Milênios antes de o homem estudar a ciência da vida, as religiões explicaram de forma mística a criação da terra, da vida e da humanidade, numa resposta direta à imensa interrogação que se faz sobre o espaço humano dentro do universo, e a sua existência perecível, na eterna luta da vida e da morte. Se nos conceitos judaico-cristãos, Deus é único e supremo criador do universo e do homem, a religião da Grécia antiga via em Prometeu, um Titã da segunda geração, o criador da humanidade.
Feito para viver no jardim do Éden, Adão é a imagem do criador, ser inteligente e livre para escolher o seu caminho. Se no Gênesis o primeiro homem é feito do barro, na mitologia grega também. Prometeu esculpiu o homem do barro misturado com as suas lágrimas. Adão é feito à imagem de Deus, também o homem de Prometeu é feito à imagem de uma divindade. Se Adão é único, e da sua costela surge a mulher, com quem vai procriar, Prometeu maravilha-se com a sua obra e esculpi outros tantos homens, cada um à imagem das divindades. A sua obra, ao contrário da do Deus dos judeus, não é perfeita, pois esses homens são desprovidos de uma inteligência que lhes construísse uma identidade da alma. São seres silvícolas e sem vontade ou pensamento. É preciso que Atena (Minerva), deusa da sabedoria, jogue sobre a criação de Prometeu gotas do néctar divino, para que eles possuam uma alma, e quando a adquirem, não sabem o que fazer com ela.
Se Deus dá a sabedoria divina para Adão por amor à criação, Prometeu rouba o fogo dos deuses, o símbolo da sabedoria humana, não por amor, mas por vingança aos deuses. Instigado por Eva, Adão come o fruto da sabedoria e perde o Éden, também uma mulher, Pandora, será quem trará na sua caixa todos os males do mundo, abrindo-a para a humanidade, que perde a superioridade intelectual alcançada quando a consciência humana, através do conhecimento do fogo, é libertada da submissão aos deuses. Portadores de todos os males da caixa de Pandora, os homens voltam aos deuses, rogando-lhes boa colheita, boa saúde e boa morte.
Os mitos de Prometeu e Pandora, antagônicos, mas unidos através da concepção da criação humana, representam o homem, ser pensante e inteligente (por parte de Prometeu) e às limitações do seu corpo, exposto aos males físicos e intelectuais (herança de Pandora), que os fazem finitos diante da imortalidade dos deuses.
Paz Entre os Deuses no Reinado de Zeus
Para a cultura judaico-cristã, Deus criou a terra, os animais e por fim o homem. Para os gregos antigos, a criação do mundo deu-se com uma explosão de vida dentro do Caos, que originou Gaia, a Terra, e Eros, o amor. Gaia concebeu Urano (Céu), com quem se uniu e jamais deixou de conceber, sendo os seus filhos os responsáveis pelas forças indomáveis da terra, como os vulcões, os terremotos e os maremotos. É da união entre Gaia e Urano que nascem os Titãs (doze irmãos que ajudam o pai a governar o mundo). Cronos (Saturno), o deus do tempo, o mais poderoso dos titãs, revolta-se contra o pai, Urano, amputando-lhe os testículos, destronando-o da sua força genetriz, tornando-se o novo senhor dos deuses. Sendo o deus que tudo devora, sem encontrar um equilíbrio, também Cronos será destronado por um de seus filhos, Zeus (Júpiter). Ao destronar o pai, Zeus torna-se o senhor absoluto dos deuses, através dele o mundo organiza-se, é a vitória da ordem sobre a desordem. Zeus estabelece o princípio divino da espiritualidade e reinará os deuses e o mundo do alto do Olimpo. Organizado os deuses, falta a humanidade para servi-los e adorá-los.
Na luta pelo poder, Zeus travou uma guerra de dez anos contra os Titãs e os Gigantes. Vencidos, eles foram aprisionados no interior da terra. Um dos Titãs, Iápeto uniu-se à filha de Oceano, Ásia, com quem teve Atlas, Menécio, Prometeu e Epimeteu, formando a segunda geração de Titãs. Na luta dos Titãs contra Zeus, quando por ele derrotados, Atlas teve por castigado ter que carregar o mundo nas costas, enquanto que Menécio foi aprisionado para sempre no Érebo. Somente Prometeu e Epimeteu não foram castigados, por fingirem aceitar o reinado de Zeus. Mesmo a participar das assembléias olímpicas, Prometeu jamais aplacou o ódio aos deuses que humilharam os Titãs.
O Homem Surge das Lágrimas e do Ódio de Prometeu
Se a guerra sangrenta que derrotara os Titãs trouxera a paz entre os deuses e o fim das disputas entre eles, já não havia quem pudesse desafiar a nova ordem olímpica. Para que se quebrasse esta harmonia, Prometeu decidiu criar novos seres que se opusessem a ela. Molhou o barro com as suas lágrimas de ódio aos olímpicos e criou um ser à semelhança de uma divindade. Prometeu soprou a vida à escultura, chamando-a de homem. Gostou tanto da sua criação, que se pôs a esculpir um exército deles, todos inspirados em uma divindade. Das lágrimas e do ódio de Prometeu surgiram os homens.
Á criação, o Titã proveu da astúcia da raposa, da fidelidade do cavalo, da avidez do lobo, da coragem do leão e da força do touro. Mas a criação de Prometeu, apesar de bela, era feita da essência animal, apesar da aparência divina, era totalmente desprovida da essência dela, o que limitava as suas ações. Quando Atena (Minerva), viu tão sublime obra à semelhança dos deuses, mas com a essência e inteligência dos animais, encantou-se por ela. Amiga de Prometeu, a deusa da sabedoria despejou em um cálice o néctar divino, desceu para a terra e do cálice, pingou gotas sobre a criação de Prometeu. Imediatamente as criaturas perderam a essência animal, dotando-se da inteligência divina, adquirindo uma alma. Assim a humanidade, ao contrário dos animais, adquirira a alma divina, mas não a sua perenidade imortal.
Através do Fogo, Prometeu Torna o Homem Pensante
O homem criado por Prometeu adquirira uma alma, mas não sabia o que fazer com ela. O Titã queria uma raça que confrontasse e destruísse os olímpicos. Era preciso que se igualasse os homens aos deuses, era preciso que se lhes revelasse os segredos divinos e de si próprios. Cabia a Prometeu ensinar os conhecimentos universais à humanidade.
Zeus guardava o segredo do fogo distante da humanidade. O senhor dos deuses não via naquela criação que andava pelo mundo entre as trevas, qualquer habilidade que a fizesse mais especial que os outros seres viventes. Eram obedientes e servis aos deuses, o que agradava plenamente ao senhor do Olimpo.
Sabedor desta condição, Prometeu sentia cada vez mais a necessidade de organizar a alma humana. Um dia, ao andar pela terra, Prometeu pegou um pedaço de galho seco de um carvalho, voou até Hélios, o Sol, e encostou o galho no carro do deus, que se acendeu imediatamente. Prometeu tinha o fogo dos deuses nas mãos. Era o momento da sua vingança. Desceu à terra e entregou o fogo aos homens. Era o princípio da revelação da sabedoria à humanidade que se iria fazer mais inteligente e poderosa do que os deuses.
Na posse do fogo, os homens organizaram-se ao seu redor. Cozinharam os alimentos, forjaram inúmeros metais, aqueceram-se do frio no inverno, cozeram o barro para criar vasilhas onde pudessem guardar a água. A partir da descoberta da utilização do fogo dos deuses, a humanidade, orientada por Prometeu, floresceu no jardim dos seus conhecimentos. Já pouca diferença havia entre ela e os deuses.
Cada vez mais avançada nos conhecimentos, a humanidade aprendeu a fundir o ouro e a prata, a construir abrigos, arar a terra, proteger-se do frio. Já não precisa mais invocar proteção aos deuses, a sua sabedoria afrontava a cada dia o poder da divindade. A humanidade começava a ser feliz sem precisar dos deuses. Prometeu finalmente, criara aqueles que se oporiam aos olímpicos. Começara não uma guerra entre os imortais, mas entre deuses e homens. Os Titãs estavam vingados.
Pandora, a Mulher Feita do Bronze
Os deuses passam a temer os homens, que se expressam através da arte a raiva, o amor e o ódio, sem que precisem recorrer aos deuses. Tornam-se poderosos e cada vez mais independentes da presença divina. Esquecidos pelos homens, os deuses tramam uma vingança terrível, que lhes devolvam o poder usurpado e a submissão humana.
Zeus pede ao filho Hefestos (Vulcano), talentoso deus dos metais e da forja, que confeccione um homem de bronze, mas que seja diferente dos outros, para que possa encantá-los. Hefestos atende ao pedido, criando do bronze, a primeira mulher, bela e encantadora.
À mulher feita do bronze são dados vários presentes divinos. Afrodite (Vênus), deusa do amor, oferece-lhe uma infinita e sedutora beleza, além de encantos para enlouquecer os homens. Atena entrega à mulher uma túnica bordada que lhe cobre e realça a beleza harmoniosa do corpo. Hermes (Mercúrio), presenteia-lhe com a esperteza da língua, e Apolo confere-lhe uma voz melódica e suave. Está pronta a primeira mulher, que é chamada de Pandora, que significa “dotada por todos”. Ela estava pronta para ser enviada aos homens.
Zeus, antes de enviar Pandora aos homens, oferece-lhe uma caixa coberta com uma tampa. Dentro dela estão todos os germes da miséria humana. Assim, é enviada do Olimpo para os homens da Terra, a mulher, que trazia consigo a tentação, o símbolo dos desejos terrestres e todos os males do mundo.
Aberta a Caixa de Pandora
Quando chega a Terra, Pandora depara-se com Epimeteu, irmão de Prometeu. Ao ver tão bela criatura, o Titã encanta-se por sua beleza. Seduzido e apaixonado, ele recebe das mãos da bela mulher a caixa enviada por Zeus. Deslumbrado por tanta beleza, Epimeteu esquece-se da recomendação de Prometeu, que não recebesse nenhuma dádiva vindo do senhor do Olimpo, embevecido de paixão, nem desconfia do conteúdo caixa, abrindo-a prontamente. Subitamente, dela espalha-se um ar pestilento, os homens são afetados pelas doenças, pelas dores, pelo envelhecimento do corpo. Toma-lhes a alma a inveja, o rancor, a vingança. A essência humana, dantes pura e infinita, perde a inocência, tornando-se solitária e egoísta. Dentro da caixa de Pandora há um último elemento, a esperança, que ela deixa lá no fundo, ao fechá-la novamente. O homem perde o paraíso.
Pandora une-se a Epimeteu, criando uma nova geração de homens, desta vez vinda não do barro e das lágrimas de Prometeu, mas da união de um homem e de uma mulher. Os filhos desta união herdam a fragilidade da alma, as doenças, a miséria e todos os males que faz da humanidade a existência provisória diante da perenidade dos deuses.
Os deuses estão vingados. Através de Pandora destruíram a solidariedade entre eles, limitando o caminho vitorioso que percorreram até então. A conquista do fogo, que se fizera instrumento de transformação e progresso, passa a verter o seu lado destrutivo, que incendeia a alma humana.
Prometeu Acorrentado
Punida a humanidade, resta castigar Prometeu, que representava a consciência da humanidade e
a libertação da sua mente intelectual. Zeus, mais uma vez, recorre à ajuda do artesão dos deuses, Hefestos. Pede ao divino obreiro que crie correntes que não se partam, a seguir, ordena-lhe que agrilhoe Prometeu ao cimo do monte Cáucaso. Hefestos obedece ao pai, acorrentando o Titã rebelde.
Aprisionado no monte Cáucaso, Prometeu sofre ainda, com uma águia enviada por Zeus, que lhe devora o fígado durante o dia. À noite, o órgão regenera-se, mas tão logo o sol nasce, começa a ser devorado novamente pela águia.
Prometeu vive acorrentado e a ter o fígado devorado pela águia por trinta anos. Mesmo diante de tanto sofrimento e dor, jamais pede perdão aos deuses. Sua maior dor é ver a humanidade que criara, degradar-se na sua efemeridade.
Um dia o oráculo diz a Zeus que uma terrível sorte está por se lhe abater em cima, e que só Prometeu poderia revelar-lhe que maldição seria aquela. O senhor dos deuses procura o Titã acorrentado, indaga-lhe sobre o segredo. Prometeu diz só revelá-lo quando for libertado. Sem alternativa, Zeus envia Héracles (Hércules) ao monte Cáucaso para libertar o Titã. Héracles mata a águia com uma flecha e liberta dos grilhões, o mais forte dos homens. Diante de Zeus, Prometeu revela-lhe que se esposasse a bela Tétis, o filho com ela gerado iria destroná-lo, assim como fizera com Cronos. Temeroso, Zeus entrega a bela nereida a Peleu.
Perdoado, Prometeu deseja voltar para o Olimpo, mas o castigo tirara-lhe a imortalidade, ele só poderia tê-la de volta se encontrasse um imortal que consentisse em trocar de destino com ele. O centauro Quirão, ferido pela flecha de Héracles, pede a Hades, deus dos mortos, que o deixe entrar no Érebo, consentindo em trocar a sua imortalidade com Prometeu.
Novamente imortal, Prometeu reconcilia-se com os deuses, voltando para o Olimpo, de onde observa a humanidade por ele criada, agora imperfeita, mas em paz com os deuses e com as suas limitações.
Os Mitos de Prometeu e Pandora
O mito criador de Prometeu reflete a preocupação do homem com as suas origens e diante da sua inteligência impar, que o difere do restante dos seres vivos da Terra. Prometeu era cultuado em Atenas nos altares erguidos na Academia, a famosa escola filosófica ateniense. Seus altares ficavam perto dos consagrados às Musas, às Graças, a Eros e a Héracles. Nas festas das lâmpadas, as Lampadodrimias, era venerado como divindade civilizadora ao lado de Atena e Hefestos.
Prometeu significa, em grego, “pensamento previdente”, por isto o mito é visto como o representante do despertar da consciência e princípio do pensamento intelectual do homem. É o reflexo da humanidade que se quer encaminhar para a perfeição, mas que se depara com os males e limitações da sua existência, reduzida ao nada da morte.
Pandora é a imagem da primeira mulher, vista de forma depreciativa por uma sociedade patriarcal. A mulher traria na sua essência todos os males do mundo, os homens, diante da sua sedução, perdem, assim como Adão, o paraíso e a inocência solidária. Pandora é um misto de Eva de Lilith, as primeiras mulheres da humanidade judaica. Assim como Lilith, traz os males do mundo, e como Eva, gera filhos imperfeitos, resultado da punição divina diante da ambição humana. Tanto Adão, como Epimeteu, ao acolherem a sedução da mulher, exercem totalmente o poder que têm da escolha diante da fatalidade e da rebelião.
Feito para viver no jardim do Éden, Adão é a imagem do criador, ser inteligente e livre para escolher o seu caminho. Se no Gênesis o primeiro homem é feito do barro, na mitologia grega também. Prometeu esculpiu o homem do barro misturado com as suas lágrimas. Adão é feito à imagem de Deus, também o homem de Prometeu é feito à imagem de uma divindade. Se Adão é único, e da sua costela surge a mulher, com quem vai procriar, Prometeu maravilha-se com a sua obra e esculpi outros tantos homens, cada um à imagem das divindades. A sua obra, ao contrário da do Deus dos judeus, não é perfeita, pois esses homens são desprovidos de uma inteligência que lhes construísse uma identidade da alma. São seres silvícolas e sem vontade ou pensamento. É preciso que Atena (Minerva), deusa da sabedoria, jogue sobre a criação de Prometeu gotas do néctar divino, para que eles possuam uma alma, e quando a adquirem, não sabem o que fazer com ela.
Se Deus dá a sabedoria divina para Adão por amor à criação, Prometeu rouba o fogo dos deuses, o símbolo da sabedoria humana, não por amor, mas por vingança aos deuses. Instigado por Eva, Adão come o fruto da sabedoria e perde o Éden, também uma mulher, Pandora, será quem trará na sua caixa todos os males do mundo, abrindo-a para a humanidade, que perde a superioridade intelectual alcançada quando a consciência humana, através do conhecimento do fogo, é libertada da submissão aos deuses. Portadores de todos os males da caixa de Pandora, os homens voltam aos deuses, rogando-lhes boa colheita, boa saúde e boa morte.
Os mitos de Prometeu e Pandora, antagônicos, mas unidos através da concepção da criação humana, representam o homem, ser pensante e inteligente (por parte de Prometeu) e às limitações do seu corpo, exposto aos males físicos e intelectuais (herança de Pandora), que os fazem finitos diante da imortalidade dos deuses.
Paz Entre os Deuses no Reinado de Zeus

Na luta pelo poder, Zeus travou uma guerra de dez anos contra os Titãs e os Gigantes. Vencidos, eles foram aprisionados no interior da terra. Um dos Titãs, Iápeto uniu-se à filha de Oceano, Ásia, com quem teve Atlas, Menécio, Prometeu e Epimeteu, formando a segunda geração de Titãs. Na luta dos Titãs contra Zeus, quando por ele derrotados, Atlas teve por castigado ter que carregar o mundo nas costas, enquanto que Menécio foi aprisionado para sempre no Érebo. Somente Prometeu e Epimeteu não foram castigados, por fingirem aceitar o reinado de Zeus. Mesmo a participar das assembléias olímpicas, Prometeu jamais aplacou o ódio aos deuses que humilharam os Titãs.
O Homem Surge das Lágrimas e do Ódio de Prometeu

Á criação, o Titã proveu da astúcia da raposa, da fidelidade do cavalo, da avidez do lobo, da coragem do leão e da força do touro. Mas a criação de Prometeu, apesar de bela, era feita da essência animal, apesar da aparência divina, era totalmente desprovida da essência dela, o que limitava as suas ações. Quando Atena (Minerva), viu tão sublime obra à semelhança dos deuses, mas com a essência e inteligência dos animais, encantou-se por ela. Amiga de Prometeu, a deusa da sabedoria despejou em um cálice o néctar divino, desceu para a terra e do cálice, pingou gotas sobre a criação de Prometeu. Imediatamente as criaturas perderam a essência animal, dotando-se da inteligência divina, adquirindo uma alma. Assim a humanidade, ao contrário dos animais, adquirira a alma divina, mas não a sua perenidade imortal.
Através do Fogo, Prometeu Torna o Homem Pensante

Zeus guardava o segredo do fogo distante da humanidade. O senhor dos deuses não via naquela criação que andava pelo mundo entre as trevas, qualquer habilidade que a fizesse mais especial que os outros seres viventes. Eram obedientes e servis aos deuses, o que agradava plenamente ao senhor do Olimpo.
Sabedor desta condição, Prometeu sentia cada vez mais a necessidade de organizar a alma humana. Um dia, ao andar pela terra, Prometeu pegou um pedaço de galho seco de um carvalho, voou até Hélios, o Sol, e encostou o galho no carro do deus, que se acendeu imediatamente. Prometeu tinha o fogo dos deuses nas mãos. Era o momento da sua vingança. Desceu à terra e entregou o fogo aos homens. Era o princípio da revelação da sabedoria à humanidade que se iria fazer mais inteligente e poderosa do que os deuses.
Na posse do fogo, os homens organizaram-se ao seu redor. Cozinharam os alimentos, forjaram inúmeros metais, aqueceram-se do frio no inverno, cozeram o barro para criar vasilhas onde pudessem guardar a água. A partir da descoberta da utilização do fogo dos deuses, a humanidade, orientada por Prometeu, floresceu no jardim dos seus conhecimentos. Já pouca diferença havia entre ela e os deuses.
Cada vez mais avançada nos conhecimentos, a humanidade aprendeu a fundir o ouro e a prata, a construir abrigos, arar a terra, proteger-se do frio. Já não precisa mais invocar proteção aos deuses, a sua sabedoria afrontava a cada dia o poder da divindade. A humanidade começava a ser feliz sem precisar dos deuses. Prometeu finalmente, criara aqueles que se oporiam aos olímpicos. Começara não uma guerra entre os imortais, mas entre deuses e homens. Os Titãs estavam vingados.
Pandora, a Mulher Feita do Bronze

Zeus pede ao filho Hefestos (Vulcano), talentoso deus dos metais e da forja, que confeccione um homem de bronze, mas que seja diferente dos outros, para que possa encantá-los. Hefestos atende ao pedido, criando do bronze, a primeira mulher, bela e encantadora.
À mulher feita do bronze são dados vários presentes divinos. Afrodite (Vênus), deusa do amor, oferece-lhe uma infinita e sedutora beleza, além de encantos para enlouquecer os homens. Atena entrega à mulher uma túnica bordada que lhe cobre e realça a beleza harmoniosa do corpo. Hermes (Mercúrio), presenteia-lhe com a esperteza da língua, e Apolo confere-lhe uma voz melódica e suave. Está pronta a primeira mulher, que é chamada de Pandora, que significa “dotada por todos”. Ela estava pronta para ser enviada aos homens.
Zeus, antes de enviar Pandora aos homens, oferece-lhe uma caixa coberta com uma tampa. Dentro dela estão todos os germes da miséria humana. Assim, é enviada do Olimpo para os homens da Terra, a mulher, que trazia consigo a tentação, o símbolo dos desejos terrestres e todos os males do mundo.
Aberta a Caixa de Pandora
Pandora une-se a Epimeteu, criando uma nova geração de homens, desta vez vinda não do barro e das lágrimas de Prometeu, mas da união de um homem e de uma mulher. Os filhos desta união herdam a fragilidade da alma, as doenças, a miséria e todos os males que faz da humanidade a existência provisória diante da perenidade dos deuses.
Os deuses estão vingados. Através de Pandora destruíram a solidariedade entre eles, limitando o caminho vitorioso que percorreram até então. A conquista do fogo, que se fizera instrumento de transformação e progresso, passa a verter o seu lado destrutivo, que incendeia a alma humana.
Prometeu Acorrentado
Punida a humanidade, resta castigar Prometeu, que representava a consciência da humanidade e
Aprisionado no monte Cáucaso, Prometeu sofre ainda, com uma águia enviada por Zeus, que lhe devora o fígado durante o dia. À noite, o órgão regenera-se, mas tão logo o sol nasce, começa a ser devorado novamente pela águia.
Prometeu vive acorrentado e a ter o fígado devorado pela águia por trinta anos. Mesmo diante de tanto sofrimento e dor, jamais pede perdão aos deuses. Sua maior dor é ver a humanidade que criara, degradar-se na sua efemeridade.
Um dia o oráculo diz a Zeus que uma terrível sorte está por se lhe abater em cima, e que só Prometeu poderia revelar-lhe que maldição seria aquela. O senhor dos deuses procura o Titã acorrentado, indaga-lhe sobre o segredo. Prometeu diz só revelá-lo quando for libertado. Sem alternativa, Zeus envia Héracles (Hércules) ao monte Cáucaso para libertar o Titã. Héracles mata a águia com uma flecha e liberta dos grilhões, o mais forte dos homens. Diante de Zeus, Prometeu revela-lhe que se esposasse a bela Tétis, o filho com ela gerado iria destroná-lo, assim como fizera com Cronos. Temeroso, Zeus entrega a bela nereida a Peleu.
Perdoado, Prometeu deseja voltar para o Olimpo, mas o castigo tirara-lhe a imortalidade, ele só poderia tê-la de volta se encontrasse um imortal que consentisse em trocar de destino com ele. O centauro Quirão, ferido pela flecha de Héracles, pede a Hades, deus dos mortos, que o deixe entrar no Érebo, consentindo em trocar a sua imortalidade com Prometeu.
Novamente imortal, Prometeu reconcilia-se com os deuses, voltando para o Olimpo, de onde observa a humanidade por ele criada, agora imperfeita, mas em paz com os deuses e com as suas limitações.
Os Mitos de Prometeu e Pandora

Prometeu significa, em grego, “pensamento previdente”, por isto o mito é visto como o representante do despertar da consciência e princípio do pensamento intelectual do homem. É o reflexo da humanidade que se quer encaminhar para a perfeição, mas que se depara com os males e limitações da sua existência, reduzida ao nada da morte.
Pandora é a imagem da primeira mulher, vista de forma depreciativa por uma sociedade patriarcal. A mulher traria na sua essência todos os males do mundo, os homens, diante da sua sedução, perdem, assim como Adão, o paraíso e a inocência solidária. Pandora é um misto de Eva de Lilith, as primeiras mulheres da humanidade judaica. Assim como Lilith, traz os males do mundo, e como Eva, gera filhos imperfeitos, resultado da punição divina diante da ambição humana. Tanto Adão, como Epimeteu, ao acolherem a sedução da mulher, exercem totalmente o poder que têm da escolha diante da fatalidade e da rebelião.