(Caetano Veloso)

Mesmo clandestinos, os movimentos continuam, existem mas não são reconhecidos legalmente. Sob os olhos vigilantes da ditadura o país passa por uma ebulição cultural intensa, acompanhando o mundo que jamais será o mesmo depois dos anos sessenta. É do período pós 1964 que surgem os grupos de Teatro Arena e Opinião e a produção das peças do Teatro Oficina. Surgem o Cinema Novo e a Jovem Guarda. Há a explosão dos festivais de música e as suas canções de protesto. Todos esses movimentos culturais eram oriundos de artistas militantes na esquerda brasileira, inconformada com o golpe de 1964.

"Atenção
Tudo é perigoso
Tudo é divino, maravilhoso
Atenção para o refrão:
É preciso estar atento e forte
Não temos tempo de temer a morte"
(Caetano Veloso - Gilberto Gil)
Em 1967 Hélio Oiticica apresentou no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, o seu grande penetrável chamado de Tropicália. Estava criado o conceito estético da Tropicália.
Mas o nascimento oficial da Tropicália surge em outubro, no III Festival de MPB da Record em São Paulo, quando Caetano Veloso e Gilberto Gil

A Tropicália no começo causa impacto e divide opiniões. Seus principais componentes Caetano Veloso e Gilberto Gil, tomam como modelo a Bossa Nova e o antológico álbum Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, dos Beatles, lançado na Inglaterra em 1967. Rogério Duarte, poeta e artista gráfico é um dos mentores intelectuais do movimento. É dele o célebre cartaz do filme de Glauber Rocha “Deus e o Diabo na Terra do Sol”. Calcado na originalidade da capa do álbum dos Beatles, é dele as capas coloridas dos álbuns Gilberto Gil 1968 e Caetano Veloso 1968.
Diz-se que o nome do movimento surgiu em fevereiro de 1968, com a publicação do artigo do jornalista Nelson Motta “A Cruzada Tropicalista”, no jornal Última Hora. Há tropicalistas que contestam esta versão.
Identificações Tropicalistas
O movimento tropicalista diverge pela primeira vez da forma nacionalista de se fazer MPB, principalmente com a estética carioca da Bossa Nova e dos sambas de Noel Rosa e outros compositores. Acrescentam à música o rock, a psicodelia e a guitarra elétrica. Rompem com a cultura engajada de esquerda, identificando-se com a contracultura hippie e com a poesia de uma vanguarda mais erudita, que dialoga com o concretismo literário brasileiro, transformando suas músicas em verdadeiras poesias. Para o fim do movimento essa identificação com uma vanguarda erudita dá passagem para uma vanguarda underground, que deixaria a sua herança cultural para a geração do desbunde.
Uma verdadeira guerra entre a vanguarda tropicalista e a esquerda tradicionalista foi travada, com a

O auge do movimento é o lançamento do álbum manifesto “Tropicália Ou Panis Et Circenses”, de 1968. O nome do álbum foi inspirado na exposição de Hélio Oiticica, e a própria composição da música “Tropicália”, de Caetano Veloso, também teve seu nome tirado da obra do artista plástico carioca.
Tropicália e o AI 5
Para o fim a Tropicália sofre influências cada vez mais fortes do rock internacional. O movimento começa a incomodar os costumes moralistas da época quando deixa os palcos da vanguarda nacional dos bares de São Paulo e dos festivais e ocupa espaços na televisão, órgão de comunicação usado pelos tropicalistas com o programa “Divino Maravilhoso”, exibido na extinta TV Tupi de outubro a dezembro de 1968. Com provocações anárquicas e experimentais, o programa incomoda não pela proposta política, mas pela proposta de quebra de tabus e preconceitos sociais. Durante o tempo de vida do programa o Brasil é tomado por fortes movimentos de oposição ao regime militar. A tensão é cada vez maior e o confronto inevitável. Em resposta às tensões e às manifestações políticas, em 13 de dezembro a ditadura edita o Ato Institucional Nº 5, que acaba com a liberdade de expressão civil, política e

Com a sua estética visual provocativa, suas roupas coloridas, e principalmente, sua linguagem renovada, a Tropicália durou pouco mais de um ano como movimento, mas transformou a cultura brasileira. Por seu sincretismo, misturou rock e bossa nova, samba, bolero, folclore. Libertária, poética, vanguardista, foi o ponto de ruptura ao tradicionalismo da MPB, mas também uma convergência das várias vertentes da nossa música, aqui acrescentada de novos ritmos e de novos instrumentos musicais. A irreverência da Tropicália foi a concretização da Bossa Nova.
