Os astros sempre foram motivos de atenção, adoração e estudos das civilizações mais remotas. Antes de alcançar o apogeu intelectual e filosófico que se espalhou pelo mundo antigo, os gregos em seus primórdios, tinham dificuldade em explicar a origem do movimento dos astros. Como tinham poucas informações concretas sobre eles, desprovidos de estudos científicos, transformaram em deuses o Sol, a Lua, a Aurora e outros, criando as divindades siderais e atmosféricas.
As divindades siderais estão divididas em dois grupos, sendo o primeiro composto pelos deuses Hélios (Sol), Selene (Lua) e Eos (Aurora), considerados como prole da segunda geração de deuses, os Titãs. O segundo grupo é formado por Eósforo (o portador da manhã); Fósforo (o portador da luz), nomes primitivos do planeta Vênus, que em Roma identificava-se com Lúcifer; e, Héspero (Vésper), o astro da tarde, invocado como guia dos cortejos nupciais. Héspero é tido como o pai das Hespérides, as ninfas da tarde.
Hélios, com os seus cabelos dourados, corpo atlético e olhos serenos, era o filho mais belo do titã Hipérion e da titânia Teia. Hipérion em grego significa “o que se move no alto”, sendo ele um epíteto do próprio Sol. Em uma das versões sobre o mito, Hélios, por sua beleza e serenidade, despertou a inveja dos seus tios, os outros Titãs. Este sentimento de ódio levou a que cometessem um ataque de fúria contra o sobrinho, atirando-o às águas do rio Erídano. Apesar de lutar contra a fúria das correntezas, Hélios teria sido tragado por elas. Ao saber da morte do irmão, Selene não teria suportado a dor e arremessou-se do alto do palácio dos pais, também perecendo. Mas os irmãos não tinham morrido, ascenderam ao Olimpo, ao lado dos imortais, transformando-se nos poderosos deuses Hélios e Selene, que iluminavam o mundo, chamados agora de Sol e Lua. Ao lado da irmã Eos, a Aurora, eles traziam a claridade para a humanidade.
Hélios, o Sol

No mito de Hélios encontramos o deus a percorrer o céu sobre um carro de ouro, fabricado pelo artesão dos deuses e senhor do fogo, Hefestos (Vulcano). Hélios traz o seu carro atrelado a quatro velozes cavalos brancos, que soltam fogo pelas narinas. Os nomes dos cavalos do Sol sofrem alterações de acordo com as várias versões da sua lenda, sendo os mais tradicionais Eôo (oriental), Éton (cor de fogo), Pírois (eu queimo) e Flégon (eu brilho). Noutras versões, há os cavalos Etíope e Lampo (resplandecente).
Conduzindo o seu carro de ouro, Hélios percorre uma longa viagem pelo mundo, partindo de um pântano formado pelo Oceano, no longínquo país da Etiópia, no Oriente. Hélios cavalga o céu envolto em um leve manto, trazendo um reluzente capacete. Percorre o azul celeste em uma corrida veloz, trazendo luz e calor para todas as partes do universo. Ao meio-dia Hélios alcança o ponto mais alto da sua trajetória, então o carro começa a descer na direção do Ocidente. Ao chegar no país das ninfas Hespérides, submerge no Oceano, onde os cavalos se banham, indo descansar na ilha dos Bem-Aventurados. Hélios reúne-se a sua família, que o espera em um barco, no qual navega toda a noite, até atingir no dia seguinte, o ponto de partida e recomeçar o vôo pelo céu.
Hélios tem a sua residência na ilha de Ea, é dono de sete rebanhos de bois e sete rebanhos de ovelhas, que segundo Aristóteles, os animais

Das lendas que envolveram o mito de Hélios, a mais famosa é a do seu filho Faetonte. Para provar a Épafo que era filho do Sol, Faetonte consegue convencer o pai a deixá-lo dirigir os quatro cavalos pelo céu. Preso a uma promessa, Hélios permite que o filho o faça. Cavalgando os céus, Faetonte perde o controle sobre os cavalos, que começam a galopar sem direção, bem próximos da terra, queimando-a e tirando a respiração dos homens. Perdidos pelos céus, os cavalos passam pela Etiópia, aproximam-se tanto dos homens que se lhe mudam a cor, passando de brancos a negros. Faetonte continua perdido pelo céu, causando grandes estragos à humanidade. Ao ver a imprudência do filho do Sol, Zeus (Júpiter), o senhor dos deuses, fulmina Faetonte com um raio, o jovem cai morto nas águas do rio Erídano. A Hélios só resta prantear o filho.
Na Grécia, o local principal do culto a Hélios era na ilha de Rodes, onde todos os anos eram celebradas as festas Helíacas, que traziam jogos, certames musicais, culminando no sacrifício de quatro cavalos atirados ao mar. Em 291 a.C. o escultor Cares fez a imagem mais popular do deus, a estátua que ficou conhecida como o Colosso de Rodes, uma das sete maravilhas do mundo antigo.
Com o tempo (a partir do século V a.C.), o culto a Hélios começou a declinar por toda a Grécia, sendo substituído por Apolo, o deus solar e da luz, que passou a ser identificado ao Sol, assumindo as suas principais características.
Selene, a Luz de Prata das Trevas

O culto à Lua é mais antigo entre as civilizações do que o culto ao Sol. O mito de Selene é anterior ao mito de Hélios. Apesar de não ter grandes cultos, os povos associavam a Lua com a fertilidade, com o crescimento das plantas, sendo responsável pela fecundidade dos humanos e dos animais.
O culto à Selene perdeu as características diante da deusa Ártemis (Diana), irmã gêmea de Apolo, deusa da caça e da castidade, assumindo também a função de deusa da Lua. Em Roma Luna era a deusa lunar, sendo cultuada em um templo construído no monte Aventino, sendo também assimilada a Diana. Selene foi associada também a Hécate, a deusa que ronda os túmulos.
A lenda que caracterizou o mito, foi a sua paixão por Endimião, o jovem pastor mergulhado em um sono eterno. Obcecado pelo desejo de agarrar a juventude eterna, Endimião pede a Zeus que lha conserve para sempre. O senhor dos deuses concede-lhe o desejo, desde que ele concorde em dormir um sono infinito. Assim, quando Endimião cansado da labuta com os animais de seu rebanho, deita-se sobre a relva para descansar um instante, é envolvido em um sono do qual jamais irá despertar. Selene, ao passar pelos campos, apaixona-se pela beleza serena daquele

Eos, a Aurora

Eos movimenta-se pelo céu conduzindo um carro púrpuro, guiado por dois cavalos, Lampo e Faetonte, que trazem arreios multicoloridos. Quando Eos passa pelo céu, o mundo, por breves minutos, enche-se de cores. O fenômeno das auroras no céu é típico apenas do hemisfério norte, daí a importância que os gregos davam a ele, como a promessa das primeiras luzes da manhã.
O mito de Eos é descrito pelos poetas como uma bela e jovem mulher de cabelos esvoaçantes, ágil e graciosa, movida de asas nos ombros e nos pés. A lenda refere-se a Aurora como uma deusa de amores intensos e fugazes, presos na inconstância dos seus caprichos. É mãe de alguns ventos e astros, frutos do seu casamento com Astreu (“o homem estrela” ou “o céu estrelado”).
O caráter inconstante de Eos teria sido provocado depois que se apaixonara por Ares (Marte), o que despertou o ciúme de Afrodite (Vênus), deusa do amor, e amante do deus da guerra. Desde então, Afrodite transformou Eos em uma criatura inquieta e atormentada por paixões efêmeras e insaciáveis. Ser amado pela Aurora significava uma maldição, pois o amado logo seria abandonado ao desespero e à solidão.
O amor de Eos por Titono, irmão do rei Príamo, de Tróia, é a lenda mais famosa do mito. Ao apaixonar-se pelo mortal troiano, Eos decidiu raptá-lo, levando-o para terras distantes da Etiópia, em um lugar próprio para os grandes amores. Para não perder o amado, pede a Zeus que o torne imortal, mas se esquece de pedir a juventude eterna. Assim, Titono envelhece como todo ser humano, mas não morre, pois se tornara imortal. A velhice consome o pobre Titono, que atravessa os séculos senil, cansado, sem forças e inútil. Titono vai definhando, até que Eos penalizada com a decrepitude do amante, transforma-o em uma cigarra.
Em épocas posteriores da cultura grega, com a chegada dos grandes filósofos e matemáticos, os grandes segredos siderais passam a ser motivos de estudos e avanços da ciência, o que eliminou o seu caráter mitológico. Com a evolução dos estudos filosóficos, o mito esvai-se, cedendo lugar à teoria e às hipóteses. As divindades siderais perdem, aos poucos os seus mistérios, enquanto que Apolo e Diana, deuses solares e lunares respectivamente, ganham espaço na literatura e no teatro grego.
