A Irmandade da Santa Casa da Misericórdia chegou aos tempos atuais com várias misericórdias espalhadas no Brasil e em Portugal, ricas em prestígio e bens, dedicadas, sobretudo, a vocação hospitalar. O que pouco se sabe é de como surgiu em 1498 a confraria da Misericórdia.
Na Baixa Idade Média o estado tinha a obrigação de justiçar contra os condenados, ou seja, executá-los quando assim sentenciados, ou mantê-los presos se condenados ao cárcere. Não tinha a obrigação de alimentar os seus prisioneiros, que só sobreviviam encarcerados se alimentados pela família ou pela caridade. Também quando executados, os seus corpos eram abandonados pelas ruas, sem que o estado os enterrasse. A confraria da Misericórdia surgiu para recolher os corpos dos condenados ou alimentar os prisioneiros em suas celas, pedindo por eles esmolas e comida.
Origem e História
A primeira Misericórdia que se tem notícia é a de Florença, fundada por São Pedro Mártir por volta de 1240, saída de uma “Società della Fede”. Em 1321 já se chamava “Santa Maria della Misericórdia”. Com o tempo a confraria entrou em decadência e só no século XV é que recupera a sua força. Em 1489 dota-se de novos estatutos e nela se encontram importantes pessoas da vida urbana. Em Roma existiam irmandades de “carcerati” , que se dedicavam a apoiar os presos.
Em Portugal, a rainha Dona Leonor, viúva de Dom João II, influenciada por suas ligações com Florença e Roma, quando rainha regente do irmão, Dom Manuel I, cria a Irmandade de Invocação a Nossa Senhora da Misericórdia em 15 de agosto de 1498. Com citação de compromisso feita e assinada provavelmente nas capelas da Nossa Senhora da Piedade ou da Terra Solta, na Sé de Lisboa, onde passou a ter a sua primeira sede. Foi nomeado provedor o trinitário espanhol frei Miguel de Contreras. Os primeiros irmãos da nova irmandade citavam o compromisso originário:
“Os justiçados esquartejados cujos quartos são postos às portas da cidade, e assim dos membros daqueles em que se faz justiça e estão no pelourinho ou em quaisquer outras partes; a que depois de feita justiça a três dias irão os ditos oficiais com mais devoção que puderem pelos ditos membros e os tirarão e trarão a enterrar no cemitério da confraria.”
A Misericórdia adotou como símbolo identificador a imagem da Virgem com o manto aberto, protegendo os poderes terrenos (reis, rainhas, príncipes) e os poderes espirituais (papas, cardeais, bispos, clérigos ou membros de ordens religiosas); a proteção estendia-se também a todos os necessitados, representados por crianças, pobres, doentes, presos. Este símbolo passou a ser impresso nos compromissos, desenhado em azulejos, esculpido em diversos edifícios e pintado em telas, designadamente nos pendões, bandeiras ou estandartes que cada Misericórdia possuía.
As atuações dos confrades da irmandade na centúria dos quatrocentos podiam ser vistas na procissão de Quinta-feira Santa, quando marchavam pelas ruas à medida que a noite caía, trajando os seus hábitos e capuzes de penitentes, flagelando-se com chicotes de cordas múltiplas, as disciplinas, enquadradas pelo pendão da Senhora da Misericórdia e pelo crucifixo.
Apoiada por Dom Manuel, o Venturoso, a Misericórdia prolifera não só por Portugal, mas pelas terras que a expansão lusitana chega. Com esta proliferação a confraria apesar de ser de origem italiana, torna-se uma marca portuguesa no mundo. Em 1502 havia misericórdias em Ceuta, Tanger, Arzila e Alcácer Seguer, além de outras onze no Reino Lusitano. Em 1520 já se tem notícia de uma misericórdia ativa em Goa. Quando Dona Leonor de Lencastre morre, em 1525, já existem cerca de sessenta misericórdias.
As novas irmandades promoveram a divulgação e prática das 14 obras de misericórdia:
Na Baixa Idade Média o estado tinha a obrigação de justiçar contra os condenados, ou seja, executá-los quando assim sentenciados, ou mantê-los presos se condenados ao cárcere. Não tinha a obrigação de alimentar os seus prisioneiros, que só sobreviviam encarcerados se alimentados pela família ou pela caridade. Também quando executados, os seus corpos eram abandonados pelas ruas, sem que o estado os enterrasse. A confraria da Misericórdia surgiu para recolher os corpos dos condenados ou alimentar os prisioneiros em suas celas, pedindo por eles esmolas e comida.
Origem e História
A primeira Misericórdia que se tem notícia é a de Florença, fundada por São Pedro Mártir por volta de 1240, saída de uma “Società della Fede”. Em 1321 já se chamava “Santa Maria della Misericórdia”. Com o tempo a confraria entrou em decadência e só no século XV é que recupera a sua força. Em 1489 dota-se de novos estatutos e nela se encontram importantes pessoas da vida urbana. Em Roma existiam irmandades de “carcerati” , que se dedicavam a apoiar os presos.
Em Portugal, a rainha Dona Leonor, viúva de Dom João II, influenciada por suas ligações com Florença e Roma, quando rainha regente do irmão, Dom Manuel I, cria a Irmandade de Invocação a Nossa Senhora da Misericórdia em 15 de agosto de 1498. Com citação de compromisso feita e assinada provavelmente nas capelas da Nossa Senhora da Piedade ou da Terra Solta, na Sé de Lisboa, onde passou a ter a sua primeira sede. Foi nomeado provedor o trinitário espanhol frei Miguel de Contreras. Os primeiros irmãos da nova irmandade citavam o compromisso originário:
“Os justiçados esquartejados cujos quartos são postos às portas da cidade, e assim dos membros daqueles em que se faz justiça e estão no pelourinho ou em quaisquer outras partes; a que depois de feita justiça a três dias irão os ditos oficiais com mais devoção que puderem pelos ditos membros e os tirarão e trarão a enterrar no cemitério da confraria.”
A Misericórdia adotou como símbolo identificador a imagem da Virgem com o manto aberto, protegendo os poderes terrenos (reis, rainhas, príncipes) e os poderes espirituais (papas, cardeais, bispos, clérigos ou membros de ordens religiosas); a proteção estendia-se também a todos os necessitados, representados por crianças, pobres, doentes, presos. Este símbolo passou a ser impresso nos compromissos, desenhado em azulejos, esculpido em diversos edifícios e pintado em telas, designadamente nos pendões, bandeiras ou estandartes que cada Misericórdia possuía.
As atuações dos confrades da irmandade na centúria dos quatrocentos podiam ser vistas na procissão de Quinta-feira Santa, quando marchavam pelas ruas à medida que a noite caía, trajando os seus hábitos e capuzes de penitentes, flagelando-se com chicotes de cordas múltiplas, as disciplinas, enquadradas pelo pendão da Senhora da Misericórdia e pelo crucifixo.
Apoiada por Dom Manuel, o Venturoso, a Misericórdia prolifera não só por Portugal, mas pelas terras que a expansão lusitana chega. Com esta proliferação a confraria apesar de ser de origem italiana, torna-se uma marca portuguesa no mundo. Em 1502 havia misericórdias em Ceuta, Tanger, Arzila e Alcácer Seguer, além de outras onze no Reino Lusitano. Em 1520 já se tem notícia de uma misericórdia ativa em Goa. Quando Dona Leonor de Lencastre morre, em 1525, já existem cerca de sessenta misericórdias.
As novas irmandades promoveram a divulgação e prática das 14 obras de misericórdia:
7 espirituais, mais orientadas para questões morais e religiosas:
· ensinar os simples
· dar bom conselho
· corrigir com caridade os que erram
· consolar os que sofrem
· perdoar os que nos ofendem
· sofrer as injúrias com paciência
· rezar a Deus pelos vivos e pelos mortos
· dar bom conselho
· corrigir com caridade os que erram
· consolar os que sofrem
· perdoar os que nos ofendem
· sofrer as injúrias com paciência
· rezar a Deus pelos vivos e pelos mortos
7 corporais, relacionadas sobretudo com preocupações materiais:
· remir os cativos e visitar os presos
· curar e assistir os doentes
· vestir os nus
· dar de comer a quem tem fome
· dar de beber a quem tem sede
· dar pousada aos peregrinos
· sepultar os mortos
· curar e assistir os doentes
· vestir os nus
· dar de comer a quem tem fome
· dar de beber a quem tem sede
· dar pousada aos peregrinos
· sepultar os mortos
Com o passar dos anos as misericórdias vão assumindo o aspecto de centros de assistência aos pobres e aos doentes, que persiste até os dias atuais. Só em 1513 são entregues as rendas do primeiro hospital a uma Misericórdia, a de Barcelos, e só em 1561 é que a regente Dona Catarina lhes permite possuírem bens de raiz.
A expansão da Misericórdia reflete a expansão portuguesa e a sua marca pelo mundo. No Marrocos dedica-se ao resgate dos cativos, concorrendo com a Ordem da Trindade. No Oriente vai garantir ao longo dos séculos, o apoio às órfãs e filhas de pai incógnito que os portugueses iam semeando pelo mundo.
A Misericórdia no Brasil
No Brasil ela chega através de Braz Cubas, fidalgo português e líder do povoado do porto de São Vicente, posteriormente vila de Santos, em 1543. Auxiliado por moradores do povoado, Braz Cubas iniciou em 1542 a sua construção, inaugurando-a em novembro do ano seguinte. A Santa Casa da Misericórdia de Santos é o mais antigo hospital brasileiro, com quase 500 anos de existência. Dom João III concedeu-lhe o alvará real de privilégios em 2 de abril de 1551.
No ano de 1560 foi criada a Confraria da Misericórdia de São Paulo dos Campos de Piratininga, alojada no Pátio do Colégio, depois nos Largos da Glória e Misericórdia, até ser inaugurada na Vila Buarque, em 1884 o Hospital Central - sua sede até os dias de hoje.
No Rio de Janeiro a Santa Casa de Misericórdia foi instalada pelo Padre José de Anchieta para socorrer os tripulantes da esquadra do Almirante Diogo Flores Valdez, aportada à baía de Guanabara em 25 de março de 1582, com escorbuto a bordo. Nesta cidade, responsabilizou-se, secularmente, pela administração dos cemitérios.
Durante anos foi responsável pelo acolhimento das crianças abandonadas pelos pais, acolhendo-as nas suas famosas rodas dos enjeitados.
Por estabelecer um caráter laico diante dos vários choques de interesse que a Igreja e o Estado tiveram ao longo dos séculos, as misericórdias chegam aos dias de hoje espalhadas pelas principais cidades portuguesas e brasileiras. Em Portugal é responsável pela administração dos jogos de loteria, o que lhe proporciona uma ampla obra social e um patrimônio invejável. No Brasil constituem principalmente a vocação hospitalar, sendo responsáveis por grandes hospitais. Esta instituição, mais antiga do que o Brasil, faz parte da história luso-brasileira há mais de 500 anos.