Walt Whitman nasceu em 1819, em West Hills, Long Island, Estados Unidos. Um homem incomum para o seu tempo e para a sua obra. Conseguiu transportar-se de uma vida singular em uma nação incipiente, tornando-se a voz do seu canto em uma época ríspida e de consolidação daquela que seria a maior potência do próximo século.
Whitman segue algumas profissões sem êxito. Ajudante de tipografia, jornalista discreto, ensina em East Norwich, trabalha como enfermeiro durante a Guerra da Secessão.
A poesia de Whitman traz a sua epopéia pessoal e a epopéia de uma América em ascensão. Contrariando as morais vigentes do século XIX, o poeta escreve livremente sobre o amor na forma que ele o sente, o amor entre iguais, o amor do homem pelo homem. Retrata em seus poemas a vida real e cheia de contradições. O seu canto exalta o desejo, o corpo reflete a mente, completa o universo do homem e da sociedade onde está inserido, pois a vida é de desafios e exaltações permanentes.
Na sua poesia sentimos o cheiro das folhas dos plátanos, o vento cortante das brisas de inverno, ouvimos as águas dos riachos mansos como a promessa de vida. Sentimos nos seus poemas a cama quente dos corpos e os abraços acolhedores e entrelaçados dos seus amantes. São poemas que desfazem o erotismo para dar passagem ao lirismo e à simplificação dos sentimentos, vividos como um abraço de boas vindas e companheirismo.
A poesia de Whitman causa repulsa nos mais conservadores da época. É considerada por muitos uma obra maldita, menor e provocante. A América recusa Whitman. Com o passar dos anos e a maturidade da jovem nação evoluindo, a poesia de Whitman vai perdendo os seus opositores e conquistando cada vez mais o espaço merecido. Por fim os ecos que condenavam a sua poesia desaparecem na poeira dos preconceitos seculares. E a América curva-se diante do seu maior intérprete e cantor. Whitman é o canto não dele mesmo, mas da formação dos Estados Unidos.
O poeta morreu em Camden, Nova Jersey, no dia 26 de março de 1889. Foi um homem autodidata, porte atlético e de alma apaixonada e apaixonante. Antes dele, poeta nenhum do Novo Mundo ousou escrever tão abertamente sobre o homossexualismo. Depois dele poucos o fizeram tão espontaneamente.
When I heard at the close of the day how my name had been receiv’d with plaudits in the capitol, still it was not a happy night for me that follow’d,
And else when I carous’d, oe when my plans were accomplish’d, still I was not happy,
But the day when I rose at dawn from the bed of perfect health, refresh’d, singing, inhaling the ripe breath of autumn,
When I saw the full moon in the west grow pale and disappear, in the morning light,
When I wander’d alone over the beach, and undressing bathed, laughing with the cool waters, and saw the sun rise,
And when I thought how my dear friend my lover was on his way coming, O then I was happy,
O then each breath tasted sweeter, and all that day my food nourish’d me more, and the beautiful day pass’d well,
And the next came with equal joy, and with the next at evening came my friend,
And that night while all was still I heard the waters roll slowly continually up the shores,
I heard the hissing rustle of the liquid and sands as directed to whispering to congratulate me,
For the one I love most lay sleeping by me under the same cover in the cool night,
In the stillness in the autumn moonbeams his face was inclined toward me,
And his arm lay lightly around my breast – and that night I was happy.
Quando Soube Ao Fim do Dia (tradução)
Quando soube ao fim do dia que o meu nome fora aplaudido no capitólio, mesmo assim nessa noite não fui feliz,
E quando me embriaguei ou quando se realizaram os meus planos, nem assim fui feliz,
Porém, no dia em que me levantei cedo, de perfeita saúde, repousado, cantando e aspirando o ar fresco de outono,
Quando, a oeste, vi a lua cheia empalidecer e perder-se na luz da manhã,
Quando, só, errei pela praia e nu mergulhei no mar e, rindo ao sentir as águas frias, vi o sol subir,
E quando pensei que o meu querido amigo, meu amante, já vinha a caminho, então fui feliz,
Então era mais leve o ar que respirava, melhor o que comia, e esse belo dia acabou bem,
E o dia seguinte chegou com a mesma alegria e depois, no outro, ao entardecer, veio o meu amigo,
E nessa noite, quando tudo estava em silêncio, ouvi as águas invadindo lentamente a praia,
Ouvi o murmúrio das ondas e da areia como se quisessem felicitar-me,
Porque aquele a quem mais amo dormia a meu lado sob a mesma manta na noite fresca,
Na quietude daquela lua de outono o seu rosto inclinava-se para mim,
E o seu braço repousava levemente sobre o meu peito – nessa noite fui feliz.
Tradução José Agostinho Baptista
Outro Poema
Full Of Life Now (original)
Full of life now, compact, visible,
I, forty years old the eighty-third year of the Sates,
To one a century hence or any number of centuries hence,
To you yet unborn these, seeking you.
When you read these I that was visible am become invisible,
Now it is you, compact, visible, realizing my poems, seeking me,
Fancying how happy you were if I could be with you and become your comrade,
Be it as if I were with you. (Be not too certain but I am now with you.)
From “Calamus” – Leaves Of Grass
Pleno de Vida Agora (tradução)
Pleno de vida agora, concreto, visível,
Eu, aos quarenta anos de idade e aos oitenta e três dos Estados Unidos,
A ti que viverás dentro de um século ou vários séculos mais,
A ti, que ainda não nasceste, me dirijo, procurando-te.
Quando leres isto, eu que era visível, serei invisível,
Agora és tu, concreto, visível, aquele que me lê, aquele que me procura,
Imagino como serias feliz se eu estivesse a teu lado e fosse teu companheiro,
Sê tão feliz como se eu estivesse contigo. (Não penses que não estou agora junto a ti.)
Tradução José Agostinho Baptista
CRONOLOGIA
1819 – Nasce a 31 de maio em West Hills, Long Island.
1823 – Muda-se com a família para Brooklyn.
1825-30 – Freqüenta a escola oficial.
1830-34 – Aprendiz numa tipografia.
1835 – Trabalha como impressor em Nova York.
1838-39 – Edita o semanário Long Islander, em Huntington.
1842-44 – Edita um jornal diário, o Aurora; edita o Evening Tatler.
1845-46 – Regressa a Brooklyn e escreve para o Long Island Star.
1846-48 – Edita o Daily Eagle de Brooklyn.
1855 – Publica a primeira edição de Leaves of Grass. Morre-lhe o pai.
1856 – Publica a segunda edição de Leaves of Grass.
1860 – É publicada a terceira edição de Leaves of Grass. Pela primeira vez uma edição que não é do autor.
1863-64 – Trabalha como enfermeiro voluntário na Guerra da Secessão.
1865 – Publica Durm-Taps, 53 poemas acerca da Guerra da Secessão. É demitido do Departamento do Interior pelo secretário James Harlan, que considera Leaves of Grass indecente.
1867 – Sai a quarta edição de Leaves of Grass, com 8 novos poemas.
1868 – Publicada em Londres Poems by Walt Whitman.
1870-71 – Quinta edição de Leaves of Grass. Na segunda tiragem dessa edição é incluída Passage to Índia e mais 71 poemas, alguns inéditos.
1873 – Parcialmente paralisado em janeiro. Morre-lhe a mãe em 23 de maio.
1876 – Sexta edição de Leaves of Grass, em dois volumes.
1880 – Sétima edição de Leaves of Grass. Devido às ameaças de um promotor público, a distribuição do livro é interrompida. A edição só é retomada em 1882. Inclui 20 poemas inéditos.
1882 – Publicado Specimen Days and Colect.
1883 – Estudo crítico da poesia de Whitman por Bucke.
1884 – Adquire uma casa em Mickle Street, Camden, Nova Jersey.
1888 – Novo ataque de paralisia. São publicados 62 novos poemas sob o título November Boughs. Publicado Complete Poems and Prose of Walt Whitman.
1889 – Oitava edição de Leaves of Grass. Prepara a edição chamada de “leito de morte” de Leaves of Grass, que seria publicada em 1892. Morre no dia 26 de março e é sepultado no Cemitério de Harleigh, Camden, Nova Jersey. É publicado Complete Prose Works.
1897 – Publicada a décima edição de Leaves of Grass, a que se juntam os poemas póstumos Old Age Echoes.