Sexta-feira, 15 de Maio de 2009

OS AMANTES E OUTROS CONTOS - DAVID MOURÃO-FERREIRA

 

 

Quando comparamos a ficção com a história, podemos situar os autores no exato momento histórico da criação das suas obras, e assim compreendermos melhor a sua ficção. De uma forma ou de outra todos estão lá, inseridos no tempo e na história. Com os contos de David Mourão-Ferreira - que vamos analisar tal momento preso na história - não acontece este tempo histórico. Lemos os seus contos e chegamos a conclusão de que eles poderiam ter sido escritos hoje, ou amanhã, talvez ontem, enfim, são de uma atemporalidade que faz da sua obra algo fascinante e perturbador.
Da obra de David Mourão-Ferreira, destaca-se em poesia : Tempestade de Verão (1954), Cancioneiro de Natal (1971), No Veio de Cristal in Obra Poética 1948-1988 (1988), Música de Cama (1994); as novelas de Gaivotas em Terra (1959); os contos: Os Amantes (1968) E Outros Contos (1974), As Quatro Estações (1980); além de vários ensaios, crítica, crônica e teatro. Escreveu ainda o romance Um Amor Feliz (1986). Foi como contista que a crítica literária consagrou David Mourão-Ferreira, e será como contista que iremos também saudá-lo.
Tomaremos como referência o seu livro de contos Os Amantes e Outros Contos (7ª edição - Editorial Presença -1996). Curiosamente o livro teve a sua primeira edição no mês de Maio de 1968. Sobre a primavera deste ano não é necessário esclarecer a sua importância para a história, lembramos-nos automaticamente dos estudantes da Sorbonne, dos canhões soviéticos nas ruas de Praga, e da queda de Salazar da sua cadeira no fim do verão. Os ventos da história a soprarem mudanças. Inicialmente o livro era composto por cinco contos, chamava-se Os Amantes, que foram escritos ao longo dos anos sessenta: O Viúvo, em 1962; Nem Tudo é História, em 1966; A Boca, em 1967; Amanhã Recomeçamos e Os Amantes, em 1968. Os seis anos que há de espaço entre o primeiro e o último, são os perturbados anos sessenta, que a tudo transforma e a tudo agride. Nunca o conceito das tradições políticas, familiares, religiosas e morais foram tão contestadas, tão criticadas e mesmo desafiadas. Pelas ruas marchavam milhões de jovens de roupas coloridas e cabelos longos. Nos palcos dos teatros, o mundo parava para assistir ao Hair; os Beatles proclamavam-se “mais populares do que Jesus Cristo”. O mundo de ficção de David Mourão-Ferreira nesses contos é assim, perturbador, a quebrar tabus, a trazer-nos um cheiro de erotismo e violência onírica em cada conto. Em 1974, foi acrescentado à segunda edição mais três contos e este passou a chamar-se Os Amantes e Outros Contos. Os outros contos - Agora Que Nos Encontramos, Trepadeira Submersa e Ao Lado de Clara -, apesar de terem sido escritos entre 1973-1974, traziam a atmosfera (segundo o próprio autor), dos outros cinco.

Simulacros de Tempo e de Narrativas

A narrativa dos contos mostra-nos cenários e espaços perdidos em um universo mágico, em simulacros de tempo e de narrativa. Ao ler os contos de Miguel Torga, não conseguiríamos imaginar que aquelas personagens pudessem viver além das aldeias e das montanhas transmontanas. Com David Mourão-Ferreira o espaço é extratemporal, as personagens podem circular tanto pela Europa Central, como por Portugal, como pelo Leste Europeu, porque quem caminha não são os seus corpos, mas sim as suas mentes, as suas almas. Aqui o fantástico é quem impera.
Ao lermos os contos, não estamos a descobrir certezas e fatos históricos, estamos a ser transportados numa alucinante aventura da mente e do corpo à procura dos sentidos, todos eles aguçados. O cheiro, tanto do mar, como da carne, como do sangue, todos perdidos numa fusão do olfato. O tocar nos corpos, nos objetos, no inatingível de nós mesmos, no enganar do tato. Ver as sucessivas imagens da mente, quase a nos tragar em labirintos de fotografias a preto e branco, em lembranças envoltas por brumas, em prisões no tempo e no espaço, onde as cores são vivas e cinzas ao mesmo tempo. Talvez ouvir e sentir o gosto das coisas seja o enigma dos sentidos menos aguçados, mas sem dúvida os mais procurados.
Para explicar a narrativa de David Mourão-Ferreira, vejamos o que diz no livro o posfácio de Eduardo Prado Coelho:

Indiquemos ainda o jogo que entrelaça o tempo da narração, com os vários tempos da ficção. Aquele que conta instala-se num extratempo: e os vários tempos da ficção driblam, fintam, ultrapassam, esperam, serpenteiam o tempo da narração. Esse privilégio de extratemporalidade que o narrador adquire permite que ele continue a narrar depois da sua morte, sem que esse “depois” lhe venha sequer ferir o fluxo da voz narrativa, circulando ele sem entraves no espaço de ninguém onde estes contos nos transportam.”

Confrontos Entre a Vida Psicológica e a Morte Física

Para melhor compreendermos a linguagem dos contos, é preciso que nos deixemos guiar pelo universo deles. Comecemos pelo conto que dá título ao livro: “Os Amantes”. Talvez o que mais surpreenda, não pela atitude do homem diante da morte, mas da morte diante do homem. A narrativa mostra-nos um homem que foge das imediações de um quartel militar, após o falhanço de uma rebelião. Perseguido, ele tenta chegar à casa da mulher desejada. Depois de uma fuga alucinante, acorda nos braços da amante crioula. Passado o momento do idílio dos corpos, o homem acorda só e nu. De repente é prisioneiro em uma estranha sala, na qual encontra álbuns de fotografias que lhe revelam toda a sua vida. De uma forma fantástica a história do homem é contada através das fotografias. Aos poucos, ele revela-se em várias faces e fases, a que foi em criança, a que foi depois de uma plástica que lhe mudara o rosto (seria um fugitivo nazista?), a sua vida atual em um país tropical, os braços da amante, o seu corpo cor de ébano. Na tentativa de fuga da casa da amante, todos os quartos estão fechados. Ele está nu, pois as suas roupas desapareceram. Nu no confronto final consigo mesmo. Por fim, o homem descobre que não há saída, pois ao fugir do quartel, tinha sido abatido e morto. Não enganara a morte, mas fora enganado. Conformado, deita-se ao lado da amante, também ela morta, aceitando a vitória da sua última rebelião, ou seja, contra a morte. Ao narrar a sua história, ele o faz já morto, já do outro lado das fotografias:

Ajoelho e curvo-me sobre as folhas abertas, à espera de mais revelações. Ao contrário, porém, de todos os outros, este álbum encontra-se ainda intacto, sem uma única fotografia colada nas suas páginas. Muito mais me intriga, aliás, o modo como ele e o anterior aqui surgiram, o modo como ambos pareceram empurrados... E descubro, de súbito, que tanto esta como a outra estante, de escura madeira envernizada, se dispõem em torno de cilindros metálicos - que fortemente as prendem ao tecto, que certamente as ligam ao andar de cima, que porventura as tornam comandadas a partir daí. Fazem lembrar, na parte superior, periscópios de submarinos. E principiam agora a mover-se, numa lentíssima rotação... E a seguir mais depressa, cada vez mais depressa! E as estantes principiam a girar, a rodar, a rodopiar... Tão vertiginosamente a velocidade vai aumentando que já alguns álbuns começam a ser projectados, atirados para o chão, arremessados de encontro às paredes; e já outros se desconjuntam, se rasgam, se esfarrapam, ainda antes de saírem das prateleiras... Com semelhante ritmo, de segundo a segundo mais frenético, decerto que nem um permanecerá no seu lugar.

Se compararmos os contos de David Mourão-Ferreira com os contos de Sophia de Mello Breyner Andresen - nomeadamente “A Viagem” e “A História da Gata Borralheira” - , vamos encontrar o fantástico como ponto de convergência. Mas o fantástico de um difere largamente do outro. Enquanto que Sophia de Mello Breyner Andresen faz do universo fantástico dos seus contos algo assim como as fantasias dos contos infantis, ou a fantasia do popular, em que já ouvimos falar diversas vezes da visita do diabo à casa de um rico senhor, deparamos com o fantástico como técnica de escrita, mas com um conteúdo que traz sempre uma evidência religiosa, intencionalmente católica, onde o bem e o mal tecem dois muros distintos, quando um atravessa o outro, o efeito é sempre o castigo, a moral e os dogmas como tema. David Mourão-Ferreira faz da técnica do fantástico o pulsar dos sentimentos e das sensações, o saltar da alma entre o psicológico e o metafísico. No seu mundo fantástico o universo das personagens não acompanha os seus corpos, mas sim as suas almas, os seus sonhos, os seus medos. O homem não é um eterno viajante do bem e do mal, é apenas prisioneiro do seu vazio, do seu corpo a flutuar no nada, sente-se quase que o rodopiar da alma, a vertigem da morte, o latejar do sangue. Vida e morte, paixão e desejo, tudo a formar um emaranhado de emoções que se tornam um todo. A poesia é latente nas sucessivas palavras cobertas de labirintos caudalosos, de olhares presos nas imagens dispersas no infinito do nosso eu pleno, quase a flutuar no inatingível, na solidão suprema de cada ser, nascimento e morte tornam-se o redimir dessa solidão.

Armadilhas e Desejos nos Rostos das Mulheres

No conto “O Viúvo”, a narrativa do universo psicológico das personagens toma o lugar do fantástico. O conto é na terceira pessoa, e o que está em causa são os desencontros do amor. Novamente a morte como pano de fundo. Um homem (Adriano) de meia idade, que ao ter um caso extraconjugal com uma mulher (Paula), faz do seu prazer o universo, e quando perde a amante em um acidente de automóvel, percebe que o amor é mais ambíguo do que o prazer. Torna-se viúvo dos desencontros da vida e do amor. Viúvo dos seus sentimentos. Deixa Lisboa para passar o natal nas Berlengas, num hotel que costumava ir com os pais quando jovem. Encontra-se com Rita, uma amiga antiga, também ela perdida entre as confusões dos sentimentos e os desencontros da solidão. As personagens conhecem-se umas as outras, mas se revelam em cada gesto:

E há um ano? Precisamente há um ano, mas um pouco mais tarde (já então as rasgadas janelas do bar do hotel se afogueavam, por entre a chuva do crepúsculo, com o revérbero das luzes de Lisboa...), há um ano, precisamente há um ano, tudo teria sido porventura diferente - se houvesse chegado a murmurar, a sussurrar, a arremessar, de qualquer modo, o nome da Paula.

Ao deixarmos o universo de desilusões de “O Viúvo”, vamos percorrer o universo inquietante de “Agora Que Nos Encontramos”. Mais uma vez o fantástico é quem nos vai conduzir como uma brisa turva no universo das personagens. Uma viagem às vezes erótica, outras vezes acidentada, muitas vezes armadilhada. Aqui uma figura não identificada fala com um homem que está numa cama de hospital, após uma intervenção cirúrgica por causa de uma úlcera. A estranha personagem faz uma viagem ao passado do homem,. A figura de uma bela e sedutora mulher é mostrada nos momentos de maior perigo da vida do homem. A primeira imagem é a da mulher o mostrar os seios dentro de um vagão de comboio, antes de ele colidir e arremessar o homem para baixo dos destroços, sem sentidos, quase morto. A viagem continua por um cabaré de Amsterdã. Uma mulher a fazer strip-tease, a conduzir novamente para um desejo que não é concretizado. Todas as vezes que ele a tem, ele a perde, em cada encontro perde um pouco da vida. Agora, no hospital, quase moribundo, é o encontro decisivo com a figura da mulher, o encontro do mergulho no vazio, o encontro da morte na forma de mulher, a mesma mulher que sempre perseguiu a imagem durante toda a vida, quase como uma promessa nunca cumprida de possuir-lhe o corpo. Mais uma vez a certeza de que o homem mergulha dentro das suas obsessões de imagens e desejos, fazendo deles os mais íntimos prazeres da existência não vivida, onde o caminho conduz armadilhadamente ao nada da morte e do espaço que faz da alma um salto no éter:

É chegado o momento (vês?) de ser eu própria a abrir o casaco. Nada receies. Não se trata agora de nenhuma trucagem. Não vais tornar a ver - descansa! - o esqueleto que viste em vez do corpo da outra rapariga. Agora é diferente: agora não vês nada; não há nada. Mas talvez este nada seja tão ilusório como o tudo que sempre procuraste no corpo de tantas mulheres. Seja como for, sei que é a altura de ficar contigo. Nem seria possível - agora que nos encontrámos - que mais uma vez nos viéssemos a perder.”

Viagem Dentro de um De Soto Preto

Dois contos tocam por si mesmos, o lado exótico da sensualidade, aqui traduzida numa forma ínfima de prazer. Em “Trepadeira Submersa” e “Ao Lado de Clara”, o homossexualismo feminino é visitado de uma forma sensual, quase como numa pintura renascentista nas descrições de “Ao Lado de Clara”. No primeiro - “Trepadeira Submersa” -, a personagem que narra a história oculta o seu sexo quase até ao fim do conto, quando estamos iludidos de que quem narra é um homem, surge-nos o narrador a revelar-se atrás da personagem o seu sexo de mulher e a sua atração pela professora, mulher mais velha, mais conservadora. A aluna escreve poemas para a professora, e na sua coragem de ninfeta apaixonada e ardente, não tem medo de revelar-se, tem medo da desilusão da musa que esconde a luz que lhe revela os poemas. Mas a professora, sem nunca perder o título, critica os poemas, a escrita, o português mal trabalhado, menos os desejos da aluna. Pede-lhe de uma forma velada, nunca diga explicitamente, que esqueça tudo, pois não é possível correspondência, pede que ela leve embora os seus sentimentos, mas que lhe deixe os poemas, único motivo pelo o qual bastaria uma vida de enganos para tê-los:

Ás mãos tinham retirado, debaixo do pesa-papéis, um pequeno maço de folhas onde reconheci a minha letra. E não era só o meu rosto que me parecia ter ficado tão vermelho como o vestido que ela trazia, como o próprio pesa-papéis: era também o mar, era também a água do aquário, eram também as lombadas de todos os livros. Por outro lado, só então reparei como aquela ténue e caprichosa flora, lá dentro do aquário, sugeria o desenho de uma trepadeira submersa.

Ao Lado de Clara”, a vida do palco confunde-se com a vida cotidiana. Atores vivem em casa cenas repetidas do palco. Verdade e ficção caminham nas mais diversas formas. Obsessão e desejo confundem-se com o universo das personagens. A atriz e o autor, o homem e a mulher, a personagem que parece criar vida e emergir das páginas angustiadas do autor. Por todos os lados, os olhos do narrador deparam-se com ninfas a transbordar de desejo os seus corpos. Mulheres que encontram no desejo mais íntimo do corpo o olhar de voyeur dos sátiros e dos faunos, ou seja, dos homens sedentos de penetrar no universo do sexo do qual assistem calados, frustrados. O teatro e a vida a criar simulacros para quebrar com o marasmo, a tentar criar tentações e libertações do corpo e das máscaras. Cada personagem dissimula, como se estudasse um texto diante da vida. Aqui o psicológico é mais denso do que o fantástico, cada personagem traz dentro de si uma sutil armadilha, um forte desejo:

Em todas as ruas serão em número cada vez maior os automóveis abandonados. Aperceber-te-ás de como eles vão sendo cada vez mais aproveitados por amantes de acaso, para encontros de ocasião. E verás sempre, no banco traseiro do enorme De Soto negro, de antes da guerra, o mesmo grupo das duas mulheres de meia-idade, estreitamente enlaçadas, enquanto, no banco da frente, todo encolhido, um homenzinho lívido e calvo, que se parece com Giorgio, viciosamente as espreita pelo retrovisor.(...)”

Os contos são repletos de objetos que nos surgem como simbólicos. No texto acima - “Ao Lado de Clara” - , reencontramos neste conto de 1973, o mesmo automóvel preto, o De Soto, que nos foi revelado em 1966 no conto “Nem Tudo é História”. Este conto abre um leque no fantástico e no maravilhoso dos contos de David Mourão-Ferreira. Talvez o mais violento de todos eles, onde nascimento e morte têm um momento único, o sangue jorra das luvas da mulher misteriosa, as mesmas luvas que vamos encontrar na outra personagem de “Agora Que Nos Encontramos”, também de 1973. Em 1973 David Mourão-Ferreira voltava com estes dois contos ao universo iniciado em 1966. Um começa onde o outro termina, ou vice-versa. Sempre o meteoro inconstante das imagens diante dos delírios supremos da vida e da morte. “Nem Tudo é História” narra-nos a vida de um homem quase que vista em um ecrã gigante, em que ligamos a tela e diante dos nossos olhos passam guerras, um vulto de mulher, um braço e uma luva, um carro negro, bares, gritos, um parto, o sangue, a história, mesmo quando não nos é dada uma história:

Noites e noites a fio, quase de madrugada, desenrolava-se a mesma cena: um grande automóvel preto - um carro americano de antes da guerra, talvez um De Soto dos anos trinta - parava de repente ao pé de mim. O motorista, fardado de negro, mantinha-se muito hirto no seu lugar; eu não chegava sequer a ver-lhe o rosto. Mais me intrigava aliás o próprio carro, que parecia ter estado debaixo de água - ou ter sido fabricado no fundo do mar - , embora não apresentasse, na carroçaria, nenhum vestígio de humidade. Mas o capot faiscava, na sombra, como o dorso de um cetáceo; o flanco fusiforme dos faróis denunciava não sei que secreto comércio com os peixes; e a porta de trás, que vinha agora de entreabrir-se - sem que ninguém lhe houvesse tocado -, evocava irresistivelmente, pelo crebro palpitar em que ficara, o inquietante mistério de uma guelra.”

E é no interior de um automóvel preto, um De Soto dos anos trinta, que entramos no mundo dos contos de David Mourão-Ferreira. Nele percorremos as páginas de “A Boca”, onde uma boca oculta surge nas ancas de Rossana. Aqui temos a nítida sensação de mergulharmos num quadro surrealista, talvez numa aquarela de Dali. Mas o De Soto não pára e continuamos pelo universo de “Amanhã Recomeçamos”, um conto feito só com diálogos, cada diálogo é uma revelação perturbante, quase paranóica, de um teatro esquizofrênico em que as personagens fazem das deixas as armadilhas que nos arremessará para o abismo, sem que tenhamos dado por isso. Por fim o De Soto é deixado numa sucata presa no tempo, em nós a certeza de que a viagem foi poética, perturbadora, e o universo de David Mourão-Ferreira é quase um ícone nos contos portugueses nas últimas décadas do findar do segundo milênio.

David Mourão-Ferreira

David Mourão-Ferreira foi um dos maiores poetas contemporâneos portugueses, nascido em Lisboa, em 24 de fevereiro de 1927, destacou-se também como contista e já no fim da vida, revelou-se um grande romancista.
Além da literatura, teve uma vida dedicada ao magistério, sendo ao longo dos anos, professor dos ensinos técnico, liceal e universitário. Licenciado Filologia Românica, a partir de 1957 foi professor da Faculdade de Letras de Lisboa, tendo a carreira interrompida por questões políticas na época da ditadura salazarista. Neste período, em 1963, foi eleito secretário-geral da Sociedade Portuguesa de Autores. Após a Revolução dos Cravos, em 1974, que pôs fim ao salazarismo, o escritor ocupou várias vezes o cargo de secretário da cultura em diversos governos.
Poeta, romancista, crítico e ensaísta, David Mourão-Ferreira é dono de uma obra densa, de uma tensão lírica latente, onírica, sempre voltada para o maravilhoso e fantástico da mente humana, de uma linguagem rítmica e rica, repleta de imagens eróticas latentes, que o fez ser visto como o poeta do erotismo da literatura portuguesa. Sua obra está voltada para o inalcançável da alma humana, sempre em equilíbrio com a mente, mas jamais com o corpo e com a vida.
Vários poemas de David Mourão-Ferreira tornaram-se fados de sucessos interpretados pela incomparável Amália Rodrigues.
Desde cedo David Mourão-Ferreira ligou a sua vida à literatura, as suas primeiras poesias foram publicadas aos 18 anos, na Seara Nova, revista da qual seu pai era colaborador. Na década de 50 revela uma plenitude literária como poeta, ensaísta, crítico, dramaturgo e prosador. Em 1954 torna-se um dos diretores de Távola Redonda. Em 1986 publica o romance Um Amor Feliz, que lhe valeu a consagração como escritor, atraindo um grande número de leitores para a sua obra, o romance rendeu vários prêmios, entre eles o Grande Prêmio de Romance da APE e o Prêmio de Narrativa do Pen Clube Português.
David Mourão-Ferreira viria a falecer em 16 de junho de 1996, deixando uma belíssima e representativa obra da literatura contemporânea portuguesa.

OBRAS:

Poesia

1946 – Rumos (antologia de contos e poemas em co-autoria)
1950 – A Secreta Viagem
1954 – Tempestade de Verão
1958 – Os Quatro Cantos do Tempo
1962 – Infinito Pessoal
1962 – In Memoriam Memoriae
1966 – Do Tempo ao Coração
1967 – A Arte de Amar (antologia)
1969 – Lira de Bolso (antologia)
1971 – Cancioneiro de Natal
1973 – Matura Idade
1974 – Sonetos do Cativo (antologia)
1976 – As Lições do Fogo (antologia)
1980 – Entre a Sombra e o Corpo
1980 – Ode à Música
1980 – Obra Poética (antologia 2 volumes)
1980 – À Guitarra e à Viola (1º volume da antologia Obra Poética)
1980 – Órfico Ofício (2º volume da antologia Obra Poética)
1983 – Antologia Poética
1985 – Os Ramos Os Remos
1987 – O Corpo Iluminado
1987 – As Pedras Contadas (antologia)
1988 – Obra Poética 1948-1988
1988 – No Veio do Cristal in Obra Poética 1948-1988
1992 – Lisboa Luzes e Sombras
1992 – A Arte de Amar (antologia)
1994 – Música de Cama (antologia)

Conto e Novela

1959 – Gaivotas em Terra (novelas)
1968 – Os Amantes (contos)
1974 – Os Amantes e Outros Contos (contos)
1978 – Maria Antónia e Outras Mulheres (antologia de contos escolhidos)
1980 – As Quatro Estações (contos)
1987 – Duas Histórias de Lisboa
1992 – Maria da Luz e Outras Esfinges (antologia)

Romance

1986 - Um Amor Feliz

Teatro

1956 – Contrabando
1965 – O Irmão

Ensaio, Crítica, Crônica

1960 – Vinte Poetas Contemporâneos
1961 – Aspectos da Obra de Manuel Teixeira-Gomes
1962 – Motim Literário
1966 – Hospital das Letras
1969 – Discurso Direto
1969 – Tópicos de Crítica e de História Literária
1976 – Sobre Viventes
1977 – Presença da “Presença”
1979 – Lâmpadas no Escuro
1987 – O Essencial Sobre Vitorino Nemésio
1988 – Nos Passos de Pessoa
1988 – Marguerite Yourcenar: Retrato de Uma Voz
1989 – Os Ócios do Ofício
1989 – Sob o Mesmo Teto
1992 – Tópicos Recuperados
1992 – Terraço Aberto (antologia)
1992 – Elogio Acadêmico de Vitorino Nemésio
1993 – Evocação de Sebastião da Gama
1993 – Magia Palavra Corpo
1995 – Em Movimento

Divulgação e Tradução de Poesia

1972 – Imagens de Poesia Européia - Volume I (Grécia, Roma, Os Séculos Obscuros)
2003 – Vozes da Poesia Européia I (Colóquio-Letras, nº 163, Janeiro-Abril)
2003 – Vozes da Poesia Européia II (Colóquio-Letras, nº 164, Maio-Agosto)
2003 – Vozes da Poesia Européia III (Colóquio-Letras, nº 1645, Setembro-Dezembro)

Vários

1993 – Jogo de Espelhos – Reflexos para um Auto-Retrato

CRONOLOGIA:

1927 – Nasce no dia 24 de fevereiro, em Lisboa, David Mourão-Ferreira, filho de Teresa de Jesus Mourão-Ferreira e de David Ferreira.
1929 – Nasce Jaime Alberto, irmão de David.
1942 – Publica o seu primeiro artigo no jornal escolar Gente Moça, órgão do Colégio Moderno.
1945 – Inicia a carreira literária publicando os primeiros poemas nas páginas da revista Seara Nova.
1946 – Colabora com as revistas Seara Nova e Aqui e Além.
1947 – Estreita amizade com os escritores José Régio, José Rodrigues Miguéis e Antonio Manuel Couto Viana, entrando para o grupo de intelectuais que freqüentavam o Café Chave d’Ouro.
1948 – Colabora como ator e autor, sob a direção de Gino Saviotti, no Teatro-Estúdio do Salitre.
1949 – Publica na revista Ocidente o artigo Acerca de uma Trajetória na poesia de Cesário Verde.
1950 – Funda com Antonio Manuel Couto Viana e Luís de Macedo, as folhas de poesia Távola Redonda. Publica seu primeiro livro de poesia, A Secreta Viagem.
1951 – Licencia-se em Filologia Romana. Inicia uma longa amizade com Amália Rodrigues, para a qual escreveria a letra de muitos fados.
1953 – Casa-se com Maria Eulália de Carvalho.
1954 – Publica o livro de poesias Tempestade de Verão. Da união com Maria Eulália nasce o primeiro filho, David João.
1956 – Colabora com a revista Graal e com o jornal Diário Popular. Inicia amizade com Natália Correia.
1957 – Assistente da Faculdade de Letras de Lisboa. Nasce a filha Adelaide Constança.
1958 – Publica Os Quatro Cantos do Tempo (poesia).
1959 – Recebe pelo livro de novelas Gaivotas em Terra, o Prêmio Ricardo Malheiro, da Academia de Ciências de Lisboa.
1963 – Por perseguição do regime salazarista, não lhe renovam o contrato de professor da Faculdade de Letras de Lisboa.
1964 – Inicia com os programas radiofônicos Música e Poesia e Hospital das Letras a colaboração com a RTP (Rádio Televisão Portuguesa).
1965 – É afastado da RTP. Logo a seguir acontece um grande protesto contra o fechamento temporário da Sociedade Portuguesa de Escritores. Nomeado secretário-geral da Sociedade Portuguesa de Escritores.
1966 – Casa-se pela segunda vez, com Maria Pilar de Jesus Barata.
1968 – Publica o livro de contos Os Amantes.
1970 – É reintegrado na função de docente da Universidade de Lisboa.
1974 – Assume a direção do jornal A Capital.
1976 – Nomeado Secretário da Cultura.
1977 – Morre o irmão Jaime Alberto.
1981 – Assume a direção das Bibliotecas Itinerantes e Fixas da Fundação Calouste Gulbenkian.
1984 – Eleito presidente da Associação Portuguesa de Escritores.
1986 – Publica o seu único romance, Um Amor Feliz, pelo qual recebe vários prêmios, entre eles, o Grande Prêmio de Romance da Associação Portuguesa de Escritores, o Prêmio de Narrativa do Pen Clube Português, Prêmio D. Dinis da Fundação Casa de Mateus e o Prêmio de Ficção do Município de Lisboa.
1991 – Nomeado presidente do Pen Clube Português.
1994 – Publica a antologia de poesia erótica Música de Cama.
1995 – É acometido de uma grave doença, com a qual luta com determinação.
1996 – Recebe o Prêmio de Consagração de Carreira da Sociedade Portuguesa de Autores. Morre em Lisboa, no dia 16 de junho, sendo sepultado no Cemitério dos Prazeres.
publicado por virtualia às 05:49
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