
Quando falamos da história das telenovelas no Brasil, os nomes de Janete Clair, Glória Magadan, Dias Gomes e Ivany Ribeiro, são sempre lembrados como a própria raiz do gênero. Sem menosprezar a importância de qualquer um dos quatro novelistas citados, devemos ressaltar que uma grande injustiça é feita se for esquecido o nome de Bráulio Pedroso.
Grande autor de teatro da década de sessenta, Bráulio Pedroso chegou à televisão em novembro de 1968, convidado por Cassiano Gabus Mendes, então diretor geral da TV Tupi, para escrever a novela Beto Rockfeller, protagonizada por Luís Gustavo, Bete Mendes, Débora Duarte, Lima Duarte, Walter Forster e Irene Ravache. Estava inaugurada na televisão brasileira uma nova linguagem, que seria o futuro das telenovelas do Brasil. Beto Rockfeller rompe com a linguagem empolada e as interpretações dramáticas e artificiais que eram características do gênero desde que fora inaugurado no Brasil. A linguagem torna-se coloquial, rompe-se o maniqueísmo imposto às tramas, e o protagonista já não é o herói de caráter incorruptível, capaz de qualquer ato para proteger a heroína, de bom senso e de honestidade irrestrita. Beto Rockfeller (Luís Gustavo) é o anti-herói, o homem normal, próximo das pessoas que o assistem, capaz de atitudes boas ou más conforme os ventos que sopram pela vida. As notícias que estavam nos jornais da época fazem parte da trama, que prende o público por mais de um ano (a novela começou a 4 de novembro de 1968 e teve o último capítulo levado ao ar em 30 de novembro de 1969). Depois de Beto Rockfeller, ficou impossível para as emissoras de televisão voltar aos dramalhões mexicanos da TV Globo, às grandes e infindáveis produções de época da TV Excelsior. Sob a direção de Lima Duarte, a novela escrita por Bráulio Pedroso iniciou uma nova época na história da teledramaturgia brasileira. Sua obra retrata tipos e situações da vida carioca, flagradas com humor e causticidade, são personagens refletidas por um agudo esboço psicológico de uma sociedade que muda os seus costumes constantemente, mesmo camuflando essas mudanças, fingindo manter conceitos morais vigentes.
Um Novelista Irreverente
Bráulio Nuno de Almeida Pedroso, nasceu em São Paulo, em 1931. Mudou-se para o Rio de Janeiro, cidade que serviu de esboço e cenário para as personagens que criou. Estreou-se como dramaturgo em 1965, com a peça A Conspiração, abrindo o centro experimental que Cacilda Becker implantara em sua residência. Em 1966 escreve O Fardão, que encenada por Antonio Abujamra, dá-lhe os prêmios Molière e Associação Paulista de Críticos Teatrais, APCT, de melhor autor.
Após o sucesso de Beto Rockfeller, divisor de águas na história da telenovela brasileira, Bráulio Pedroso prossegue como novelista, escreve para a TV Tupi a sua segunda novela: Super Plá (1969-1970). Movida pela necessidade de mudar a linguagem da sua teledramaturgia, em parte pelo sucesso de Beto Rockfeller da concorrente TV Tupi, a TV Globo faz a reformulação das suas novelas em novembro de 1969, com Véu de Noiva, novela de Janete Clair. Estava encerrada definitivamente, a era dos teledramalhões. Com as mudanças, a emissora carioca contrata Bráulio Pedroso, que faz a sua estréia em março de 1971, com a novela O Cafona. No início dos
anos setenta a Globo tinha três horários fixos de novelas, o das 19 horas, os das 21 horas (a famosa novela das 20 horas, que vai ao ar às 21 horas) e o das 22 horas. Este esquema é válido para toda a década, sendo às vezes, interrompido com a criação do horário das 18 horas, que só se tornaria definitivo em 1975. O horário das 22 horas traz uma maior liberdade de criação ao novelista, que diante da censura federal do regime militar, sofre constantemente a mutilação dos seus textos. Bráulio Pedroso divide com Dias Gomes este horário, alternando-se simultaneamente.
O Cafona traz a irreverência de Bráulio Pedroso, o tema é a decadência moral da alta sociedade, que traz os novos ricos e o movimento hippie de então. As sátiras são feitas com muito humor. Com ele vem Marilia Pêra, que ao protagonizar esta novela, é elevada à condição de estrela da TV Globo. Francisco Cuoco, após relutar em fazer o papel por temer que afetasse a sua imagem de galã, é o protagonista, é dele uma das cenas mais antológicas da televisão brasileira, quando em um jantar de milionários, não sabe como se comportar e bebe a lavanda para lavar as mãos. O Cafona é a p
rimeira novela da Globo que tem duas trilhas sonoras, nacional e internacional, lançadas pela recém criada Somlivre, que a partir de então, lançaria todas as trilhas sonoras da emissora de Roberto Marinho.
Em 1972 o diretor de Beto Rockfeller, Lima Duarte, é chamado pela Globo para dirigir mais uma novela de Bráulio Pedroso: O Bofe. Bofe na gíria da época, significava homem feio, desajeitado, sujo, mal arrumado, assim se apresentava o protagonista, Cláudio Marzo, com uma imensa barba e um jeito sujo, uma imagem inconcebível para um herói de novela global. A novela era totalmente experimental, onde o deboche era a linguagem. Irreverente, a novela trazia o ator Ziembinski travestido de mulher, vivendo a velha Stanislava. A ousadia resultou em grande fracasso de audiência, que culminou na substituição de Bráulio Pedroso pelo novelista Lauro César Muniz. Insatisfeito com a mudança, o ator José Wilker pediu demissão da novela, seu personagem morreu de tanto rir.
Inovação a Cada Novela
Após o fracasso de O Bofe, Bráulio Pedroso voltou para a TV Tup
i em 1973, escrevendo a novela “A Volta do Beto Rockfeller”. A continuidade da novela não teve o sucesso alcançado em 1969, mas não chegou a comprometer a personagem histórica.
Bráulio Pedroso voltaria para a Globo em 1974, com a novela O Rebu. Mais uma vez trazia uma linguagem ousada e única da história da telenovela brasileira. A trama girava em torno de uma festa, dividida em três tempos: antes, durante e depois desta festa, feita em flashbacks. Desta vez o autor trazia para a Globo as atrizes Bete Mendes e Teresa Raquel. Na trama não se sabia quem morria ou quem matava, sabia-se que havia alguém afogado na piscina. Só no capítulo 50 era revelada a identidade do morto: Silvia (Bete Mendes), que trazia um cabelo cortado à pega rapaz, o que confundiu a identificação com uma mulher. É a primeira novela brasileira que traz uma temática gay de forma aberta, Conrad Mahler (Ziembinski) tem um caso velado com Cauê (Buza Ferraz), por ciúmes do amado, assassina Silvia.
A época de Bráulio Pedroso na TV Globo como novelista, encerrar-se-ia curiosamente não numa novela das 22 horas (horário que a Globo extinguiria em 1979, substituindo-o por mini-séries), mas às 19 horas, com “Feijão Maravilha”. Mais uma vez o autor inovava, fazia aqui uma comédia que homenageava as velhas chanchadas do cinema nacional dos anos cinqüenta. Estrelas do cinema da época participavam da novela: Anselmo Duarte, Adelaide Chiozzo, Eliana Macedo, Ivon Curi, Mara Rúbia, Grande Otelo, Walter D’Ávila e José Lewgoy.
Nos anos oitenta Bráulio Pedroso passa a escrever para as mini-séries que a Globo inaugurara no horário das suas antigas novelas. Faz parte dos roteiristas de Plantão de Polícia (1979-1980) e Amizade Colorida (1981). Encerraria a sua parceria com a Globo em 1983, com a mini-série “Parabéns Pra Você”. A partir de 1985 passa a fazer parte da equipe de criação de texto da TV Manchete, onde ficaria até 1986.
Bráulio Pedroso sofreria uma queda no banheiro de sua casa, em
1990, que lhe causaria fratura nas vértebras cervicais, vitimando-o de morte aos 59 anos. É inquestionável a importância de Bráulio Pedroso dentro das novelas brasileiras. A reapresentação da sua obra seria de grande importância para que se pudesse compreender o quão avançado eram os seus textos, e a importância social que eles tiveram em época de silêncio imposto pelo moralismo castrador da ditadura militar. Com irreverência, Bráulio Pedroso era uma luz dentro das trevas que vivia a nossa teledramaturgia.
OBRAS
Peças de Teatro:
1965 – A Conspiração
1967 – O Fardão
1967 – Isso Devia Ser Proibido
1968 – O Sr. Doutor
1968 – A Lua Muito Pequena
1968 – É a Tua Estória Contada?
1968 – O Negócio
1970 – A Vida Escrachada de Joana Martini e Baby Stompanato
1971 – As Hienas
1973 – Encontro no Bar
1975 – A Feira do Adultério
1975 – O Deus Nos Acuda
1977 – Festa de Sábado
1977 – Dor de Amor
1978 – As Gralhas
1979 – Lola Moreno
1981 – Isso Devia Ser Proibido
1988 – Morre Um Coração Vulgar
1988 – Nicolau
Novelas:
1968/1969 – Beto Rockfeller - TV Tupi
1969/1970 – Super Plá - TV Tupi
1971 – O Cafona - TV Globo
1972/1973 – O Bofe - TV Globo
1973 – A Volta do Beto Rockfeller - TV Tupi
1974/1975 – O Rebu - TV Globo
1978 – O Pulo do Gato - TV Globo
1979 – Feijão Maravilha - TV Globo
Seriados:
1979/1981 – Plantão de Polícia (co-autor) - TV Globo
1981 – Amizade Colorida (co-autor) - TV Globo
1985/1986 – Tamanho Família - TV Manchete
Mini-Séries:
1983 – Parabéns Pra Você - TV Globo
1985 – Tudo em Cima - TV Manchete
Grande autor de teatro da década de sessenta, Bráulio Pedroso chegou à televisão em novembro de 1968, convidado por Cassiano Gabus Mendes, então diretor geral da TV Tupi, para escrever a novela Beto Rockfeller, protagonizada por Luís Gustavo, Bete Mendes, Débora Duarte, Lima Duarte, Walter Forster e Irene Ravache. Estava inaugurada na televisão brasileira uma nova linguagem, que seria o futuro das telenovelas do Brasil. Beto Rockfeller rompe com a linguagem empolada e as interpretações dramáticas e artificiais que eram características do gênero desde que fora inaugurado no Brasil. A linguagem torna-se coloquial, rompe-se o maniqueísmo imposto às tramas, e o protagonista já não é o herói de caráter incorruptível, capaz de qualquer ato para proteger a heroína, de bom senso e de honestidade irrestrita. Beto Rockfeller (Luís Gustavo) é o anti-herói, o homem normal, próximo das pessoas que o assistem, capaz de atitudes boas ou más conforme os ventos que sopram pela vida. As notícias que estavam nos jornais da época fazem parte da trama, que prende o público por mais de um ano (a novela começou a 4 de novembro de 1968 e teve o último capítulo levado ao ar em 30 de novembro de 1969). Depois de Beto Rockfeller, ficou impossível para as emissoras de televisão voltar aos dramalhões mexicanos da TV Globo, às grandes e infindáveis produções de época da TV Excelsior. Sob a direção de Lima Duarte, a novela escrita por Bráulio Pedroso iniciou uma nova época na história da teledramaturgia brasileira. Sua obra retrata tipos e situações da vida carioca, flagradas com humor e causticidade, são personagens refletidas por um agudo esboço psicológico de uma sociedade que muda os seus costumes constantemente, mesmo camuflando essas mudanças, fingindo manter conceitos morais vigentes.
Um Novelista Irreverente

Após o sucesso de Beto Rockfeller, divisor de águas na história da telenovela brasileira, Bráulio Pedroso prossegue como novelista, escreve para a TV Tupi a sua segunda novela: Super Plá (1969-1970). Movida pela necessidade de mudar a linguagem da sua teledramaturgia, em parte pelo sucesso de Beto Rockfeller da concorrente TV Tupi, a TV Globo faz a reformulação das suas novelas em novembro de 1969, com Véu de Noiva, novela de Janete Clair. Estava encerrada definitivamente, a era dos teledramalhões. Com as mudanças, a emissora carioca contrata Bráulio Pedroso, que faz a sua estréia em março de 1971, com a novela O Cafona. No início dos

O Cafona traz a irreverência de Bráulio Pedroso, o tema é a decadência moral da alta sociedade, que traz os novos ricos e o movimento hippie de então. As sátiras são feitas com muito humor. Com ele vem Marilia Pêra, que ao protagonizar esta novela, é elevada à condição de estrela da TV Globo. Francisco Cuoco, após relutar em fazer o papel por temer que afetasse a sua imagem de galã, é o protagonista, é dele uma das cenas mais antológicas da televisão brasileira, quando em um jantar de milionários, não sabe como se comportar e bebe a lavanda para lavar as mãos. O Cafona é a p

Em 1972 o diretor de Beto Rockfeller, Lima Duarte, é chamado pela Globo para dirigir mais uma novela de Bráulio Pedroso: O Bofe. Bofe na gíria da época, significava homem feio, desajeitado, sujo, mal arrumado, assim se apresentava o protagonista, Cláudio Marzo, com uma imensa barba e um jeito sujo, uma imagem inconcebível para um herói de novela global. A novela era totalmente experimental, onde o deboche era a linguagem. Irreverente, a novela trazia o ator Ziembinski travestido de mulher, vivendo a velha Stanislava. A ousadia resultou em grande fracasso de audiência, que culminou na substituição de Bráulio Pedroso pelo novelista Lauro César Muniz. Insatisfeito com a mudança, o ator José Wilker pediu demissão da novela, seu personagem morreu de tanto rir.
Inovação a Cada Novela
Após o fracasso de O Bofe, Bráulio Pedroso voltou para a TV Tup

Bráulio Pedroso voltaria para a Globo em 1974, com a novela O Rebu. Mais uma vez trazia uma linguagem ousada e única da história da telenovela brasileira. A trama girava em torno de uma festa, dividida em três tempos: antes, durante e depois desta festa, feita em flashbacks. Desta vez o autor trazia para a Globo as atrizes Bete Mendes e Teresa Raquel. Na trama não se sabia quem morria ou quem matava, sabia-se que havia alguém afogado na piscina. Só no capítulo 50 era revelada a identidade do morto: Silvia (Bete Mendes), que trazia um cabelo cortado à pega rapaz, o que confundiu a identificação com uma mulher. É a primeira novela brasileira que traz uma temática gay de forma aberta, Conrad Mahler (Ziembinski) tem um caso velado com Cauê (Buza Ferraz), por ciúmes do amado, assassina Silvia.

Nos anos oitenta Bráulio Pedroso passa a escrever para as mini-séries que a Globo inaugurara no horário das suas antigas novelas. Faz parte dos roteiristas de Plantão de Polícia (1979-1980) e Amizade Colorida (1981). Encerraria a sua parceria com a Globo em 1983, com a mini-série “Parabéns Pra Você”. A partir de 1985 passa a fazer parte da equipe de criação de texto da TV Manchete, onde ficaria até 1986.
Bráulio Pedroso sofreria uma queda no banheiro de sua casa, em

OBRAS
Peças de Teatro:
1965 – A Conspiração

1967 – O Fardão
1967 – Isso Devia Ser Proibido
1968 – O Sr. Doutor
1968 – A Lua Muito Pequena
1968 – É a Tua Estória Contada?
1968 – O Negócio
1970 – A Vida Escrachada de Joana Martini e Baby Stompanato
1971 – As Hienas
1973 – Encontro no Bar
1975 – A Feira do Adultério
1975 – O Deus Nos Acuda
1977 – Festa de Sábado
1977 – Dor de Amor
1978 – As Gralhas
1979 – Lola Moreno
1981 – Isso Devia Ser Proibido
1988 – Morre Um Coração Vulgar
1988 – Nicolau
Novelas:
1968/1969 – Beto Rockfeller - TV Tupi

1969/1970 – Super Plá - TV Tupi
1971 – O Cafona - TV Globo
1972/1973 – O Bofe - TV Globo
1973 – A Volta do Beto Rockfeller - TV Tupi
1974/1975 – O Rebu - TV Globo
1978 – O Pulo do Gato - TV Globo
1979 – Feijão Maravilha - TV Globo
Seriados:
1979/1981 – Plantão de Polícia (co-autor) - TV Globo
1981 – Amizade Colorida (co-autor) - TV Globo
1985/1986 – Tamanho Família - TV Manchete
Mini-Séries:
1983 – Parabéns Pra Você - TV Globo
1985 – Tudo em Cima - TV Manchete