No decorrer dos séculos, três grandes religiões politeístas, com as mesmas raízes foram formadas, o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. Apontando Abraão como o pai de todas elas, cada uma, ao seu modo, elegeu a região atual da Palestina e do Estado de Israel, como Terra Santa, obrigatória na peregrinação dos seus fiéis.
Considerada sagrada por três religiões, Jerusalém sempre foi motivo da cobiça de cada uma delas, que reclamavam para si os direitos de administrá-la. A cidade sagrada esteve sob o controle dos judeus até 70 a.D., ano que foram massacrados pelos romanos, sendo levados como escravos, ou iniciando pelo mundo uma grande diáspora. Com a separação do cristianismo do judaísmo e o surgimento do islamismo, a cidade aumentou a sua importância sagrada, sendo palco constante de guerras por sua disputa. As chamadas guerras santas, originaram as cruzadas do século XI, movimento beligerante que tinha como objetivo conquistar e manter Jerusalém sob o domínio cristão. Esta guerra duraria alguns séculos.
Após a conquista de Jerusalém pelos cruzados, a peregrinação dos cristãos tornou-se freqüente na vida do homem medieval. Vindos de longe, os peregrinos eram constantemente assaltados por caravanas de sarracenos. Para proteger os peregrinos na Terra Santa, surgiu em 1119, “Os Pobres Soldados de Jesus Cristo”, que futuramente seriam conhecidos como “Os Cavaleiros do Templo de Salomão” ou simplesmente, “Os Templários”.
Com o tempo os Templários constituiriam a maior ordem religiosa e militar do mundo medieval, ajudando à expulsão dos muçulmanos da Europa, e às cruzadas, dando apoio e logística militar aos cristãos. Destemidos, os Templários alcançaram por dois séculos um apogeu em poder, riquezas e conhecimentos, o que despertou para si a cobiça e inveja de vários monarcas europeus, que passaram a ter menos poder do que os cavaleiros da ordem. Quando Jerusalém caiu novamente nas mãos dos sarracenos, os Templários foram acusados de culpados. Desgastados, passaram a ser alvo de lendas e difamações, sendo acusados de sodomia, bruxaria, heresia e escárnio à adoração da cruz e de Cristo. Perseguidos pelo poderoso rei francês Filipe IV, que os entregou à inquisição, os Templários foram presos, torturados e levados a confessar os mais hediondos crimes, sendo expropriados e queimados na fogueira. Sob pressão do monarca francês, o papa Clemente V declarou a ordem extinta em 1312. Jacques de Molay, o último grão-mestre do Templo, foi executado na fogueira em 1314.
Culpados ou não dos crimes que se lhe foram imputados, os Templários reuniram ao seu redor as mais calorosas lendas, deixaram um patrimônio arquitetônico vastíssimo por onde passaram. Os mistérios da ordem, ainda hoje, suscitam a imaginação de historiadores, escritores e leigos.
O Monte do Templo
Na virada do primeiro milênio antes de Cristo, David, rei dos judeus, descendente de Abraão, conquistou Jerusalém aos jebuseus. No local próximo às imediações do afloramento da rocha onde Abraão teria feito os preparativos para o sacrifício do seu filho Isaac, no monte Moab, existia uma eira de propriedade do jebuseu Onã. Por ordem de Deus, o rei David comprou-a para que ali se erguesse um templo para abrigar a Arca da Aliança. Um grande Templo seria erguido no local pelo rei Salomão, filho de David, em 950 a.C.
Conhecido como o Templo de Salomão, este foi destruído em 586 a.C., pelos caldeus, que sob o comando Nabucodonosor, invadiram Jerusalém, fazendo os judeus escravos, levando-os para a Babilônia. A Arca da Aliança desapareceria para sempre. Os filhos de Abraão só voltariam à Palestina quando os persas conquistaram e subjugaram os caldeus, tendo a permissão do rei Ciro para voltarem e reconstruírem um novo Templo, em 516 a.C. O segundo Templo foi aumentando por Herodes, alcançado o seu apogeu arquitetônico. Foi deste Templo que Jesus Cristo expulsou os infiéis, tornando-o assim, sagrado para os cristãos. Em 70 d.C., o segundo Templo seria totalmente destruído pelos romanos, como propósito de esmagar uma grande rebelião dos judeus, que a partir de então, deixaram a Palestina, iniciando uma grande diáspora pelo mundo antigo. No monte do Templo, no ano de 135, foram erguidos santuários a Zeus e ao imperador romano Adriano. Com a conversão de Roma ao cristianismo, no século IV, os templos pagãos foram abandonados ou destruídos. Bizâncio, cidade estratégica entre a Europa e o Mar Negro, foi rebatizada com o nome de Constantinopla, tornando-se a capital do império romano do oriente. Jerusalém e o restante da Palestina ficariam sob a jurisdição da cristã Constantinopla.
Com o surgimento do islamismo, no século VII, Jerusalém passaria a ser considerada cidade santa do islã. Maomé, o profeta fundador do islamismo, era descendente de Ismael, filho de Abraão e da escrava Hagar. Em 620, o profeta teve uma visão, na qual cavalgava um corcel celestial, ao lado do anjo Gabriel, até o monte do Templo, em Jerusalém, para reunir-se a Abraão, Moisés e Jesus, ascendendo ao trono de Deus, passando pelos sete céus. Quando Maomé morreu na Arábia, em 632, os seus seguidores viram na visão do profeta a sua transfiguração aos céus, fazendo assim, a cidade de Jerusalém sagrada ao islamismo.
O cristianismo consolidou-se por todos os reinos da Europa, só vindo a ser ameaçado pela expansão do islamismo, que chegou à península Ibérica, dominando-a por
As Cruzadas

Enfraquecido, o império Bizantino pede ajuda ao ocidente. Diante da ameaça de uma expansão islâmica, de uma possível repressão turca aos peregrinos cristãos à Terra Santa, o ocidente decide ajudar os irmãos bizantinos. Em 1095, o papa Urbano II convoca o concílio de Clermont, no qual exorta todos os reis cristãos e toda a população a libertar a Terra Santa dos “infiéis” sarracenos, devolvendo Jerusalém à soberania cristã. A multidão presente ao concílio fica eufórica, aceitando de imediato o desafio de libertar Jerusalém.
A primeira caravana partiria em 1097. Contando com o apoio de toda a população cristã, homens que levavam como símbolo uma cruz vermelha sobre as suas roupas, seguiram rumo ao oriente, com o objetivo de libertar a Terra Santa. As cruzes vermelhas nas roupas e nas bandeiras fizeram com que esses exércitos ficassem conhecidos como “cruzados”. Assim, as cruzadas foram iniciadas, tornando-se um movimento que atraía jovens em busca não só da santidade dos lugares sagrados, mas também de fortunas diante das pilhagens que se sucediam pelo caminho.
Após uma longa viagem e intensas batalhas, em 7 de junho de 1099 o exército cruzado levantou acampamento diante dos muros de Jerusalém. Na noite de 13 de julho teve início o assalto à cidade. Após alguns dias de batalha, o cruzado Tancredo e os seus cavaleiros normandos, lutaram com os muçulmanos, abrindo caminho até o monte do Templo, tomando a Cúpula da Rocha, pilhando os seus tesouros. Derrotado, o governador muçulmano Iftikhar e a sua guarda pessoal, entregou a cidade a Raimundo de Toulouse, em troca do tesouro da cidade e de um salvo-conduto que lhe permitisse sair com o seu séquito de Jerusalém. Feitas as negociações, os muçulmanos que restaram, refugiados na mesquita de al-Aqsa, foram todos mortos. Os judeus refugiados na sinagoga foram queimados dentro dela, incendiada pelos cruzados. Graças aos cruzados, Jerusalém estava novamente sob o comando dos cristãos.
Surge a Ordem do Templo

Mesmo estando sob o comando dos cristãos, Jerusalém era cercada por mercenários muçulmanos que atacavam os peregrinos pelas estradas, roubando-os e causando-lhes suplícios físicos. Diante do problema, Hugo de Payns e o cavaleiro Godofredo de Saint-Omer propuseram ao rei Balduíno II a criação de uma organização de cavaleiros que seguiriam a regra de uma ordem religiosa, e que se devotariam a proteger os peregrinos. A regra religiosa que seguiriam seria a de Agostinho de Hipona, adotada pelos cônegos da Igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém.
Balduíno II e o patriarca de Jerusalém, Warmund de Picquigny, aprovaram a proposta. No dia de natal de 1119, Hugo de Payns e outros oito cavaleiros, entre eles Godofredo de Saint-Omer, Payen de Montdidier, Geoffroy Bissot, Archambaud de Saint-Aignan e Rossal (ou Rolando), fizeram votos de pobreza, castidade e obediência perante o patriarca na Igreja do Santo Sepulcro. Os cavaleiros chamaram a si mesmos de “Os Pobres Soldados de Jesus Cristo”, não ostentando a princípio um hábito, usando simplesmente as suas roupas seculares. Balduíno II e Warmund de Picquigny proporcionaram aos cavaleiros benefícios que lhes possibilitavam uma boa renda. O rei deu-lhes para viver a mesquita de al-Aqsa, que a esta altura, tinha sido transformada em um palácio, situado no lado sul do monte do Templo, local que os cruzados chamavam Templum Salomonis (Templo de Salomão). Por habitarem neste sítio, vieram a ser conhecidos sucessivamente como “Os Pobres Soldados de Jesus Cristo e do Templo de Salomão”, “Os Cavaleiros do Templo de Salomão”, “Os Cavaleiros do Templo”, os “Os Templários” ou ainda, “O Templo”.
Em janeiro de 1129, Hugo de Payns

Com o passar do tempo, fundiram-se as habilidades militares com a vocação religiosa. Os Templários mediante a grandes doações, passaram a sustentar-se por uma grande fortuna e um amplo poder sobre o mundo cristão. A estrutura da ordem foi organizada por uma hierarquia que abrigava de sacerdotes a soldados. Nobres deixavam a vida secular para integrarem a ordem, transferindo para ela as suas fortunas.
O Declínio dos Templários

As sucessivas derrotas sofridas pelos cruzados no século XIII, culminando com a volta de Jerusalém ao domínio muçulmano, enfraqueceu o prestígio da ordem. O desgaste com os reveses das guerras, o imenso poder da ordem, a sua fortuna, os princípios trancados secretamente, tudo suscitou um isolamento, despertando sobre os Templários a ira de alguns monarcas, e a vontade desses recuperarem o poder diante da igreja e do mundo cristão.
Torturados e Queimados nas Fogueiras

Filipe IV tinha em mente levar o poder e glória da França além do mediterrâneo, organizando uma cruzada sob as suas ordens que recuperasse de vez a Terra Santa. Mas para isto, teria que limitar o poder das ordens religiosas militares. Para isto, convenceu Clemente V a fazer a fusão das ordens do Templo e do Hospital, sendo ele o comandante da nova ordem resultante da fusão. O grão-mestre do Templo, Jacques de Molay, opôs-se à fusão, recusa que resultou no seu fim e no fim da própria ordem.
Diante da recusa do grão-mestre, o rei francês iniciou um processo de difamação dos Templários, fazendo espalhar por todas as terras cristãs as mais infames acusações contra os templários. Panfletos anônimos eram impressos e espalhados, eles traziam ataques aos Templários e ao próprio papa, que os defendia. Entre as difamações disseminadas, estavam as acusações de que a ordem entregara-se à adoração do diabo; aos iniciados seria dito que Jesus Cristo era um falso profeta, crucificado para punir os próprios pecados, não para redimir o mundo; aos iniciados era ordenado que negasse Cristo, escarrasse, pisasse e urinasse em uma cruz; o postulante era obrigado a beijar o templário que o recebera na boca, no umbigo, nas ancas, na base da espinha dorsal e no pênis; teriam que ter relações sexuais entre si, sendo espancado caso recusasse; em cerimônias secretas, eles veneravam um demônio chamado Baphomet.
As acusações horrorizaram ao povo e mesmo ao clero. Quando Jacques de Molay chegou a Paris, no dia 12 de outubro de 1307, foi preso no dia seguinte, sexta-feira 13, a mando de Filipe IV. Três semanas antes, o rei tinha enviado ordens secretas a seus súditos, ordenando a prisão de todos os membros do Templo em seus reinos. Quinze mil cavaleiros foram presos em toda a França em um único dia, sendo entregues à inquisição, submetidos a torturas. Sofrendo com as mais torpes torturas, em janeiro de 1308, 134 dos 138 Templários presos em Paris tinham admitido algumas ou todas as acusações feitas contra eles, entre os confessos, estava o próprio Jacques de Molay.
Mas os Templários estavam diretamente sob o julgo do papa, não podendo ser entregues à inquisição ou às ordens de um rei, sem que fosse autorizado pelo sumo sacerdote. Assim, Clemente V tirou os Templários das mãos da inquisição. Ao se ver livre das torturas, Jacques

Mas o estrago na ordem e na sua idoneidade diante dos cristãos já tinha sido feito de forma indelével. Pressionado, Clemente V, em acordo com Filipe IV, decidiu em novembro de 1309, reunir uma comissão para ouvir novamente os acusados Templários. Em 1310, a decisão de dissolver a ordem já estava selada, um concílio para este fim foi convocado para outubro, mas teve que ser adiado por um ano, porque a comissão não havia apresentado um relatório. Nos reinos fora da França, havia uma certa resistência ao fim da ordem. Para justificar este fim, em março de 1311, Clemente V ordenou ao arcebispo de Tarragona e ao bispo de Valência que usassem a tortura para extrair confissões dos Templários. Em 16 de outubro de 1311, após um ano de atraso, um concílio da igreja reuniu-se em Vienne, cidade junto ao Ródano. No dia 3 de abril de 1314, Clemente V leu a bula Vox in excelso, que abolia a Ordem do Templo. A sua extinção propagou-se por toda a Europa, os seus bens e fortuna foram diluídas em outras ordens. No dia 18 de março de 1314, Jacques de Molay, o último grão-mestre dos Templários, então um velho com mais de setenta anos, em julgamento, pronunciou-se inocente, e inocentando também a ordem, mesmo sabendo que ao agir assim, terminaria na fogueira. Ao lado de Geoffroy de Charney, foi conduzido no fim da tarde a Île-des-Javiaux, uma pequena ilha no rio Sena, sendo ambos amarrados a um poste e queimados. De noite, frades do mosteiro agostiniano situado à beira do Sena, recolheram os ossos carbonizados dos dois templários como se fossem relíquias de santos.
Mais tarde foi dito que antes de morrer, Jacques de Molay lançou um último desejo a Clemente V e a Filipe IV, convocou-os a comparecer diante do tribunal de Deus antes que o ano terminasse. Clemente V morreu pouco mais de um mês, no dia 20 de abril. Filipe IV, seguiu-o para o túmulo no dia 29 de novembro do mesmo ano, depois de um acidente durante uma caçada. Estava cumprida a maldição de Jacques de Molay, o último dos Templários.
Grão-Mestres da Ordem do Templo
1119-1136 – Hugo de Payns

1137-1149 – Roberto de Craon
1149-1152 – Everardo de Barres
1152-1153 – Bernardo de Trémélay
1153-1156 – André de Montbard
1156-1169 – Bertrand de Blanquefort
1169-1171 – Filipe de Nablus
1171-1179 – Odon de Saint-Amand
1180-1184 – Arnoldo de Torroja
1185-1189 – Gérard de Ridefort
1191-1193 – Roberto de Sablé
1194-1200 – Gilberto Erail
1201-1209 – Filipe de Plessiez
1210-1219 – Guilherme de Chartres
1219-1232 – Pedro de Montaigu
1232-1244 – Armando de Périgord
1244-1247 – Ricardo de Bures
1247-1250 – Guilherme de Sonnac
1250-1256 – Reinaldo de Vichiers
1256-1273 – Tomás Bérard
1273-1291 – Guilherme de Beaujeu
1291-1293 – Teobaldo Gaudin
1293-1314 – Jacques de Molay (gravura)