraão a mandar Hagar e Ismael embora, assegurando assim, a herança de Isaac. Assim é feito, expulsos por Abraão, Hagar e o filho seguem para o deserto de Bersabéia. Deus guia os passos da escrava até a Arábia e promete-lhe que o seu filho seria pai de uma grande nação. De Ismael surgiria a linhagem do profeta Maomé, fundador do islamismo seiscentos anos depois do nascimento de Cristo.
Da linhagem de Isaac surgem os gêmeos Esaú e Jacó. Através de um ardil, Jacó compra a primogenitura ao irmão Esaú, tem a bênção de Isaac e torna-se Israel, pai de doze filhos, que dariam origem às 12 tribos dos israelitas e ao povo hebreu. A saga do povo judeu através dos séculos é voltada para as promessas de um povo eleito por Deus e separados dos outros povos, para que não se contaminem com falsas adorações e falsos deuses. O Deus de Israel é Único e não admite idolatria. Promete a Abraão uma descendência próspera e com ele faz a aliança, selada pela circuncisão dos seus varões, diferenciando-os das outras nações.
O pacto é renovado através de Moisés e da conquista da terra prometida e da criação de uma série de leis que o hebreu deve cumprir para que se mantenha puro e continue com o privilégio de ser o povo escolhido de Deus. Mas o povo israelita muitas vezes fugiu ao cumprimento das leis mosaicas. A cada traição às leis são castigados e entregues a diversos povos que os dominam através dos séculos. O pacto é renovado na casa do rei Davi, da sua linhagem cumprir-se-ia a profecia messiânica do rei dos reis, que surgiria e elevaria o povo de Israel diante dos seus opressores. Povo eleito de Deus, através do messias alcançariam a paz e a felicidade prometidas , e através deles se estenderia para toda a humanidade.
A Palestina na Época de Cristo
Jesus nasce na Palestina entre o ano 6 ou 7 a.C., numa época conturbada da dominação romana ao povo judeu. Por esta ocasião encontramos as facções dos saduceus, que controlavam o Templo e eram mais condescendentes em sua interpretação da Lei; dos fariseus, mais radicais e mais austeros, usavam a tradição oral para impor minuciosamente os aspectos da Lei na vida judaica, são radicalmente contra o domínio romano. Há ainda as seitas austeras e fanáticas, como os essênios e os zelotes. Os zelotes desprezavam não só os romanos, como os judeus que com eles colaboravam. Promoviam o terrorismo como forma de luta contra o domínio romano e os seus impostos e opressão. Enviavam assassinos conhecidos como sicários (homens do punhal), que mesclados à multidão, assassinavam os seus inimigos.
Durante os primeiros trinta anos da vida de Cristo, há poucas referências sobre as suas ações. Sua pregação começa justamente nessa idade. Após ser batizado por João Batista, apresenta-se como o Messias (ungido) vociferado pelos profetas. Profundo conhecedor da Lei, usa de metáforas e parábolas para se identificar como o ungido e expandir os seus pensamentos. Cristo contesta a mecanização da Lei, mas jamais a renega. Jamais renega a sua condição de judeu ou demonstra que veio para criar uma nova religião, ele veio para cumprir a função do judaísmo e às suas profecias. Chancela as leis mosaicas e acrescenta “amai-vos uns aos outros como a ti mesmo”. Critica a forma colaboracionista dos saduceus com as forças dominantes vigentes e como conduzem o Templo. Numa terra de convulsão política e religiosa, é visto pelas seitas como um homem carismático e de forte influência sobre os hebreus, e com isto, como aquele que vai conduzir Israel à liberdade e contra o domínio de Roma. Mas Cristo rejeita a idéia de conduzir o povo à guerra contra a opressão romana, separa o estado do da religião, “a César o que é de César”. A sua forma pacifista desagrada aos zelotes, sedentos pela revolução e extermínio dos romanos e seus domínios em terras israelitas. Com um idealismo considerado historicamente lunático, declara-se o mensageiro de um novo reino espiritual que viria a partir de então. É acusado de blasfêmia por se dizer o filho de Deus e vociferar a destruição do Templo. Em um acordo entre os saduceus e os romanos, é julgado e crucificado. Segundo a tradição, ressuscita em um corpo diferente, mas reconhecido por seus apóstolos, cumprindo todas as profecias.
O Cristianismo Depois de Cristo
Após a sua morte e à propagação das suas idéias por seus apóstolos, Yeshua torna-se Jesus, seu nome em grego, o Cristo (ungido em grego). Apesar do domínio romano, o grego é a língua mais difundida no mundo antigo, e os relatos sobre a vida de Cristo seriam escritos em aramaico ou grego. Quatro evangelhos são escritos para contar a saga de Jesus Cristo, três deles são sinóticos (Marcos – Mateus e Lucas), assim chamados porque é possível fazer deles uma sinopse única de grande parte do seu conteúdo, pois não diferem uns dos outros. O evangelho de João é o mais denso. Talvez por João ter sido o que atingiu a idade mais avançada dos apóstolos de Cristo, e por ter assistido à queda de Jerusalém, o cerco do povo hebreu, a tragédia que levou à morte de milhões de hebreus e à destruição do Segundo Templo pelos romanos no ano de 70, os seus escritos são vociferados em previsões catastróficas e na criação do próprio livro do Apocalipse.
Com a destruição do Templo em Jerusalém, há a diáspora judaica pelo mundo e o abandono da terra prometida. Os seguidores de Cristo surgem como uma nova seita no mundo antigo. Seguem os ensinamentos de Cristo e as leis mosaicas, com a crença em um só Deus e no Messias, rejeitam a idolatria e os sacrifícios aos deuses. Paulo de Tarso converte-se ao cristianismo e a partir dos seus conceitos, é o primeiro a rejeitar a idéia de que para ser cristão primeiro tem que se ser judeu, o que contraria os primeiros judeus que seguem os ensinamentos de Cristo. É neste momento que há uma ruptura com o judaísmo e a consolidação de uma seita cristã. Em Roma os judeus são vistos como uma nação, mas os cristãos como uma seita incômoda que se alastra. Começa a perseguição aos cristãos, o que gera a consolidação de uma nova religião.
Judeu praticante da Lei, Cristo surge para consolidar o judaísmo. A partir dele a religião hebraica perde a sua função, já não se justifica a existência de um povo eleito para evidenciar a profecia da vinda de um messias. Com certeza que o fator condenatório da religião e a própria ameaça da sua extinção pelo referido messias, e por não ver naquele que assim se apresentava as evidências do rei profetizado, foram as razões que influenciaram os saduceus a negociar com os romanos o julgamento e a condenação que resultaram na morte de Jesus Cristo, justificada pelo sumo sacerdote Caifás : “É de vosso interesse que um só homem morra pelo povo e não pereça a nação toda.” Sacrificando Cristo, os saduceus garantiram a sobrevivência do judaísmo como religião e do seu objetivo de esperar o cumprimento das profecias messiânicas que irão redimir a humanidade através dos filhos de Abraão.
Mais de dois mil anos depois, há a pergunta que encontra ecos, mas jamais uma resposta definitiva, Cristo queria fundar uma nova religião? Em nenhum momento ele renegou a Lei, pelo contrário, citou-as como exemplo a ser seguido. Também Paulo de Tarso, judeu considerado o fundador do cristianismo, todas às vezes que não encontrava nas palavras de Cristo respostas para os questionamentos, buscava-as na Lei e no judaísmo. Após a conversão de Roma e à romanização do cristianismo primitivo, e a sua adaptação às antigas religiões pagãs do continente europeu, como o fortalecimento da figura de Maria substituindo as deusas pagãs, o judaísmo foi desaparecendo da igreja que era erguida em Roma. A imagem de Cristo torna-se européia, é transformado em um homem louro, de olhos azuis ou verdes, longe da figura física de um semita. Muitos dos judeus que foram convertidos voltam ao judaísmo diante da romanização do cristianismo. Surgem os dogmas medievais como os da Santíssima Trindade. Cristo deixa de ser o Messias judeu para se tornar a encarnação de Deus na terra. Judaísmo e cristianismo se tornam inconciliáveis. Para os judeus Deus é único e superior, não se iria materializar na forma humana. A citação medieval “santa Maria mãe de Deus” é vista como blasfêmia, uma simples mortal jamais poderia ser mãe do Deus Único de Abraão. O cristianismo só voltaria a resgatar algumas das suas características judaicas com a Reforma no século XVI.
E novamente a pergunta: Proclamando-se o Messias, Cristo quis fundar uma nova religião ou cumprir o propósito do judaísmo? Se em nenhum momento Cristo deixou de auto-afirmar que era o Messias, provavelmente a segunda hipótese é a mais correta. Mas como há até os historiadores que duvidam que ele existiu, assim como duvidam da existência de Abraão, como não duvidar da sua condição messiânica? A história e a fé muitas vezes são inconciliáveis, cabe ao homem decidir por elas. Uma certeza é irrefutável, amado ou odiado, aceito ou rejeitado pelos homens e pela história, Yeshua Ben Yossef foi um dos mais ilustres judeus que Israel e as suas promessas de redimir o mundo geraram para a humanidade.