Terça-feira, 28 de Julho de 2009

LENDAS LUSITANAS

 

 

Portugal é o país mais ocidental da Europa, sendo também um dos mais antigos em suas fronteiras. A conquista do território foi feita aos muçulmanos (chamados de mouros), que dominaram a península Ibérica por quase mil anos. Antes da formação da nação portuguesa, vários povos habitaram o lugar, entre eles os lusitanos, pescadores e camponeses primitivos, que enfrentaram bravamente o domínio e a opressão dos romanos.
Sendo um país tão antigo, foram muitas as lendas que se criaram para contar tão extensa história. Lendas medievais, lendas ainda mais antigas; chegaram aos nossos dias as mais belas narrativas que contam a saga de um povo e da sua nação, formadora de uma cultura lingüística que se estendeu pelos quatro cantos do mundo. Da antiga Lusitânia ao Portugal de hoje, chaga-nos um acervo de personagens maravilhosas, algumas trazidas das páginas de Homero, outras do imaginário medieval, das páginas cantadas pelos trovadores.
Olisipo, a Cidade de Ulisses” é uma das lendas mais cultivadas pelo povo português. É a história da fundação de Lisboa, que segundo a tradição lendária, teria sido feita pelo herói homérico Odisseu (Ulisses), que na sua trajetória errante após o fim da guerra de Tróia, perder-se-ia por vinte anos pelos mares europeus. O herói grego teria atravessado as Colunas de Hércules (Estreito de Gibraltar), alcançando a desembocadura do rio Tejo, deparando-se com o reino de estranhas criaturas metade mulheres, metade serpentes. Olisipo, a cidade mítica de Ulisses, seria mais tarde Lisboa, a bela capital portuguesa.
A Dama Pé de Cabra” resgata o período de conquista das terras lusitanas aos muçulmanos, chamados de mouros. A luta por esta conquista foi sangrenta, o que fazia o povo cristão a sentir que efetuava uma guerra santa, cada mouro morto por sua espada, significa recompensa na terra e nos céus medievais. Esta lenda traz a figura do diabo, tão temida e tão comum no cotidiano do homem medieval. Entre as guerras e os medos dos demônios, surgia uma nação jovem, cristã e destinada à expansão através do mundo.
O Galo de Barcelos” retrata um dos símbolos mais populares de Portugal. Várias são as versões da lenda, mas todas elas remetem para um único final: a ressurreição de um galo assado, que com o seu canto vivo efetuaria a justiça e repararia a injúria diante dos injustiçados. É uma lenda sucinta, mas com forte teor de se ver através dela o cumprimento de todas as leis, fundindo-se entre as leis sacras e as leis dos homens, tornado-se um uno inquestionável.
Três lendas de beleza universal, que nos remete para diversos momentos de uma história imaginária e repleta de aventuras seculares, que fariam dos lusitanos grandes navegadores e descobridores de mundos diversos, infinitos aos olhos humanos.


Olisipo, a Cidade de Ulisses

Há muito tempo atrás, em um ponto remoto do calendário, existia um promontório que recebia o desembocar do Tejo. Era um reino inóspito, muito além das Colunas de Hércules, conhecido pelo nome de Ufiusa, a terra das serpentes. Este reino formado por serpentes, tinha como rainha um estranho ser, metade mulher, metade serpente, que trazia um rosto belíssimo, dona de um olhar feiticeiro e de uma voz quase de criança.
Senhora absoluta do seu reino, a rainha mulher-serpente costumava visitar o alto de um monte e gritar ao vento as palavras que ecoavam por todo o Tejo:
-Este é o meu reino! Só eu governo aqui, mais ninguém! Nenhum homem atrever-se-á pôr aqui os pés. Ai do que ousar! As minhas serpentes não o deixarão respirar um só minuto!
Assim correram os anos. Até que um dia surgiu errante, com os ventos, o grego Ulisses (Odisseu). O rei da Ítaca, herói da Tróia destruída, tão logo terminara a guerra, por um capricho dos deuses, navegava perdido pelo Mediterrâneo sem fim. Um dia os barcos de Ulisses foram soprados para muito além das Colunas de Hércules, vindo a entrar pela desembocadura de um imenso rio ao qual chamavam de Tejo, aportando no reino de Ufiusa. Tão logo chegou àquelas terras, o grego deslumbrou-se com a sua beleza, com a suavidade das suas brisas, o sabor das suas frutas e o gosto doce das águas do Tejo. Ofuscado por tanta beleza, Ulisses reuniu os seus homens, declarando potente a todos eles:
-Aqui, onde a natureza mostra-se tão pródiga, edificarei a mais bela cidade do mundo! Dar-lhe-ei o meu nome... será Ulisseia, capital das belezas do mundo!
Assim foram edificados os primeiros alicerces da sua cidade. Mas a terra que tanta beleza trazia aos olhos do grego, mostrou-se traiçoeira diante das serpentes que deslizavam por elas. Muitos dos homens da tripulação tombaram envenenados por picadas das serpentes, outros desapareciam, vitimados por armadilhas traiçoeiras. Cada vez mais o inimigo oculto ladeava Ulisses. Diante de estranhos inimigos, o valente rei da Ítaca clamou:
-Por todos os deuses do Olimpo, eu vos desafio, inimigo invisível e traiçoeiro. Aparecei das sombras, mostrai a vossa face e desafiai-me corpo a corpo!
Mas o inimigo continuou oculto, Ulisses só continuava a ouvir os silvos das serpentes, que vinham como uma sinfonia noturna. Assim o perigo rondava Ulisses e os seus homens, que cada vez mais tombavam envenenados. Irritado, Ulisses bradou com todas as suas forças:
-Traiçoeiro inimigo, podeis tentar tudo o que quiserdes, mesmo assim não abandonarei esta terra sem aqui deixar a mais famosa cidade edificada que se tenha notícia!
Foi então que a rainha das serpentes, profundamente atraída pelo valente guerreiro, revelou-se a ele. Surgiu do disfarce de uma rocha, com a sua voz de criança e formosura na sua face de mulher, escorregadia na sua metade serpente.
-Bem vindo ao reino das serpentes, conhecido por Ufiusa! Sois valente e ousai a enfrentar aos súditos deste reino, do qual sou a rainha soberana e absoluta!
Ao ver a revelação da rainha, Ulisses apercebeu-se da face do misterioso inimigo, finalmente revelada. Uma vez revelado-lhe o inimigo, o grego já não o temia. Viu na voz doce da mulher o sibilar das serpentes, refletida no olhar amargo.
Já apaixonada por Ulisses e por sua valentia, a rainha percebeu que a sua rendição não iria acontecer. Não mais esperava por ela, pelo contrário, decidira que queria o guerreiro para sempre em seus reinos.
-Durante dias esperei por vossa rendição. A vossa coragem foi superior, o que atraiu a minha admiração! Sei do vosso sonho de aqui edificardes uma cidade! Pois bem, eu vos permito a realização desse sonho, com uma condição: a de cá ficardes para sempre!
Enigmático, Ulisses sorriu-lhe, sem jamais lhe dar uma resposta com palavras, meneando a cabeça, como se concordasse. Com o consentimento da rainha das serpentes, Ulisses passou a edificar a sua cidade, erguendo-se jardins, casas e ruas. As serpentes já não atacavam os homens, que cada vez mais ali aportavam. Enquanto os homens trabalhavam, as mulheres serpentes cantavam para que a labuta lhes fosse mais suave.
Erguida a cidade de Ulisses, que passou a ser conhecidas como Olisipo, uma brisa suave inundou tão soberba obra. Mas o coração de Ulisses pertencia a Ítaca e a Penélope, a sua mulher, que há muitos anos esperava por sua volta. Assim, mesmo deslumbrado com a sua obra, o grego só pensava em partir, navegando até que aportasse na sua terra natal. Mas a paixão da rainha serpente impedia que Ulisses partisse, tornando-o prisioneiro da sua própria cidade.
Sabendo-se prisioneiro da rainha, Ulisses encheu-se dos mais falsos carinhos e de amor ardente e traiçoeiro, enquanto desenhava o seu plano de fuga. Por fim chegara a noite da tão esperada fuga. Combinara buscar a rainha para um passeio ao luar. Em vez de comparecer ao encontro, Ulisses enviou um dos seus homens, que tinha a mesma estatura do que ele e ao longe, poderia ser confundido com ele. Assim, enquanto Ulisses fugia navegando pelas águas do Tejo em direção ao Oceano, o seu fiel companheiro, muito bem disfarçado, foi buscar a rainha, levando-a para longe do rio.
Durante o passeio, só a rainha falava, mostrava para o companheiro o futuro da sua Ulisseia, ou Olisipo. De repente a mulher inquietou-se com o silêncio do amado. Ao olhar para aquele que estava ao seu lado, percebeu que os olhos eram outros. Ao perceber o engano, a rainha soltou um grito de indignação. Ao ver-se traída, furiosa, ela mordeu o impostor, envenenando-o com a sua peçonha. Antes de morrer, o infeliz murmurou que o seu amo já deveria ir longe, a navegar pelo grande Mar Oceano, rumo às terras gregas.
Desesperada, a rainha tentou ir além de todas as suas forças, estendendo-se sobre a cidade de Ulisses, na ânsia asfixiante de alcançar o mar. Foi tamanho o seu esforço de alcançar o amado, que onde ela estendeu o corpo de serpente, das suas contorções desenhou-se sete colinas sobre Olisipo. Mas Ulisses já estava longe, e a infeliz rainha não resistiu, morreu após tamanho esforço.
Sem a sua rainha, as serpentes fugiram da cidade. No antigo reino de veneno e morte, ficou edificada altaneira, a cidade de Ulisses, erguida sobre as suas sete colinas. Ulisses jamais retornou, mas Olisipo tornou-se a principal cidade às margens do Tejo. Muitos anos mais tarde a cidade de Ulisses passou a ser conhecida como Lisboa.

A Dama Pé de Cabra

Esta história é do tempo que os cristãos lutavam com os mouros pelo domínio do oeste da Ibéria e pela formação do reino cristão de Portugal. Dom Diogo era um bravo cristão que tinha como missão a expulsão dos mouros daqueles reinos. Destemido e arrojado, o fidalgo gostava de montar o seu cavalo branco e sair pelos bosques e montes a caçar veados, javalis, lobos e ursos. Fizesse sol ou chuva, fosse inverno ou verão, lá estava o inquieto fidalgo longe do seu castelo, em caças perigosas a animais silvestres ou aos mouros infiéis.
Foi a perseguir um javali em um monte agreste e coberto de silvas espinhentas, que o valente fidalgo um dia deparou-se com o mais belo canto que já ouvira. O canto ecoava pelo ar, fazendo que o javali ficasse manso e esperasse pela sua lança, como se encontrasse a redenção. Embriagado por tão bela e aguda voz, dom Diogo correu com os olhos em direção a um pedregulho que se lhe aparecia à frente, ao cimo encontrava-se, sentada, a mais formosa das mulheres. O coração do fidalgo disparou. Aproximou-se da mulher e perguntou:
-Quem sois vós, encantadora senhora? Quem sois vós que me cativou com o vosso belo canto?
Ela riu, do riso saltava-lhe a mais bela feição, rimando com o olhar vindo de duas contas cristalinas, seus cabelos dourados dobravam-se ao vento, sua face gentil reluzia o dia de sol, suas mãos brancas traziam uma pele macia como a neve.
-Sou uma dama tão nobre quanto sois vós.
Ao ouvir-lhe as palavras, dom Diogo não se conteve, aproximou-se com o coração a arfar-lhe cada mais, descompassado de amor.
-Formosa senhora, se casardes comigo, ofereço-vos as minhas terras e os meus castelos, além do meu coração que já vos pertence!
-Guarda as tuas terras que precisas para cavalgar a tua inquietude da alma.
-Que posso oferecer-te então para que sejas minha?
Numa malícia que se traduzia em constrangimento, a mulher baixou a cabeça, a demonstrar um fulgurante pudor. A olhar com um encanto de serpente para o homem, pronunciou as palavras com a mais doce das vozes:
-A única coisa que me interessa, não ma podes dar, porque foi um legado da tua mãe.
-E seu te amar mais do que à minha própria mãe?
-Então tens de jurar que não tornas a fazer o sinal da cruz que ela te ensinou quando eras pequeno.
Por alguns instantes, dom Diogo hesitou ante tão estranho pedido, que lhe pareceu coisa do diabo. Olhou-a com estranheza, mas ao deparar-se com tamanha beleza, com aquele sorriso tão puro, afastou as dúvidas e os pensamentos obscuros. Já se apaixonara irreversivelmente por ela. Questionou-se para que serviam as benzeduras? Chegou à conclusão que se deixasse de benzer, continuaria a ser o mais puro dos cristãos. Para compensar esta omissão, decidiu que mataria duzentos mouros e todos os pecados ser-lhe-iam perdoados.
-Que assim seja, minha amada!
Movido pela paixão, arrebatou-a nos braços, esporeou o cavalo e partiu a galope para o castelo. À noite, quando se deitaram, embriagados de amor, dom Diogo apercebeu-se que a dama tinha pés de cabra. Mas o seu coração apaixonado não deu importância àquele defeito, pois o corpo da amada era esbelto, esguio, os cabelos eram lisos e perfumados, a pele fina como a seda.
Durante alguns anos o casal viveu em paz, felizes e apaixonados. Da união nasceu um menino que chamaram Inigo, e uma menina que deram o nome de Sol. Assim correram os anos, Diogo continuou inquieto em suas caças, mas com a certeza que ao final delas, encontraria a paz que precisa nos braços da amada e no aconchego da família.
Numa noite, durante a ceia, Diogo reparou que o seu melhor cão de caça dormitava junto à lareira, enquanto que uma feroz cadela, pertencente à mulher, andava inquieta de um lado para o outro, com um rosnar estranho. Por algum motivo dom Diogo não gostava da cadela. Para afrontá-la, pegou um grande pedaço de osso, atirou-o para junto do focinho do cão que se encontrava próximo à lareira, e disse:
-Toma lá tu, Silvano, valente caçador, precisas te alimentar. À cachorra não dou nada, porque não pára quieta!
Satisfeito e agradecido, Silvano abocanhou tão generoso osso, mas não teve tempo de comê-lo, pois a fúria da cadela fez com que se atirasse ao cão, abocanhando-lhe mortalmente a garganta. Ao ver o seu cão preferido morto no chão, dom Diogo levantou-se furioso, entornando o vinho sobre as tábuas. Com a ponta da bota, virou o corpo do cão e viu a sua garganta dilacerada.
-Maldita cadela! Por minha fé cristã, jamais vi coisa assim! Por cá andam artes de Belzebu...
Ao dizer tais palavras, dom Diogo esqueceu-se do juramento que fizera à mulher alguns anos antes, benzendo-se repetidas vezes. Foi quanto bastou para que a mulher emitisse urros pavorosos. Aos olhos apavorados de dom Diogo, a mulher parecia desmanchar-se em outra, a pele branca e sedosa tornou-se áspera e negra, os olhos reviraram, a boca ficou torta. A mulher tornara-se um animal horrendo, que se erguia no ar, leve como uma pena. Debaixo do braço esquerdo levava a filha, dona Sol, o braço direito alongava-se para o filho.
-Santo Deus! Jesus Cristo! – Bradava o fidalgo. – A minha mulher é o diabo!
Antes que o braço direito da mulher alcançasse Inigo, o fidalgo agarrou o filho e fez vários sinais da cruz. A mulher soltou um último e horripilante grunhido, desaparecendo de vez por uma fresta próxima ao teto, levando consigo a menina. Desde àquela noite, ninguém no castelo tornou a pôr os olhos em cima da mãe, da filha e da cadela. Desapareceram entre as artes mágicas.
Mesmo a saber que a mulher talvez fosse o diabo, dom Diogo Lopes sofreu a dor da sua perda, vivendo muito tempo cabisbaixo, triste e aborrecido com a vida. Para esquecer a dor que sentia no coração, decidiu partir para a guerra. Entregou ao filho Inigo o governo dos castelos. Os servos desenferrujaram-lhe as armas, preparando-lhe o cavalo. Partiu assim, para lutar contra os mouros e ajudar na formação do reino cristão de Portugal.

O Galo de Barcelos

Há muitos anos, em tempos remotos, aconteceu em Portugal um crime de morte, que, por mais minuciosas investigações feitas, jamais se descobriu o assassino.
Tempos depois, quando tudo parecia já estar esquecido, surgiu na povoação de Barcelos um galego peregrino, que se dirigia para Santiago da Compostela. Diante da figura do romeiro, alguém levantou perante as autoridades uma questão, aquele homem era o autor do crime há tempos ali acontecido. Diante da acusação, houve quem garantisse que o romeiro estivera no local do crime no dia do assassínio. De frente com as evidências, as autoridades deram o caso como solucionado, aprisionado o romeiro.
Mesmo diante de grande tortura e suplício, o galego afirmou-se sempre inocente. Mas todas as evidências e coincidências apontavam o homem como o verdadeiro assassino. Sem provas que lhe garantissem a inocência, foi julgado e condenado à morte, através da forca.
Finalmente chegara o dia do suplício do pobre homem, que jamais deixou de jurar estar alheio e inocente ao crime. Tudo em vão! No meio do povoado erguera-se a forca. Como último desejo, o infeliz pediu que fosse levado à presença do juiz. O malogrado romeiro foi encontrar o juiz em uma grande ceia, ladeado de vários amigos e admiradores. Diante do juiz e de todos os presentes, o galego voltou a afirmar a sua inocência, pedindo pela fé cristã que dele tivessem misericórdia e que o não enforcassem. Mas o magistrado, homem que aprendera as leis em Salamanca, apesar de ficar confuso diante da veemência com que o infeliz proclamava-se inocente, nada pôde fazer, pois já acontecera o julgamento e a condenação à morte, portanto era preciso que se cumprisse a sentença.
Vendo que todos faziam escárnio das suas palavras, e continuavam a comer e a beber; o pobre galego, a olhar para um frango assado em cima da mesa do magistrado e dos seus amigos; clamou para São Tiago, o santo que iria visitar quando fora interrompido em sua romaria:
-Oh São Tiago, sabeis que estou tão inocente que, antes de morrer, esse galo que está em cima da mesa, morto e assado, cantará!
Todos riram das palavras de clamor do galego. O magistrado ordenou que o condenado fosse levado à forca e que se cumprisse à sentença. Assim foi feito. Passado o mal estar, todos continuaram a comer e a beber normalmente. Por uma estranha superstição, ninguém ousou a tocar no galo assado que indicara o sentenciado. Todos estavam ansiosos para que se desfechasse o suplício do galego, cumprindo-se finalmente, a justiça.
De repente, diante do espanto geral de todos os presentes, o galo assado passou a ter penas, transformando-se em uma bela ave, tão viva quanto eles, que passou a cantar alegremente!
O espanto foi geral. O juiz e os seus convidados correram ao local que se erguera a forca. Encontraram o galego suspenso no ar, com a corda no pescoço solta. Com grande espanto, descobriram que ele ainda estava vivo! Imediatamente libertaram o supliciado, deixando que ele seguisse viagem até Santiago da Compostela, para que cumprisse a sua promessa de romeiro.
Meses depois, o galego regressou da sua romaria, já com a promessa cumprida. Em sinal de agradecimento aos que atestaram a sua inocência, mandou que se erguesse um padrão, tendo de um dos lados São Paulo e a virgem, o sol, a lua e um dragão. Do outro lado o Cristo crucificado, um galo e São Tiago sustentando um enforcado! A justiça fora feita através do canto do galo ressuscitado, que se tornaria o símbolo de Barcelos.
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