A cidade de São Paulo nasceu modesta, mantendo-se como uma vila pobre e sem atrativos por séculos. Sua fundação, oriunda da construção de um barracão de pau-a-pique coberto de sapê, que servia ao mesmo tempo, de capela e de abrigo aos jesuítas. No dia 25 de janeiro de 1554, data que se festeja na igreja católica a conversão do apóstolo Paulo de Tarso ao cristianismo, o sacerdote Manuel de Paiva celebrada uma missa neste barracão construído entre os rios Anhangabaú e Tamanduateí; na sua presença estavam os padres José de Anchieta e Manuel da Nóbrega, João Ramalho e a sua esposa Bartira e os índios Caiubi e Tibiriçá. Nascia a povoação de São Paulo de Piratininga, aquela que estava destinada para ser a maior metrópole do Brasil.
A vida pulsante da cidade de São Paulo traz o poder, o dinheiro, os sonhos e as esperanças para os seus quase vinte milhões de habitantes, formados por imigrantes de todas as partes do Brasil e de grande parte do planeta. A metrópole assusta no seu gigantismo de concreto, fascina nas milhares de pessoas que transitam por suas ruas e por sua ebulição constante, fazendo dela o principal centro financeiro, cultural, corporativo, político e mercantil não só do Brasil, mas de toda a América Latina. São Paulo em sua veia urbana e universalidade vincada, é a décima quarta cidade mais globalizada do planeta, sendo a décima mais rica.
Caminhando para quase cinco séculos da sua fundação, a São Paulo do século XXI nada lembra a aglomeração de padres, índios e bandeirantes humildes que se constituiu em torno do Pátio do Colégio Jesuíta, muito menos aquela cidade pobre e esquecida pelo progresso por tantos séculos. A Paulicéia atual fascina, atrai e seduz não só os seus habitantes, mas todo o Brasil. Na data de aniversário da cidade, ela recebe os beijos apaixonados dos cidadãos brasileiros, que prestam homenagens a mais amada, idolatrada ou odiada das suas cidades. E o nome da cidade ecoa pela poluição perene que cobre seu o céu. São Paulo, São Paulo! Este artigo é um convite para uma visita pitoresca às várias fases da cidade, em imagens de ontem, numa São Paulo para sempre gravada no coração da memória.
Vila Pobre e Adormecida

Em 1560 o governador geral da colônia, Mem de Sá, ordenou que a população da vila de Santo André da Borda do Campo fosse para os arredores do Colégio de São Paulo de Piratininga. Com a transferência da população, a vila de Santo André da Borda do Campo foi extinta, e São Paulo de Piratininga foi elevada à condição de vila, expandindo finalmente, o seu povoamento.
Por encontrar-se longe do litoral, a vila permaneceu pobre e isolada do resto da colônia por dois séculos consecutivos. Com a expansão para o interior do país, a cidade passou a servir de entroncamento para os que vinham do litoral e que se adentravam na mata. Homens pobres, em busca de fortunas, transformaram-se nos bandeirantes, que a partir da vila de São Paulo de Piratininga, conquistaram o interior do Brasil colônia, caçando e escravizando índios, descobrindo diamantes e ouro. São Paulo transformou-se na capital dos bandeirantes.
A intensidade das bandeiras, a descoberta de ouro na região das Minas Gerais, aumentou a importância da vila no cenário da colônia, já que ela era o ponto principal de partida para o interior, fazendo com que fosse elevada à categoria de cidade em 1711.
O Despertar do Progresso Paulistano

No século XIX São Paulo é uma cidade pacata e provinciana, cercada por várzeas alagadiças, ribeirões e brejos. Vista ao longe, mantinha a sua estrutura de fundação sobre uma colina, o que lhe dava um aspecto de acrópole. Trazia inúmeras igrejas, parcos sobrados e inúmeras casas baixas, apoiadas umas às outras, com grandes beirais.
Em 1823, já o Brasil era uma nação independente, e o imperador Dom Pedro I conferiu à cidade o título de “Imperial Cidade”. Pouco depois, em 1827, seriam criados cursos jurídicos no convento de São Francisco, que iria originar a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. São Paulo, aos poucos, tornar-se-ia um burgo de estudantes, que juntamente com os professores, dariam um grande impulso de crescimento cultural à cidade.
Mas o grande despertar da cidade, dantes pobre e sossegada, deu-se com o cultivo do café, que encontrou no interior paulista solo ideal e clima propício. No interior paulistano passam a proliferar grandes plantações cafeeiras, que produziam grãos de qualidade apreciados pelo mundo inteiro. O ciclo do café era inaugurado, transformando-se no século XIX, na principal riqueza do país, condição que iria prevalecer até os anos vinte do século seguinte.
A grande produção do café gerou grande necessidade de mão-de-obra, obrigando o governo a abrir as suas fronteiras para os imigrantes. São Paulo passou a receber milhares de imigrantes, principalmente italianos, que dali eram encaminhados para as lavouras cafeeiras do interior paulista.
Com o dinamismo do comércio do café, era preciso ecoar o produto, transpondo a difícil barreira que se impunha através da Serra do Mar. Para esta finalidade deu-se início à construção de ferrovias, que interligariam São Paulo ao interior paulista e ao litoral santista. Em 1860 o Barão de Mauá associa-se a capitalistas ingleses, organizando a Estrada de Ferro Inglesa, The São Paulo Railway, unindo Santos a Jundiaí, que inauguraria em 16 de fevereiro de 1867, a primeira Estação da Luz, um prédio arquitetonicamente modesto. Nas proximidades da estação foram desenvolvendo-se, aos poucos, pequenas indústrias e bairros

Na década seguinte à inauguração da Estrada de Ferro dos Ingleses, viriam a Estrada de Ferro Sorocabana, que servia de ligação entre São Paulo e as províncias do sul, e, a Central do Brasil (ou Estação do Norte), que a partir de 1887, comunicava São Paulo ao Rio de Janeiro. Com as ferrovias, São Paulo tornou-se um grande nó viário, trazendo para a cidade indústrias e um progresso cada vez mais latente.
Novos Bairros e Ruas

Com a ida dos barões para a capital, foram instaladas fábricas, necessárias ao atendimento da crescente demanda de insumos manufaturados. Com as novas indústrias, foi gerada uma necessidade de mão-de-obra especializada, logo ocupada pelos imigrantes, excepcionalmente pelos italianos. Antigas regiões de chácaras foram transformadas em bairros industriais e operários, como o Brás, a Mooca, Belém e Ipiranga. Imigrantes italianos e espanhóis estabeleceram nestes bairros.
Com o progresso, uma nova cidade forma-se aos poucos, expandindo-se para locais ainda rurais, como o Morro do Chá, sítio de cultivo de chá, onde as crianças iam caçar pequenos pássaros e os adultos pescar lambaris. Em 1888, após a expropriação do sobrado do Barão de Tatuí, foram iniciadas as obras do Viaduto de Chá, que seria inaugurado em 1892, dando um imponente ar de modernidade à cidade.
O que foi chamado de Bairro do Chá, tinha como proprietário da área o Barão de Itapetininga, que cedeu parte do terreno na encosta, para a construção da Rua Formosa. Posteriormente, a viúva do barão permitiu em suas terras a abertura de novas ruas, como as atuais Xavier Toledo, Barão de Itapetininga e 7 de Abril, formando o que foi chamado de Cidade Nova.
Com a Cidade Nova (ou Centro Novo), o tradicional centro econômico de São Paulo deixa de ser exclusivamente nas ruas do Triângulo (Rua Direita, Rua São Bento e Rua 15 de Novembro), mudando-se para áreas a oeste. Surge a imponente Avenida Paulista, que com o decorrer do século XX, deixa de ser local de palacetes de barões e banqueiros, para dar passagem aos prédios e a tornar-se um importante centro econômico.
São Paulo, Uma Cidade Que Não Pode Parar

Transformada em metrópole no século XX, São Paulo passa a ser conhecida como a cidade que não pode parar. Em 1916 foi criado o brasão oficial da cidade, que seria oficializado em 8 de março de 1917. O brasão traz o lema em latim “Non ducor, duco” (Não sou conduzido, conduzo), que traduz a imagem exata da Paulicéia como capital de Estado e maior metrópole do Brasil.
Desde que fundada, em 1554, a cidade assumiu vários aspectos. Nascida de um colégio de jesuítas, com a finalidade de catequizar os índios da Serra do Mar, passou a ser uma vila pobre e tacanha, gerando ferozes e ambiciosos caçadores de índios e de pedras preciosas, os bandeirantes, que se adentraram pelo interior das matas brasileiras, derrubando o Tratado de Tordesilhas e alargando as fronteiras da colônia portuguesa. Construída por modestas casas de barro, por dois séculos esteve adormecida, até que sucessivamente, passou a ser a cidade do burgo dos estudantes, a capital dos barões do café, a cidade dos imigrantes (italianos, portugueses, espanhóis, alemães, judeus, japoneses...), a cidade modernista do Brasil, a capital da indústria, o coração econômico do Brasil. Para assumir as várias faces da sua história, São Paulo foi inteiramente construída e demolida várias vezes.
São Paulo da garoa, do trânsito caótico, da poluição institucionalizada, da cultura latente, que transformou o Brasil do século XX, do poder objetivo do concreto das suas construções, dos sonhos realizados e desfeitos dos que ousaram tentar domar a metrópole. São Paulo é a concretização mais perfeita do sonho brasileiro de ser um país do futuro, exercendo este sonho perenemente no presente.
