Segunda-feira, 28 de Setembro de 2009

CICLOPES E GIGANTES

 

 
A primeira geração de deuses, conhecidos como divindades primordiais, representa a própria formação da terra e dos seus elementos de forças indomáveis. Gaia (Terra), a deusa mãe, gera incessantemente, do seu ventre forças primordiais assolam a terra, longe da disciplina e da ordem. Os deuses primitivos manifestam a sua essência através das convulsões dos vulcões que expelem lavas, das tempestades e maremotos, dos terremotos que abrem o solo sem piedade. Filhos de Gaia e Urano (Céu), as mais estranhas divindades da primeira geração são os Gigantes, os Hecatônquiros e os Ciclopes, seres monstruosos e de natureza indomável, trazendo na essência o pensamento selvagem a contrapor-se com a razão da mente.
Os Gigantes são seres que atingem dimensões inimagináveis, alguns são descritos com mais de dezessete metros, outros com a parte inferior do corpo terminadas em serpentes. Os Hecatônquiros são monstros de cem braços e cinqüenta cabeças. Os Ciclopes são divindades indomáveis, gigantescos, que possuem um único olho no meio da testa. Gigantes, Hecatônquiros e Ciclopes são aprisionados no Tártaro por Urano. O Titã Cronos (Saturno) destrona Urano, e as criaturas monstruosas são libertadas por Gaia, mas para conter a fúria selvagem dos irmãos, Cronos encerra-os novamente. Quando Zeus (Júpiter) destrona Cronos e os Titãs, surge a geração dos deuses que irá disciplinar o mundo, encerrar de vez a brutalidade e instaurar a harmonia entre a natureza, os deuses e os homens. A luta pelo poder leva a uma guerra de dez anos, na qual Zeus derrota os Titãs. Na luta contra os Titãs, os Ciclopes e os Hecatônquiros aliaram-se aos deuses olímpicos, contribuindo para a vitória final.
Inconformada pela derrota dos filhos, Gaia incita os Gigantes a lutarem contra os deuses do Olimpo. Iniciava-se uma violenta guerra, chamada de Gigantomaquia. Mais uma vez sobressai a vitória da inteligência sobre a brutalidade, da ordem contra a desordem. Os Gigantes, último obstáculo para que os deuses olímpicos possam reinar, são derrotados. A harmonia renasce, o poder da divindade, da qual o homem está atrelado, triunfou sobre o mal.
Os Gigantes e os Ciclopes, monstruosas criaturas primordiais, representavam o povo bárbaro que assolava a civilização grega primitiva, fustigando-a com a crueldade das guerras e adversidades sobre a sua ascensão filosófica. Juntos, Ciclopes e Gigantes simbolizam a Grécia antes da sua filosofia, antes da harmonia trazida pelos deuses do Olimpo.

Do Caos à Guerra dos Deuses

No início, o Caos gerou Gaia, a Terra, que solitária, gerou Urano, o Céu, com quem se uniu e passou a criar todas as criaturas, mortais ou imortais. Urano, o impetuoso marido de Gaia, é o primeiro senhor do universo. Durante o seu reinado, está mais preocupado em fecundar Gaia e com ela ter todos os filhos, quer deuses, quer monstros, sua função é povoar o mundo, sem a preocupação de uma ordem ou disciplina. Os filhos de Urano e Gaia são seres imortais indomáveis, que sem a disciplina harmônica, geram os terremotos, os cataclismos, os vulcões e todas as forças indomáveis da natureza.
Para evitar que os seus filhos agridam de forma indelével à mãe Terra, Urano encerro-os no Tártaro, parte subterrânea do Érebo. Entre os aprisionados estão os Titãs, os Ciclopes e os Hecatônquiros.
Mas os objetivos de Urano vão além da fúria dos seus filhos. É uma disputa pelo poder, pois sabe muito bem que dentre os Titãs, haverá aquele que poderá destroná-lo. Gaia revolta-se contra o marido, como a grande mãe criadora que é, não se conforma em ver os filhos aprisionados. Liberta-os e engendra ao lado do filho Cronos, um plano para derrubar Urano. Assim é feito, Cronos castra Urano e torna-se o senhor dos deuses. Seu reinado continua a não manter a ordem e harmonia entre os deuses e a natureza.
Uma profecia paira sobre o reinado do Titã Cronos: um dos seus filhos com a mulher Réia (Cibele), irá destroná-lo. Cronos devora um a um, os filhos quando nascem, porém, é enganado por Réia, que ao dar a luz a Zeus, entrega ao marido uma pedra embrulhada em um manto, dizendo ser o filho recém-nascido. Poupado, Zeus cresce, até que chega o momento de enfrentar o pai. Disfarçado, consegue dar uma porção para Cronos ingerir, obrigando-o a vomitar os filhos devorados. Das entranhas de Cronos surgem Poseidon (Netuno), Hades (Plutão), Deméter (Ceres), Héstia (Vesta) e Hera (Juno). Juntos, os irmãos Zeus, Poseidon e Hades iniciam uma batalha contra os Titãs, com o objetivo de terminar com o reinado do tempo destruidor e devorador de Cronos.
A guerra entre Zeus e os Titãs durou dez anos. Nesta luta, o deus contou com a ajuda preciosa dos Ciclopes e dos Hecatônquiros, aprisionados pelo irmão Cronos. Ao derrotar o pai, Zeus dividiu o poder com os seus irmãos, a ele coube o domínio do céu e da terra, a Poseidon o reino dos mares e, a Hades, o reino subterrâneo dos mortos. A paz, a disciplina e a harmonia foram estabelecidas no mundo. Zeus passa a reinar de cima do monte Olimpo. Era a nova geração de deuses a eliminar a brutalidade das forças indomáveis dos deuses primitivos.

A Gigantomaquia

A vitória de Zeus sobre os Titãs estabelecia a ordem do universo. A harmonia e a razão caminhavam juntas no reinado dos deuses do Olimpo. Esta harmonia foi ameaçada pela revolta de Gaia, a deusa mãe. Inconformada em ver os filhos preferidos, os Titãs, aprisionados para sempre no Tártaro, a deusa mãe incita os Gigantes, seus outros filhos, a rebelarem-se contra o governo dos olímpicos. A rebelião dos Gigantes, a Gigantomaquia, seria a última guerra que Zeus iria enfrentar para que o seu governo fosse estabelecido definitivamente sobre os deuses. A última contestação do reinado dos olímpicos.
O mito dos Gigantes surge timidamente entre os gregos antigos. Hesíodo citou-os, mas sem mencionar a guerra contra os olímpicos. Homero aponta os Gigantes como um povo mortal. Também os hebreus citam Gigantes dentre os povos que guerrearam contra Israel. Em algumas versões, os Gigantes teriam sido um dos povos dizimados por Deus durante o dilúvio. Na mitologia, a tradição referente aos Gigantes não é clara, muitas vezes confundidos com os Titãs, formando uma só entidade. Píndaro é quem traz, tardiamente, o mito dos Gigantes para a literatura grega, localizando os campos de Flegra, península de Palena, na Macedônia, como o palco da batalha final da Gigantomaquia, e como local do nascimento dos Gigantes.
No episódio da batalha de Flegra, os Gigantes são dotados por uma força invencível, possuidores de muitos artifícios mágicos, como uma erva mágica dada pela mãe, Gaia, que os fazia invulneráveis aos golpes desferidos pelas mãos dos inimigos. Segundo a tradição, o Destino havia decidido que os Gigantes só poderiam ser mortos quando um deus e um mortal os atacassem simultaneamente.
Zeus, Hades e Poseidon juntam todos os deuses para a batalha final, em Flegra. Para atender à imposição do Destino, que exigia um deus e um mortal para matar os Gigantes, Zeus convoca o herói Héracles (Hércules), seu filho mortal. Há uma grande contradição cronológica na lenda, pois Héracles tinha o seu nascimento posterior aos Gigantes, pertencendo a uma geração posterior. A contradição é superada pela simbologia, era a presença humana ao lado dos deuses na luta pela vitória do bem sobre o mal, da ordem sobre a desordem do mundo, da consolidação da racionalidade e crescimento do espírito imortal e humano.
Em Flegra, Alcioneu, Porfirião, Encélado e Polibotes comandam o ataque dos Gigantes. Utilizando uma força descomunal, os estranhos seres atiravam rochedos contra o céu, fazendo as montanhas tremerem, os rios saltarem dos leitos, ilhas afundarem no mar. A Gigantomaquia fere a terra, matando os humanos que lutam ao lado de Héracles. Porfirião é fulminado por Zeus quando tenta violar Hera, sua esposa. Héracles mata Alcioneu. Um a um os Gigantes sucumbem. Atena (Minerva) mata Encélado. Poseidon e Héracles eliminam Polibotes. Por fim, há um silêncio nos campos de Flegra, banhados em sangue. Os Gigantes estão mortos. Os deuses, exaustos, retornam ao Olimpo. Era o fim da Gigantomaquia.

Outros Mitos dos Gigantes

Outro mito assimilado aos Gigantes é o monstro Tifão. Uma das versões da lenda de Tifão descreve-o como filho de Hera, a ciumenta esposa de Zeus. Ao ver Atena, a bela deusa da sabedoria, nascida do crânio de Zeus, sem a sua participação, Hera implora a Gaia, a deusa mãe, que a faça conceber sem a participação do marido. Assim, engravidara sozinha, dando à luz a Tifão, que nascera um monstro, castigo por tentar conceber sem a participação masculina. Na outra versão, Tifão é filho de Gaia e Urano. Ao ver a derrota final dos Gigantes, Gaia incita Tifão a insurgir-se contra Zeus, com o objetivo de vingar os irmãos. Ao atender aos caprichos da mãe, Tifão declara guerra a Zeus, mas é vencido, aprisionado e submetido a torturas eternas.
Há uma geração de Gigantes que não pertence às divindades primordiais. Trata-se dos Aloídas, Oto e Efialtes, filhos de uma aventura amorosa do deus dos mares Poseidon e Ifimedia. São chamados de Aloídas por ter sido adotados por Aloeu, marido de Ifimedia. Conta a lenda que aos nove anos, os Aloídas já haviam alcançado a altura de dezessete metros.
Assim como os Gigantes filhos de Gaia, os Aloídas rebelam-se contra Zeus, empilhando várias montanhas, preparando uma grande escada que os conduziria ao céu, atingindo o Olimpo. Na rebelião, eles atiram montanhas ao mar, na tentativa de secá-lo. Ao tentar chegar ao céu, os Aloídas traçam como objetivos destronar Zeus e raptar Hera e Ártemis (Diana), deusas pelas quais estavam apaixonados. Os intrépidos Gigantes aprisionam Ares (Marte) num pote de bronze, que só seria libertado por Hermes (Mercúrio), após a derrota dos agressores. Diante de tanta ousadia, Zeus fulmina os dois com um raio, aprisionando-os para sempre nos infernos.
Assim, ao derrotar os Gigantes, Zeus vence as adversidades das forças primordiais, indomáveis e bloqueadoras da evolução da razão, da descoberta da inteligência sobre os impulsos da natureza, da sua essência mais primitiva. É a vitória da filosofia grega sobre a hostilidade das civilizações mais remotas, a vitória da inteligência do homem sobre os seus instintos básicos.

As Quatro Categorias dos Ciclopes

Na luta dos deuses olímpicos pela supremacia do poder, os Ciclopes, seres gigantes de um só olho na testa, e os Hecatônquiros, monstros de cem braços e cinqüenta cabeças, aliaram-se a Zeus e aos seus irmãos, contribuindo para a sua vitória final.
Os Ciclopes têm em sua essência primitiva, o caráter violento; são movidos pelos instintos básicos e pela irracionalidade compulsiva de apenas sobreviver, ou de sentir prazer. São agrupados tradicionalmente em quatro categorias distintas: os uranianos, os pastores, os ferreiros e os construtores.
Os Ciclopes Uranianos são divindades primitivas, filhos de Gaia e Urano. Tidos como entidades menores, não são deuses, mas também não são mortais, são seres de uma força mágica. Segundo Hesíodo, os filhos Ciclopes de Gaia eram três: Estérope (o raio), Brontes (o trovão) e Argés (o relâmpago). Por trazerem uma força indomável, eles foram aprisionados no Tártaro por Urano, juntamente com os Hecatônquiros. Urano temia ser destronado por criaturas tão monstruosas. Eles só seriam libertados quando Cronos assumiu o poder sobre os deuses. Mas a liberdade foi provisória, o Titã sucessor de Urano voltou a encerrá-los nas trevas do inferno. Ali permaneceriam até que Zeus os libertasse definitivamente. Como agradecimento pela liberdade, os Ciclopes aliaram-se aos olímpicos, forjando-lhes as armas de combate. Para Zeus deram o raio, para Poseidon o tridente, e para Hades, o capacete que o tornava invisível.
Os Ciclopes uranianos fabricaram o raio com o qual Zeus fulminara Asclépio (Esculápio), filho do deus Apolo. Para vingar a morte de Asclépio, Apolo eliminou os três Ciclopes.
Os Ciclopes Ferreiros são entidades inferiores aos uranianos, não sendo mencionada a sua origem, o que nos permite incluí-los na primeira geração de divindades. Os mitos mais famosos dos Ciclopes ferreiros são os de Acamas e Pirácmon. Ligados à metalurgia, são eles que confeccionam as flechas de Ártemis e Apolo, as armas e os adornos dos deuses. Fazem parte da corte de Hefestos (Vulcano), o deus artesão, do fogo e dos metais. Habitavam a oficina de Hefestos, localizada dentro do vulcão Etna, na Sicília.
Os Ciclopes Construtores eram mencionados como hábeis arquitetos e escultores, sendo a eles atribuídos todos os monumentos pré-históricos da Grécia e da Sicília. Entre as construções tidas como feitas pelos Ciclopes, estão as muralhas de Tirinto e Micenas. Eram construções primitivas feitas com gigantescos blocos de pedra, que pareciam à civilização grega impossível ter sido transportadas por humanos, daí ter sido erigidas pelos músculos dos gigantescos Ciclopes. Os mitos dos Ciclopes construtores provinham principalmente, da Lícia.
Os Ciclopes Pastores são os mais brutais de todos eles. Situam-se numa terceira geração de divindades, como é o caso de Polifemo, o mais famoso dos Ciclopes, filho de Poseidon, o deus dos mares. Se os três outros grupos dos Ciclopes destacam-se pelas habilidades de arquitetos, artesãos e construtores, demonstrando uma inteligência criativa, os Ciclopes pastores são rudes, de uma crueldade selvagem, desprovida da moral civilizadora ou limitações diante dos deuses e dos costumes. Têm como única riqueza parcos rebanhos de carneiros. Não plantam, não lavram, não fazem oferendas aos deuses, não têm leis, passeiam nômades pelas montanhas, levando os seus rebanhos, que devoram sem cozinhá-los, vivem em grutas, no alto dos montes. Outra característica dos Ciclopes pastores é o canibalismo. São os mais puros representantes da Grécia mítica e primitiva, antes de alcançar a mais elaborada e evoluída das civilizações antigas, que trazia o fantasma de seres antropófagos, selvagens e que se alimentavam da carne humana. Os gregos temiam à crueldade sanguinária atribuída aos Ciclopes, considerando-os deuses e a eles fazendo sacrifícios em altares que se lhe dedicavam, sendo em Corinto o mais conhecido.

Polifemo e Odisseu

Polifemo é o mais famoso dos Ciclopes. Está incluso na categoria dos Ciclopes pastores. Seu mito suscitou duas grandes lendas: o Polifemo cruel e sanguinário, derrotado por Odisseu (Ulisses), descrito por Homero e Eurípides; e, o Polifemo jovem e apaixonado, que não vendo o seu amor pela bela Galatéia ser correspondido, passa a cantar para esquecer as mágoas do amor rejeitado.
O Polifemo de Homero, descrito na “Odisséia”, e de Eurípides, imortalizado no drama satírico “O Ciclope”, é filho de Poseidon e da ninfa Toosa. É um ser monstruoso, cruel e selvagem, vive em uma gruta da ilha onde habita.
Polifemo vive desconfiado, sem leis ou sentimentos de afeição. Sua condição de ser primitivo incapacita-o de qualquer gesto de comoção ou piedade. Vive com os seus carneiros em uma ilha conhecida como sua. O cotidiano de Polifemo é quebrado quando Odisseu e os seus homens, que retornavam da guerra de Tróia, aportam na ilha. Os guerreiros gregos encontram a caverna de Polifemo, onde vêem espalhados pelo chão, potes de leite e queijos de cabra. Famintos, devoram os alimentos do Ciclope.
Odisseu sabia que a ilha pertencia a Polifemo, sabia também da crueldade secular do Ciclope, espalhada e contada pelos quatro ventos. Mesmo assim, não impede os seus homens de saquearem os mantimentos de tão perigosa criatura. É a devorar-lhe os alimentos, que Polifemo vai encontrar, dentro da caverna, Odisseu e os seus homens. Há um breve diálogo entre Odisseu e Polifemo, marcado pela astúcia do primeiro e pelo sarcasmo do segundo. A conversação é interrompida quando Polifemo, sem demonstrar compaixão, pega dois dos homens, devorando-os em minutos, jogando os seus ossos em um canto da caverna.
Aprisionado na caverna de Polifemo, Odisseu vê todos os dias, dois dos seus homens sendo devorados pelo monstro. O soberano da Ítaca elabora um plano. Pensa em matar Polifemo durante o sono, mas sabe que se o fizer, também ele e os seus companheiros morrerão, pois uma gigantesca pedra fecha a caverna, só podendo ser removida pela força incomum do próprio Ciclope.
Os dias vão passando, e Polifemo vai devorando os homens de Odisseu, comendo-os às vezes crus, às vezes cozidos. Polifemo passa o dia a conduzir o seu rebanho de cabras pela ilha, enquanto deixa os navegantes presos na caverna. Enquanto o Ciclope está fora, Odisseu inspeciona a caverna. Encontra vinho e uma grande madeira. Juntamente com os seus homens, afina a madeira, transformando a sua extremidade em uma ponta aguçada, endurecida ao fogo. Quando Polifemo retorna, Odisseu, gentilmente oferece-lhe uma gamela de vinho. Num só trago, o monstro sorve a bebida. Odisseu oferece-lhe outra gamela, e outra, e outra... Como agradecimento, Polifemo promete devorar-lhe por último. Já embriagado, o Ciclope pergunta a Odisseu como é o seu nome. Ele responde: “Ninguém”. Por fim, embriagado e cansado, Polifemo cai em um sono pesado. Aproveitando-se do momento, Odisseu pega a estaca que afiara a ponta, e em um gesto rápido, fura o único olho de Polifemo.
Polifemo acorda com um urro de dor, o sangue jorra por toda a sua cara. Enfurecido, procura por Odisseu e os seus homens, mas cego, não percebe que eles estão debaixo dos seus carneiros, ao tocá-los, pensa tocar nos animais do seu rebanho. Desesperado, Polifemo afasta a pedra da gruta. Sai correndo pela ilha, a gritar furiosamente e com desespero: “Ninguém me cega. Ninguém quer me matar”. Naquele instante, Odisseu e os que sobreviveram à fúria do monstro, partem da ilha, deixando Polifemo cego do seu único olho.

Polifemo e Galatéia

Na segunda lenda do mito, Polifemo é um pastor jovem e apaixonado pela bela nereida Galatéia. Mas como é feio, portador de um único olho, a jovem repudia e rejeita o seu amor. Polifemo, ser brutal, rude nos seus atos e na sua parca conduta de vida, vê na bela e frágil Galatéia, o redimir da sua essência primitiva, domesticada pelo amor e pelos sonhos da paixão.
Se a beleza da jovem suscita no monstro a delicadeza, o amor verdadeiro, nela ele apenas desperta o medo, o terror. Loucamente apaixonado, ele oferece à jovem as mais belas jóias, belas vestes e moedas de ouro, a tudo ela recusa, sem o mínimo de comoção às súplicas e ao amor do Ciclope.
Sem ter o seu amor correspondido, Polifemo passa o tempo a cantar a beleza de Galatéia, como se assim pudesse fugir da imensa dor que lhe trespassa o coração apaixonado. Este Polifemo que encontra na música o refúgio para afogar a sua mágoa de amor, é retratado por Teócrito num de seus “Idílios”.
Ovídio apresenta uma versão diferente do amor de Polifemo por Galatéia, transformando-o em um ser compulsivo e violento, longe do romantismo lírico da outra versão. Em Ovídio, diante da recusa de Galatéia ao seu amor, o Ciclope desconfia que ela nutre uma paixão por outro. Diante da possibilidade de um rival, Polifemo segue Galatéia, confirmando as suas suspeitas ao vê-la nos braços do belo Acis, entregando-se apaixonadamente.
Polifemo não suporta o que vê. O seu coração magoado enche-se de ódio, transportando-o para uma fúria cega e perigosa. Desesperado, dilacerado pelo ciúme, ao ver o casal entrelaçado na praia, Polifemo solta um grito cortante, como um trovão a rasgar o céu. Assustada, Galatéia foge para o mar, mergulhando na imensidão das águas. Acis, ao tentar acompanhar a amada na fuga, é atingido por um rochedo que lhe atirou Polifemo sobre o corpo. O jovem cai sem vida. Comovidos pelos prantos de Galatéia, ante ao amado morto, os deuses transformaram Acis num rio que corre próximo ao monte Etna. Polifemo sente-se vingado. O ódio aliviou-lhe a angústia do coração apaixonado.
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