
Quanto mais ajudavam nas conquistas, mais eram dotados de privilégios forais e riquezas dadas pelos primeiros reis soberanos lusitanos. Os Templários tornaram-se uma potência, de um poder tão absoluto, que suscitaram sobre as suas cabeças a inveja e a cobiça dos nobres e clérigos. Esta perseguição colaborou para a queda e extinção da ordem, tendo os seus cavaleiros um fim humilhante, muitos sendo mortos nas fogueiras inquisitoriais.
Em Portugal, eles estiveram (segundo registros oficiais) de 1128 até o fim da ordem, declarada extinta em 1314, pelo papa Clemente V. Quando este papa ordenou a dom Dinis que fosse inquirida a conduta da ordem em terras lusitanas, o monarca cumpriu a determinação papal, mas em 1310, juntamente com os soberanos de Castela, declarou em um tribunal de Salamanca, que os Templários eram inocentes. Esta posição incomodou os perseguidores da ordem, mas não evitou a sua supressão definitiva. Para evitar que o grande patrimônio da ordem deixasse o reino português, a coroa conseguiu que em 1319, o papa João XXII criasse por meio de uma bula, a Ordem da Cavalaria de Nosso Senhor Jesus, ou simplesmente, Ordem de Cristo, para onde migrou os cobiçados bens dos Templários.
A contribuição dos Templários na história de Portugal foi essencial, desde a expansão das fronteiras, à participação na economia do reino, nas ciências e na arquitetura. Esta presença ainda hoje pode ser vista na imponência dos castelos da cidade de Tomar; de Almourol, um belíssimo monumento situado no meio de um ilhéu do Tejo; no castelo de Soure ou ainda, no de Pombal. Esta beleza que resiste ao tempo, faz de Portugal um lugar especial no que restou da cultura dos valentes cavaleiros do Templo, muitas vezes vistos como malditos, outras vezes como heróis. Injustiçados ou não, Portugal deve muito à ordem, ainda que não seja, pelos belos monumentos deixados no seu solo, e que fazem parte da riqueza patrimonial da humanidade.
Os Templários no Condado Portucalense

A ordem foi aprovada oficialmente no Concílio de Troyes, França, em 1129, sendo confirmada pelo papa Honório II, tendo as suas regras originais redigidas em 1127, pelo abade Bernardo, de Claraval. Trazia como principal função o apoio aos peregrinos cristãos que demandavam a Jerusalém. Os cavaleiros traziam um hábito branco com uma cruz vermelha no peito. O símbolo da ordem era um cavalo montado por dois cavaleiros, aludindo à pobreza. Tinham como lema o Salmo de David, “Non nobis, Domine, non nobis, sed Nomini Tuo da Gloriam” (“Não para nós, Senhor, não para nós, mas para Glória de Teu Nome”).
A presença dos Templários na península está documentada desde a época que a ordem foi aprovada no Concílio de Troyes. Segundo a tradição histórica, Raimundo Bernardo, que não se tem a certeza se era catalão ou francês, foi o primeiro cavaleiro do Templo a visitar as terras ibéricas, colhendo auxílios monetários para a ordem e alistando membros nativos.
Dona Teresa, regente do condado Portucalense, deu como doação à ordem a povoação da Fonte Arcada. Em 1128, a regente entregou o castelo de Soure aos cavaleiros do Templo, em troca do compromisso de que colaborassem na conquista de territórios islâmicos ao sul.
Longas negociações foram feitas entre a ordem e os soberanos dos reinos da península Ibérica, sendo em 1143, estabelecida entre Raimundo Berengário IV e Roberto de Craon, segundo grão-mestre da ordem, a definição da missão dos Templários naquelas terras.
As habilidades militares fundidas com a vocação religiosa, faziam dos Templários poderosos aliados dos nobres ibéricos na luta contra a ocupação islâmica naquelas terras. Dom Fernão Mendes e a sua esposa, a infanta dona Sancha Henriques, irmã de dom Afonso Henriques, doaram à ordem o castelo de Longróiva, em 1145. Por esta ocasião, o mestre dos Templários em terras portucalenses era dom Hugo Martónio.
Doações Régias à Ordem do Templo

Em 1159, dom Gualdim Pais era o mestre da ordem em terras portucalenses. É nesta época que os Templários recebem o castelo de Ceras e todas as terras a ele adjacentes, num vasto território que ia do rio Mondego ao rio Tejo, correndo pela linha do rio Zêzere. São instalados na região por doação hereditario jure daquele ano, concedida por dom Afonso Henriques.
O castelo de Ceras foi entregue aos Templários em ruínas, o que levou dom Gualdim Pais a decidir edificar uma nova fortaleza em um morro sobranceiro às margens do rio Nabão. A edificação da fortaleza foi iniciada em 1 de março de 1160, no morro situado do lado direito das margens do Nabão. A partir de então, deu-se o princípio da vila de Tomar, que se desenvolveu ao redor do morro.
Mediante a grandes doações régias, os Templários passaram a ser donos de uma grande fortuna no jovem reino de Portugal. Sua expansão prosseguia, em 1165 recebiam os territórios de Idanha e de Monsanto. A partir de 1169, passaram a receber como doação, a terça parte de tudo que viessem a conquistar além do Tejo. Ainda naquele ano, foram confirmadas a posse da ordem aos castelos da Cardiga (na foz do Zêzere) e de Tomar. Por esta ocasião, o castelo de Almourol, uma fortaleza situada numa ilha escarpada no meio do Tejo, e conquistado aos mouros em 1129, foi entregue aos Templários, que o reedificou, fazendo com que assumisse a beleza arquitetônica que se vê até os dias de hoje.
No reinado de dom Sancho I, o emir do Magrebe, Ibne Iuçufe, empreende um grande cerco ao castelo de Tomar. O cerco aconteceu a 13 de julho de 1190, mas foi malogrado pela habilidade belicosa dos Templários, que defenderam com eficácia o reino. Desde então, a presença dos cavaleiros da ordem tornou-se indispensável em todo território português, formado na sua maior parte, por terras conquistadas aos mouros. Os cavaleiros garantiam a conquista desde a linha do Mondego ao Tejo. Em agradecimento a esta proteção, aumentavam as doações à ordem, vindas de particulares ou de cartas régias. Além de garantir a posse das terras, os cavaleiros ajudavam na fomentação dos povoamentos das regiões que defendiam.
Declínio da Ordem

O declínio da proteção régia que os Templários tinham em Portugal, tem início no reinado de dom Afonso III (1245-1279). Conflitos e rivalidades marcam o período, sendo questionadas as terras doadas e a isenção de jurisdição episcopal de que gozavam. O poder e a fortuna da ordem tornava-os credores de nobres e papas, donos de privilégios régios maiores do que os que tinham os demais clérigos. Este poder é responsável não só pelo declínio da ordem em Portugal, como levaria à perseguição tenaz de que seriam alvos no reinado de Filipe IV, o Belo, rei da França de 1285 a 1314.
Difamados e perseguidos por Filipe IV, os Templários viram a ruína da sua ordem e o fim do seu prestígio. Decido a abater a ordem, Filipe IV acusou os cavaleiros do Templo de torpes condutas, heresia, sacrilégio, sodomia, usura e rituais satânicos. As acusações levaram à prisão e à tortura dos cavaleiros em toda a França, alastrando-se rapidamente pelos demais reinos cristãos. Pressionado pelo rei francês, o papa Clemente V, em 13 de outubro de1307, ordena a prisão em massa dos cavaleiros da ordem, inclusive a do seu Grão-Mestre, Jacques de Molay.
A Ordem de Cristo

Dom Dinis optou por obedecer às decisões papais, ordenando a instauração de processo aos Templários, e, ao mesmo tempo, resguardando os seus bens, passando-os de imediato à tutela régia. Com o fim iminente da ordem, o monarca português une-se aos soberanos de Castela, para que juntos assumam uma conduta que permita preservar os interesses do valioso patrimônio da ordem, sem que quebrem a solidariedade que sempre uniram o rei e os cavaleiros. Em 1310, em um tribunal de Salamanca, os reis ibéricos declaram os Templários inocentes em toda a península, das acusações que se lhe eram impostas. Este procedimento constrange Filipe IV e ao papa Clemente V.
A posição dos reinos ibéricos não evitou que, em 3 de abril de 1314, o papa lesse a bula Vox in excelso, que extinguia a ordem, tornando a ordem dos Hospitalários sucessora nos respectivos bens dos Templários. No dia 18 de março daquele ano, Jacques de Molay, o último grão-mestre dos Templários, tinha sido queimado na fogueira por se ter declaro inocente das acusações.
Diante do inevitável fim da ordem, o rei português fez grandes manobras para salvaguardar a unidade patrimonial templária, lançando mão de uma astuciosa interpretação jurídica, as Inquirições de 1314, que diziam ser os cavaleiros da ordem simples usufrutuários amovíveis de terras que pertenciam à Coroa.
A partir desta interpretação jurídica, o rei tinha como objetivo criar uma nova ordem vinculada às decisões régias, que sucedesse àquela extinta, para a qual transitaria a totalidade dos bens dos Templários. Com este propósito, surgiu, a pedido de dom Dinis, a Ordem de Cristo, instituída em 14 de março de 1319, pelo papa João XXII, através da bula Ad ea exquibus. A Ordem de Cristo (Ordem da Cavalaria de Nosso Senhor Jesus Cristo) recebeu como doação, os bens dos Templários, tendo alguns desses bens, passados à posse da Coroa.
A Ordem de Cristo teve os seus estatutos e regras vindas da Ordem Militar da Calatrava, estabelecendo a sua sede na igreja de Santa Maria do Castelo, na vila de Castro Marim. A sede da ordem passaria para Tomar, em 1357, fixando-se no antigo castelo dos Templários. Mesmo ao findar, a ordem dos Templários deixara de vez as suas raízes na construção da nação portuguesa, sendo determinante na afirmação e consolidação das suas fronteiras e da sua identidade de pátria.
Castelos dos Templários em Portugal





