
Aqui os três retratos da deusa do amor na criação de Sandro Botticelli: “A Primavera”, “O Nascimento de Vênus” e “Vênus e Marte”. Nas três obras, Vênus eterniza-se com os seus cabelos longos e dourados, mostrando que o mito foi além da imaginação humana, traduzido na beleza da arte e de um grande artista.
A Primavera

Quando descortinamos a obra a partir da figura de Aglaia, Tália e Eufrósine, as três Graças, é que começamos a encontrar traços precisos da filosofia neoplatônica. As Graças surgem profanas, virginais, sensuais, trajando vestes transparentes, harmonizando a beleza das cores primaveris, pulsantes pela intervenção dos corpos humanos. Mais a ocidente do quadro está Mercúrio (Hermes), o mensageiro dos deuses, com suas sandálias aladas, trazendo uma túnica vermelha, exaltando-lhe a virilidade. Mercúrio dissipa as nuvens, rompendo com a tristeza do inverno, trazendo o sol de primavera.
Quando voltamos para a direita de Vênus, vamos encontrar Flora, a deusa das florestas e das flores. Flora traja roupas floris, das roupas a deusa espalha as flores pelos campos. Flora é a única personagem da obra a olhar diretamente para o observador, como se fosse atirar as flores além daquela paisagem, colorindo quem contempla a obra.
Ao oriente da obra surge Zéfiro, o vento do oeste. Zéfiro na mitologia é personificado como

A Primavera
Sandro Botticelli (cerca de 1477-78)
Têmpera sobre madeira, 203 x 314 cm
Galeria Uffizi, Florença
O Nascimento de VênusSe em “A Primavera” a figura de Vênus surge recatada, quase como uma virgem católica, na obra mais conhecida de Sandro Botticelli, “O Nascimento de Vênus”, a deusa do amor é retratada nua, absoluta, sensual, totalmente profana, como o seu mito eterno.
Vênus nasceu da espuma do mar. Quando Saturno (Cronos) cortou os testículos do pai, Céu (Urano), destronando-o, atirou-os ao mar. Dos testículos amputados de Urano, uma grande espuma foi formada no mar, de onde nascia Vênus, ou Afrodite, a mais bela de todas as deusas.
É este momento sublime, o nascimento da deusa do amor, que nos retrata a bela obra de Botticelli. Ao nascer no meio do mar, Vênus é amparada por uma grande concha de madrepérolas. Uma Vênus nua, de cabelos longos e dourados, é apresentada no centro da obra, com todo o seu esplendor. Delicadamente, com uma das mãos cobre um dos seios, e com a outra mão, conduz a longa cabeleira dourada a esconder-lhe o sexo divino. Vênus aparece nua e a insinuar a nudez, sutilmente coberta, pronta para ser revelada.
Zéfiro surge à esquerda de Vênus, abraçado à sua eterna companheira, a ninfa das flores, Clóris. Cabe ao vento do oeste soprar a bela deusa para a ilha de Chipre. Clóris sopra sobre a deusa singela e belas violetas. Á esquerda, já na ilha de Chipre, está uma das Horas, que prepara uma túnica imortal para cobrir a deusa do amor.
“O Nascimento de Vênus” é ao lado da estátua da Vênus de Milo, a representação mais conhecida do mito de Vênus-Afrodite. Tornou-se uma das obras mais difundidas nos tempos atuais, eternizando o seu criador. É um dos ícones mais representativo do Renascimento.
O Nascimento de Vênus
Sandro Botticelli (cerca de 1485)
Têmpera sobre tela, 1,72.5 x 2,78.5 cm
Galeria Uffizi, Florença
Vênus e MarteO mito de Vênus está ligado ao seu casamento com Vulcano (Hefestos), deus dos vulcões e do fogo, que em um ato de vingança contra a mãe Juno (Hera), aprisionara-a a um trono de ouro. Vulcano exigiu como condição para soltar a mulher de Júpiter (Zeus), que lhe fosse oferecida Vênus em casamento. A deusa nunca aceitou o amor do marido, traindo-o com deuses e mortais. Dos amores adúlteros de Vênus, o mais famoso é o que viveu com Marte (Ares), o deus da guerra.
É o contraste da paixão entre a doçura passional da deusa do amor e a fúria, também ela passional, do deus da guerra, que Botticelli mostra nesta sua obra. “Vênus e Marte” é o momento lúdico de descanso e paz dos amantes após o ato do amor. O repouso traz uma paz passageira, harmoniosa.
Depois da nudez de Vênus em “O Nascimento de Vênus”, Botticelli traz aqui a deusa vestida, desta vez com um peplo debruado com passamanaria de ouro. Em contraste com Vênus, Marte é desnudado, tendo a virilidade coberta por um sutil manto branco. Vênus, debruçada sobre uma almofada, contempla o amante com calma de quem ama, enquanto ele dorme, exausto pela volúpia da paixão, sobre a suas armadura e despojos de guerra.
Entre os amantes surgem os Sátiros, deuses das florestas, de volúpia incontrolável, que aqui aparecem representados como crianças. Um dos sátiros tenta acordar o deus da guerra, soprando-lhe o ouvido com uma concha. Um outro entra na armadura do deus da guerra, e dois deles carregam o elmo e a lança, como se os escondesse. Nenhum dos quatro sátiros perturbam a deusa do amor.
O quadro contrasta a nudez de Marte com as vestes delicadas e sensuais de Vênus. Ambos repousam em uma clareira formada por mirtos, trazendo uma suavidade ao quadro, harmonizando a paixão e o amor, a guerra e a paz, duas vertentes indissociáveis dos mitos dos deuses.
Vênus e Marte
Sandro Botticelli (cerca de 1483)
Têmpera sobre madeira, 69,2 x 173,4 cm
National Gallery, Londres
Sandro BotticelliAlessandro di Mariano Filipepi, passou para a história da arte como Sandro Botticelli. Nascido em Florença, em 1 de março de 1445, época de transição do fim da Baixa Idade Média e o Renascimento. Tinha pouco mais de dez anos quando entrou para o atelier de Filippo Lippi, de quem recebeu influências no estilo elegante de criar as suas obras. Botticelli foi também, ajudante de Andrea Del Verrochio que, ao lado de Piero Pollaiuolo, influenciariam as suas obras.
Botticelli aos 25 anos, já tinha o seu próprio atelier em Florença. Por volta de 1477 pintou, para enfeitar a residência dos Médici, uma das suas obras mais conhecida, “A Primavera”, de temática mitológica, trazendo os deuses Vênus e Mercúrio no centro da temática.
No ano de 1481 foi chamado a Roma pelo papa Sisto IV, para trabalhar ao lado de outros artistas, na decoração da capela Sistina. Ali realizou dois episódios da vida de Moisés: “As Provações de Moisés” e “O Castigo dos Rebeldes”, além de “A Tentação de Cristo”.
O artista voltaria à Florença para trabalhar para a família Médici, fazendo parte do círculo neoplatônico impulsionado por Lorenzo de Médici, o Magnífico. É desta época as suas obras mais famosas: “O Nascimento de Vênus”, de cerca de 1485, além de “Marte e Vênus” e “Minerva e o Centauro”, obras que traziam, novamente, uma temática profana mitológica.
Por volta de 1491 a 1498, Florença foi assolada pelo poder conservador do dominicano Girolamo Savonarola, que com a morte de Lorenzo, o Magnífico, perseguiria os Médici, e condenaria às obras profanas. Sandro Botticelli vê a sua obra afetada pela perseguição de Savonarola, desaparecendo dela a temática mitológica, dando passagem para criações de devoções religiosas e atormentadas. É desta época "A Calúnia de Apelles".
Quando Sandro Botticelli morreu, em 17 de maio de 1510, já Savonarela tinha sido queimado na fogueira por ter ousado confrontar o Vaticano, e os reinos da Itália viviam a plenitude estética do Renascimento. A obra de Sandro Botticelli, devido a sua rara beleza estética, faz parte desse renascimento, pode ser dividida em duas: de temática profana mitológica e de temática devota religiosa.
Principais Obras de Botticelli
O Nascimento de Vênus
A Primavera
A Adoração dos Magos
O Castigo dos Rebeldes
A Tentação de Cristo
Retrato de Dante Alighieri
Nastagio Degli Onesti
A Coroação da Virgem
O Inferno de Dante
A Virgem Escrevendo o Magnificat
A Virgem de Granada
Virgem Com o Menino e Dois Anjos
As Provações de Moisés
Minerva e o Centauro
Marte e Vênus
Retrato de Giuliano de Médici
A Calúnia de Apelles