Quarta-feira, 31 de Dezembro de 2008

OS 100 ANOS DA IMIGRAÇÃO JAPONESA NO BRASIL

 

 

Quando o navio Kasato Maru atracou no porto de Santos, no dia 18 de junho de 1908, trazia a bordo 165 famílias, camponeses pobres, oriundos do norte e do sul do Japão. Vinham de um Japão assolado por uma crescente explosão demográfica, e incapaz de gerar empregos para toda esta população efervescente. 781 pessoas aventuravam-se naquela empreitada ambiciosa e imprevisível às terras do ocidente. Os imigrantes japoneses chegaram ao Brasil em busca de melhores meios de vida, e de enriquecimento que os possibilitasse de voltar para a terra do sol nascente.
Além da esperança de uma vida melhor, os japoneses traziam na bagagem a certeza de que voltariam à terra natal. Não voltaram, com perseverança, sabedoria, trabalho e determinação, construíram uma identidade própria, que atingiu a cultura brasileira; marcada pela assimilação de costumes e tradições, e, principalmente, pela miscigenação deste povo com os nativos do Brasil.
O Kasato Maru trouxe consigo, uma das mais bem-sucedidas imigrações que aportaram no Brasil. 100 anos depois, a colônia japonesa conta com cerca de 1,5 milhão de pessoas que fazem parte da população brasileira, seus descendentes estão inseridos como brasileiros, formando uma parte das várias digitais que identificam a população plural do Brasil.

A Bordo do Kasato Maru

Com a abolição da escravatura no Brasil, em 1888, os negros libertos, na sua maioria, marcados pelas cicatrizes profundas deixadas da relação senhor-escravo, abandonaram as lavouras, espalhando-se pelas cidades, em busca de uma nova vida. Esta fuga de mão-de-obra deixou as lavouras de café, principal riqueza do Brasil da época, carentes de quem nela trabalhasse. A solução foi o governo subsidiar e incentivar as migrações de mão-de-obra estrangeira. A imigração italiana foi a que trouxe mais mão-de-obra para as lavouras brasileiras. Mas a decepção dos italianos com a forma de vida que aqui encontraram, o não cumprimento dos contratos prometidos, causaram grandes problemas, o que levou o governo da Itália a proibir, em 1902, a imigração subsidiada.
Na mesma época, o Japão vivia a crise de uma explosão demográfica. O país nipônico deixava, no fim do século XIX, o feudalismo, mecanizava as lavouras, o que gerou a ociosidade da mão-de-obra nos campos japoneses. Milhares de pessoas migraram para os centros urbanos do Japão, causando um colapso de pessoas nas cidades. A solução encontrada para o problema, foi a emigração dos japoneses para o mundo. Esta emigração encontrou dificuldades na Austrália, onde sofreu com os maus tratos. Muitos foram para os Estados Unidos, que a partir de determinado momento, vetou a migração japonesa.
Diante da carência de mão-de-obra nas lavouras brasileiras, e da grande explosão demográfica pela qual passava o Japão, os dois países incentivaram a migração do povo nipônico para a América do Sul. Em novembro de 1907, Ryu Mizuno, diretor da Companhia de Migração do Império (Kokoku Shokumin Kaisha), assinou o acordo que foi o responsável pela primeira leva de imigrantes japoneses vinda para o Brasil.
Selado o acordo com o governo brasileiro, no dia 28 de abril de 1908, saía do porto de Kobe, o navio Kasato Maru, com 781 passageiros a bordo. Pelo acordo assinado, o governo brasileiro só aceitava os imigrantes casados, vetando veementemente a entrada de solteiros no país. No dia 28 de junho de 1908, o Kasato Maru chegou ao porto de Santos, em São Paulo. De Santos seguiram para a cidade de São Paulo, sendo hospedados na Pensão dos Imigrantes, de onde foram distribuídos pelas lavouras do país.
A imigração japonesa encontrou no solo brasileiro, condições para que se estabelecesse. Donos de uma exemplar aptidão para trabalhar a lavoura, não foi difícil desenvolver este talento nas férteis terras brasileiras, tornaram-se especialistas no cultivo de lavouras de hortaliças e legumes. Essencialmente agrícola nos seus primórdios em solo brasileiro, com o passar dos anos a colônia japonesa alcançou os centros urbanos, em destaque para a cidade de São Paulo.

O Período Negro da Segunda Guerra Mundial

De 1908 a 1930, a imigração japonesa tornou-se intensa, principalmente depois da Primeira Guerra Mundial. Em 1932, os imigrantes nipônicos no Brasil passavam dos 130 mil. Em 1934, o presidente Getúlio Vargas, movido por sua política nacionalista, impõe cotas para esta imigração.
Concentrada no isolamento das colônias rurais, os imigrantes japoneses preservaram as suas tradições, continuando a falar a língua japonesa em suas casas. Criaram escolas japonesas para onde enviavam os filhos.
Às vésperas da Segunda Guerra Mundial, em 1938, novamente o governo do presidente Vargas impõe medidas que atingem a colônia japonesa, desta vez restringindo às atividades culturais e educacionais dos imigrantes italianos, alemães e japoneses. Deflagrada a guerra, só em 1942 o Brasil é obrigado a participar dos seus conflitos, combatendo ao lado dos aliados, declarando assim, guerra ao eixo Alemanha-Itália-Japão. É o período mais conturbado da história da imigração japonesa no Brasil.
Declarada a guerra ao Japão, o governo brasileiro rompe relações com aquela nação, fecha definitivamente as escolas japonesas no país, em todo o território nacional é proibido que se fale à língua nipônica.
Durante a guerra, há cerca de 200 mil imigrantes japoneses no Brasil. Destes, a maioria não aceitou a derrota do Japão, em 1945. A colônia dividiu-se em duas, os "derrotistas" (makegumi), que representavam menos de 20% dos imigrantes, e os "vitoristas" (kachigumi). Foi criada a organização Shindo Renmei, após a rendição do Japão, com o propósito de propagar no Brasil a idéia de que o Japão não tinha perdido a guerra, que as notícias da rendição era uma invenção dos EUA para enfraquecer o Japão. O Shindo Renmei perseguiu os japoneses que acreditaram que o Japão realmente tinha perdido a guerra, com o objetivo de matar os “derrotistas”, também chamados de “corações sujos”. Entre kachigumis e makegumis, oficialmente, 23 pessoas foram mortas entre 1946 e 1947. A organização só foi desfeita em 1947, quando o presidente Dutra mandou interrogar mais de 30 mil pessoas, prendendo 300 suspeitos, ameaçando com a expulsão, a 155 indivíduos da colônia.

Brasil e Japão, Parceiros Financeiros

O Brasil e o Japão só viriam a retomar as suas relações diplomáticas em 1952. É no fim desta década, que o Japão, já reerguido do colapso econômico no qual fora lançado durante a Segunda Guerra Mundial, começa a investir economicamente no Brasil. Em 1958, o estaleiro Ishikawajima do Brasil, conhecido como Ishibras, começou as suas operações. Este foi o primeiro de vários investimentos industriais que vieram através de acordos bilaterais entre Brasil e Japão. Em 1967, empresas japonesas, como a Toshiba e a NEC, começaram a investir no Brasil.
Nos anos oitenta, devido à crise gerada pela instabilidade financeira pós-ditadura militar, aconteceu o inverso na migração japonesa, descendentes brasileiros dos japoneses, emigraram para o Japão, à procura de melhores oportunidades de trabalho. Os emigrantes brasileiros no Japão, conhecidos na sua maioria por dekasseguis (brasileiros de origem japonesa). Cerca de 2500.00 emigrantes brasileiros vivem atualmente no Japão.
Desde 1908, a imigração japonesa no Brasil vai na sua quarta geração. A cada geração, há um termo japonês para designá-la:

Isseis – Japoneses da primeira geração, nascidos no Japão – 12,51%
Nisseis – Filhos de japoneses – 30,85%
Sanseis – Netos de japoneses – 41,33%
Vonseis – Bisnetos de japoneses – 12,95%

Cerca de 1,5 milhão de pessoas fazem parte da colônia japonesa no Brasil, a maior colônia de japoneses fora do Japão. Quando chegaram ao porto de Santos, em 1908, a maioria vinha com o propósito de passar apenas alguns anos no Brasil, voltando logo a seguir. Não voltaram. Fizeram do Brasil uma segunda pátria, introduzindo aqui a sua cultura, a sua miscigenação. Deram à cultura do Brasil, uma identidade ainda mais plural, com traços da cultura oriental.
publicado por virtualia às 19:12
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