Sábado, 28 de Fevereiro de 2009

REIS MAGOS, DO EVANGELHO À LENDA

 


A comemoração do dia de reis tornou-se uma tradição secular cristã que chegou aos dias atuais. É atribuída aos reis magos a tradição da troca de presentes no natal. Construída durante os últimos séculos, a história dos magos termina com a reverência aos seus corpos, guardados como relíquias na catedral de Colônia, Alemanha. Melchior, Gaspar e Baltazar teriam visitado o Jesus recém-nascido, encontrando-o ainda na manjedoura, reverenciaram o rei dos reis. Este relato cristão originou a lenda dos três reis magos. Lenda porque ela nunca aconteceu, não da forma que se relata e das personagens que dela participam. Os magos, provavelmente astrólogos, descritos unicamente no Evangelho de Mateus, estão longe da imagem dos três reis magos que nos chegou. A começar pelo título de rei. Em nenhum momento Mateus os descreveu como reis, não lhes foi atribuído um número exato, muito menos os nomes.
Mas de onde surgiu a lenda de Melchior, Baltazar e Gaspar? E se não passam de uma lenda cristã, a quem pertence os corpos das relíquias da catedral de Colônia? É a estas questões que se tentará responder aqui, distanciando-se das tradições religiosas, apegando-se às evidências dos documentos históricos.

Os Magos no Evangelho de Mateus

As bases da lenda dos três reis magos remontam das histórias ao redor do nascimento de Cristo, ou seja, de uma narrativa de um dos evangelhos cristãos, o de Mateus. Dos quatro evangelhos – Mateus, Lucas, Marcos e João – só os de Mateus e Lucas relatam o nascimento de Jesus Cristo. Os evangelhos de Marcos e João relatam a vida do messias a partir do seu batismo feito por João Batista. Lucas e Mateus contam, de forma diferente, o nascimento de Cristo. Lucas conta que os pastores são avisados por um anjo do nascimento do ungido, são eles que encontram Maria e José na estrebaria, embalando uma criança na manjedoura. Mateus fala de magos (astrólogos) que visitam o recém nascido. É desta narrativa única nos evangelhos que surge o desenho do que seria a lenda dos reis magos:

“Depois de Jesus ter nascido em Belém da Judéia, nos dias de Herodes, o rei, eis que vieram magos (astrólogos) das regiões orientais a Jerusalém, dizendo: “Onde está aquele que nasceu rei dos judeus? Pois vimos a sua estrela quando no Oriente e viemos prestar-lhe homenagem.” O rei Herodes, ouvindo isso, ficou agitado, e, junto com ele, toda Jerusalém; e, convocando todos os principais sacerdotes e escribas do povo, começou a indagar deles onde havia de nascer o Messias. Disseram-lhe: “Em Belém da Judéia; pois é assim que se escreveu por intermédio do profeta: ‘E tu, ó Belém da terra de Judá, de nenhum modo és a mais insignificante entre os governadores de Judá; pois de ti sairá um governante que há de pastorear o meu povo, Israel.’”
Herodes convocou, então, secretamente os magos e averiguou deles cuidadosamente o tempo do aparecimento da estrela; e, ao enviá-los a Belém, ele disse: “Ide e procurai cuidadosamente a criancinha, e quando a tiverdes achado, avisai-me, para que eu também possa ir e prestar-lhe homenagem.” Tendo ouvido o rei, partiram; e eis que a estrela que tinham visto quando [estavam] no Oriente ia adiante deles, até que se deteve por cima do lugar onde estava criancinha. Ao verem a estrela, alegraram-se muitíssimo. E ao entrarem na casa, viram a criancinha com Maria, sua mãe, e, prostrando-se, prestaram-lhe homenagem. Abriram também seus tesouros e presentearam-na com dádivas: ouro, olíbano e mirra. No entanto, por terem recebido em sonho um aviso divino para não voltarem a Herodes, retiraram-se para o seu país por outro caminho.
” (Mateus 2:1,12)

Da Pérsia ou da Babilônia, de Onde Vieram os Magos?

Na narrativa de Mateus não é especificado o número dos magos. Conclui-se que é mais de um porque a narrativa está no plural. O livro diz-nos que são magos ou astrólogos, vindos do oriente, não nos informa que são reis. Os magos seriam uma casta de sacerdotes eruditos, astrólogos e astrônomos, que viviam na região da Média, na Pérsia. Estudavam os livros sagrados e seguiam os ensinamentos do profeta persa Zaratustra. A religião zoroastriana era monoteísta, com concepções de paraíso e de messianismo, que segundo alguns historiadores, influenciariam o judaísmo.
Outras versões apontam os magos descritos por Mateus como de origem da Babilônia. É comprovada a grande tradição dos babilônios nos estudos de astronomia. A descrição da estrela de Belém que guiou os magos, o estudo exato feito por eles do local onde ela brilharia, revela que pode ter sido um fenômeno astronômico possível de se prever, o que dá consistência à hipótese de serem astrônomos vindos da Babilônia.
Persas ou babilônios, é indiscutível que Mateus fala de magos, e não de reis, a visitar o messias recém-nascido. O título de reis viria apenas no século III, quando os cristãos primitivos, já sob influência do helenismo e, futuramente, da romanização da fé, tentam evidenciar a profecia do Salmo 72:11, de que diante do rei dos judeus prostrar-se-iam todos os reis. Teria sido Tertuliano de Cartago quem no início do século III, escreveria que os magos do oriente eram reis.

Surgem Melchior, Gaspar e Baltazar

Como Mateus não precisou o número exato dos magos, no início da veneração a eles, várias foram as interpretações de quantos seriam. Nos primeiros tempos do cristianismo chegaram a ser representados em doze. Há imagens medievais que mostram apenas dois. Na catacumba de Santa Domitilla, em Roma, aparecem quatro magos representados. Naturalmente chegou-se ao número de três reis magos devido às prendas oferecidas: ouro, olíbano e mirra.
Também a cor da pele de cada um não é mencionada no evangelho. Com o tempo, as crenças populares moldaram a fisionomia de cada um dos magos, dando-lhes idade, cor e nacionalidades diferentes. Por fim, receberam nomes: Melchior, Gaspar e Baltazar.
As identidades dos três reis magos, como nome, nacionalidade, idade e cor, só foram dadas cerca de 800 anos após o nascimento de Cristo. Os nomes de Gaspar, Melchior e Baltazar aparecem pela primeira vez, nos mosaicos da Basílica de San Apollinare Nuovo, em Ravena. Começam a ser referidos numa série de fontes a partir do século VII ou VIII.
Melchior (do hebreu Melichior, que significa o “rei da luz”), rei da Pérsia. Foi descrito por São Beda, o Venerável, como um velho de 70 anos, de cabelos e barbas brancas. Partiu de Ur, terra de Abraão, na Caldeia, rumo a Jerusalém, para reverenciar o messias.
Gaspar (do hebreu Gathaspa, “o branco”), rei da Índia. Na versão de São Beda era jovem de 20 anos, robusto, partira de uma distante região montanhosa, perto do Mar Cáspio.
Baltazar (do hebreu Bithisarea, “senhor do tesouro”), rei da Arábia. Segundo São Beda, era mouro, de barba cerrada, tinha 40 anos, partira do Golfo Pérsico, na Arábia Feliz.

Relíquias Sepultadas em Colônia

A adoração Medieval aos então recriados magos, gerou a lenda de que após 50 anos do nascimento de Cristo, eles voltaram a reencontrar-se. Desta vez não em Jerusalém, mas em Sewa, uma cidade da atual Turquia, fazendo parte dos primeiros cristãos que evangelizavam a fé na Ásia Menor. Melchior, Baltazar e Gaspar teriam falecido em Sewa, onde foram sepultados.
Foi na Idade Média que abundaram a procura e o encontro das relíquias religiosas vindas da Terra Santa. Reza a tradição que pedaços da cruz de Cristo chegaram em forma de relíquias às mãos de quase todos os cristãos ricos europeus, era tamanha a quantidade que se juntos fossem os pedaços, dariam centenas de cruzes. No meio das mais exóticas e imprevisíveis relíquias, teriam surgido os corpos do três reis magos. De Sewa foram transladados para Constantinopla, e dali para Milão. Quando Milão foi dominada pelo imperador germânico Frederico, as urnas mortuárias com as relíquias dos supostos reis magos, teriam sido novamente transladadas, por volta de 1164, desta vez para Colônia. Desde então, há uma crença que uma urna dourada, situada no altar-mor da catedral de Colônia, seja dos homens que viram o Cristo recém-nascido na manjedoura. Esta relíquia pode ser vista por quem visita a catedral.
Não se sabe a quem pertence os corpos de Colônia, a única certeza é de que não são dos magos que um dia, trouxeram os primeiros presentes ao menino que se tornaria o profeta do cristianismo.
Na figura dos magos, Mateus soube filtrar as interpretações das escrituras que apontavam o messias, fazendo da reverência e dos presentes desses homens, uma simbologia precisa de quem era o menino que viera ao mundo para cumprir a promessa de redimir a humanidade. A ele foi dado o ouro, que era na antiguidade, um presente para um rei; o olíbano (incenso), um presente para um sacerdote e a mirra, presente para um profeta, pois ela era usada para embalsamar corpos, representando a mortalidade do corpo e imortalidade da alma. Originados do relato dos magos de Mateus, os três reis magos permanecem como uma das belas lendas do cristianismo.
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Quinta-feira, 26 de Fevereiro de 2009

RETRATOS DE VÊNUS, POR SANDRO BOTTICELLI

 

 

O mito grego de Afrodite, ou Vênus para os romanos, por ter sido eleita a mais bela das deusas, a deusa do amor e da paixão humana, teve diversas representações nas artes através dos séculos. Das esculturas clássicas às pinturas renascentistas, passando pelo expressionismo, Vênus adquiriu vários rostos, vários corpos, mas nenhum foi mais famoso do que a Vênus de Sandro Botticelli, retratada na sua obra mais famosa, “O Nascimento de Vênus”. A imagem nua da sua Vênus de cabelos dourados, emergindo do mar sobre uma concha, correu o mundo e o imaginário das pessoas. Famosa como a Mona Lisa de Leonardo da Vinci, ou o David de Michelangelo, a Vênus nua não foi o único retrato da deusa feita por Botticelli. Outras grandes pinturas não menos famosas, “A Primavera” e “Vênus e Marte”, trazem uma Vênus vestida, menos sensual e com características menos profanas, como no caso do primeiro quadro. Seja qual for o retrato de Vênus que saiu das pinceladas de Botticelli, elas trazem a beleza do renascimento italiano, impregnada pela visão do neoplatonismo.
Aqui os três retratos da deusa do amor na criação de Sandro Botticelli: “A Primavera”, “O Nascimento de Vênus” e “Vênus e Marte”. Nas três obras, Vênus eterniza-se com os seus cabelos longos e dourados, mostrando que o mito foi além da imaginação humana, traduzido na beleza da arte e de um grande artista.

A Primavera

Obra de temática profana mitológica clássica, que com símbolos das divindades pagãs, apresenta-nos a chegada da estação que abre o círculo da vida e da sua renovação, ou seja, a primavera. Na concepção mitológica, Vênus, deusa do amor dos humanos e dos deuses, é a responsável pelo desejo da água, que tudo fecunda e renova. No quadro de Botticelli, Vênus aparece no centro da obra, mas não sendo a principal personagem da pintura. A deusa é representada de forma discreta, trazendo vestimentas recatadas. Esta discrição de Vênus remete-nos a uma compreensão que nesta obra, o artista condensa a representação pagã de Vênus às imagens renascentistas da virgem Maria. Vênus traz gestos nas mãos, como uma madona a abençoar o mundo. À sua cabeça a figura do anjo é substituída pela de Cupido, que com os olhos vendados, aponta a sua seta para a três Graças, que estão do lado esquerdo da deusa do amor.
Quando descortinamos a obra a partir da figura de Aglaia, Tália e Eufrósine, as três Graças, é que começamos a encontrar traços precisos da filosofia neoplatônica. As Graças surgem profanas, virginais, sensuais, trajando vestes transparentes, harmonizando a beleza das cores primaveris, pulsantes pela intervenção dos corpos humanos. Mais a ocidente do quadro está Mercúrio (Hermes), o mensageiro dos deuses, com suas sandálias aladas, trazendo uma túnica vermelha, exaltando-lhe a virilidade. Mercúrio dissipa as nuvens, rompendo com a tristeza do inverno, trazendo o sol de primavera.
Quando voltamos para a direita de Vênus, vamos encontrar Flora, a deusa das florestas e das flores. Flora traja roupas floris, das roupas a deusa espalha as flores pelos campos. Flora é a única personagem da obra a olhar diretamente para o observador, como se fosse atirar as flores além daquela paisagem, colorindo quem contempla a obra.
Ao oriente da obra surge Zéfiro, o vento do oeste. Zéfiro na mitologia é personificado como um vento agradável, uma brisa suave, é ele o mais suave de todos os ventos, o mensageiro da primavera. Zéfiro, retratado aqui como um ser esverdeado, abraça a bela ninfa Clóris. Na mitologia romana Flora é a mulher de Zéfiro, na mitologia grega ela é identificada com Clóris, uma das Alseídas, ninfa das flores. Conta a lenda que Zéfiros viu Clóris num dia de primavera, apaixonou-se fulminantemente por ela, raptando-a. Do amor de Zéfiro e Clóris nasceu Carpo, o deus dos frutos. É no abraço (ou rapto) de Zéfiro a Clóris que termina a obra de Botticelli. Ou começa, conforme o olhar de quem a contempla.

A Primavera
Sandro Botticelli (cerca de 1477-78)
Têmpera sobre madeira, 203 x 314 cm
Galeria Uffizi, Florença

O Nascimento de Vênus

Se em “A Primavera” a figura de Vênus surge recatada, quase como uma virgem católica, na obra mais conhecida de Sandro Botticelli, “O Nascimento de Vênus”, a deusa do amor é retratada nua, absoluta, sensual, totalmente profana, como o seu mito eterno.
Vênus nasceu da espuma do mar. Quando Saturno (Cronos) cortou os testículos do pai, Céu (Urano), destronando-o, atirou-os ao mar. Dos testículos amputados de Urano, uma grande espuma foi formada no mar, de onde nascia Vênus, ou Afrodite, a mais bela de todas as deusas.
É este momento sublime, o nascimento da deusa do amor, que nos retrata a bela obra de Botticelli. Ao nascer no meio do mar, Vênus é amparada por uma grande concha de madrepérolas. Uma Vênus nua, de cabelos longos e dourados, é apresentada no centro da obra, com todo o seu esplendor. Delicadamente, com uma das mãos cobre um dos seios, e com a outra mão, conduz a longa cabeleira dourada a esconder-lhe o sexo divino. Vênus aparece nua e a insinuar a nudez, sutilmente coberta, pronta para ser revelada.
Zéfiro surge à esquerda de Vênus, abraçado à sua eterna companheira, a ninfa das flores, Clóris. Cabe ao vento do oeste soprar a bela deusa para a ilha de Chipre. Clóris sopra sobre a deusa singela e belas violetas. Á esquerda, já na ilha de Chipre, está uma das Horas, que prepara uma túnica imortal para cobrir a deusa do amor.
O Nascimento de Vênus” é ao lado da estátua da Vênus de Milo, a representação mais conhecida do mito de Vênus-Afrodite. Tornou-se uma das obras mais difundidas nos tempos atuais, eternizando o seu criador. É um dos ícones mais representativo do Renascimento.
 


O Nascimento de Vênus
Sandro Botticelli (cerca de 1485)
Têmpera sobre tela, 1,72.5 x 2,78.5 cm
Galeria Uffizi, Florença

Vênus e Marte

O mito de Vênus está ligado ao seu casamento com Vulcano (Hefestos), deus dos vulcões e do fogo, que em um ato de vingança contra a mãe Juno (Hera), aprisionara-a a um trono de ouro. Vulcano exigiu como condição para soltar a mulher de Júpiter (Zeus), que lhe fosse oferecida Vênus em casamento. A deusa nunca aceitou o amor do marido, traindo-o com deuses e mortais. Dos amores adúlteros de Vênus, o mais famoso é o que viveu com Marte (Ares), o deus da guerra.
É o contraste da paixão entre a doçura passional da deusa do amor e a fúria, também ela passional, do deus da guerra, que Botticelli mostra nesta sua obra. “Vênus e Marte” é o momento lúdico de descanso e paz dos amantes após o ato do amor. O repouso traz uma paz passageira, harmoniosa.
Depois da nudez de Vênus em “O Nascimento de Vênus”, Botticelli traz aqui a deusa vestida, desta vez com um peplo debruado com passamanaria de ouro. Em contraste com Vênus, Marte é desnudado, tendo a virilidade coberta por um sutil manto branco. Vênus, debruçada sobre uma almofada, contempla o amante com calma de quem ama, enquanto ele dorme, exausto pela volúpia da paixão, sobre a suas armadura e despojos de guerra.
Entre os amantes surgem os Sátiros, deuses das florestas, de volúpia incontrolável, que aqui aparecem representados como crianças. Um dos sátiros tenta acordar o deus da guerra, soprando-lhe o ouvido com uma concha. Um outro entra na armadura do deus da guerra, e dois deles carregam o elmo e a lança, como se os escondesse. Nenhum dos quatro sátiros perturbam a deusa do amor.
O quadro contrasta a nudez de Marte com as vestes delicadas e sensuais de Vênus. Ambos repousam em uma clareira formada por mirtos, trazendo uma suavidade ao quadro, harmonizando a paixão e o amor, a guerra e a paz, duas vertentes indissociáveis dos mitos dos deuses.
 

Vênus e Marte
Sandro Botticelli (cerca de 1483)
Têmpera sobre madeira, 69,2 x 173,4 cm
National Gallery, Londres

Sandro Botticelli

Alessandro di Mariano Filipepi, passou para a história da arte como Sandro Botticelli. Nascido em Florença, em 1 de março de 1445, época de transição do fim da Baixa Idade Média e o Renascimento. Tinha pouco mais de dez anos quando entrou para o atelier de Filippo Lippi, de quem recebeu influências no estilo elegante de criar as suas obras. Botticelli foi também, ajudante de Andrea Del Verrochio que, ao lado de Piero Pollaiuolo, influenciariam as suas obras.
Botticelli aos 25 anos, já tinha o seu próprio atelier em Florença. Por volta de 1477 pintou, para enfeitar a residência dos Médici, uma das suas obras mais conhecida, “A Primavera”, de temática mitológica, trazendo os deuses Vênus e Mercúrio no centro da temática.
No ano de 1481 foi chamado a Roma pelo papa Sisto IV, para trabalhar ao lado de outros artistas, na decoração da capela Sistina. Ali realizou dois episódios da vida de Moisés: “As Provações de Moisés” e “O Castigo dos Rebeldes”, além de “A Tentação de Cristo”.
O artista voltaria à Florença para trabalhar para a família Médici, fazendo parte do círculo neoplatônico impulsionado por Lorenzo de Médici, o Magnífico. É desta época as suas obras mais famosas: “O Nascimento de Vênus”, de cerca de 1485, além de “Marte e Vênus” e “Minerva e o Centauro”, obras que traziam, novamente, uma temática profana mitológica.
Por volta de 1491 a 1498, Florença foi assolada pelo poder conservador do dominicano Girolamo Savonarola, que com a morte de Lorenzo, o Magnífico, perseguiria os Médici, e condenaria às obras profanas. Sandro Botticelli vê a sua obra afetada pela perseguição de Savonarola, desaparecendo dela a temática mitológica, dando passagem para criações de devoções religiosas e atormentadas. É desta época "A Calúnia de Apelles".
Quando Sandro Botticelli morreu, em 17 de maio de 1510, já Savonarela tinha sido queimado na fogueira por ter ousado confrontar o Vaticano, e os reinos da Itália viviam a plenitude estética do Renascimento. A obra de Sandro Botticelli, devido a sua rara beleza estética, faz parte desse renascimento, pode ser dividida em duas: de temática profana mitológica e de temática devota religiosa.

Principais Obras de Botticelli

O Nascimento de Vênus
A Primavera
A Adoração dos Magos
O Castigo dos Rebeldes
A Tentação de Cristo
Retrato de Dante Alighieri
Nastagio Degli Onesti
A Coroação da Virgem
O Inferno de Dante
A Virgem Escrevendo o Magnificat
A Virgem de Granada
Virgem Com o Menino e Dois Anjos
As Provações de Moisés
Minerva e o Centauro
Marte e Vênus
Retrato de Giuliano de Médici
A Calúnia de Apelles

 
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Quarta-feira, 25 de Fevereiro de 2009

GAL 1969, O PSICODÉLICO

 

 

Gal, de 1969 é o mais ousado disco da carreira de Gal Costa. Em nenhum outro momento a cantora repetiu o que ouvimos neste álbum. Gal, mais conhecido como o álbum psicodélico, a começar pela capa, com um desenho típico dos vôos sem céu do fim dos anos 1960. Na contra capa aparece uma imagem desfocada da cantora, com o seu cabelo “juba de leão”, já anunciando a sua fúria. O momento é de raiva. Seus amigos e companheiros da Tropicália, Gilberto Gil e Caetano Veloso, após a prisão em dezembro de 1968, seriam libertados na quarta-feira de cinzas de 1969, sendo escoltados até Salvador, de onde partiriam em Julho para o exílio em Londres. Gal Costa ficava sozinha com a sua raiva. Da menina bossa nova de “Domingo” (álbum de lançamento da sua carreira, em 1967) não resta nada. Suas interpretações e posturas, até então intimistas e contidas, tornam-se mais agressivas. A cantora junta-se a Jards Macalé e à guitarra de Lanny Gordin, o resultado é este álbum único, com apenas nove faixas, mas que não houve outro registro igual na música brasileira.

Do Rock Psicodélico ao Grito de Protesto

O álbum começa com “Cinema Olympia“ (Caetano Veloso), onde, sem maiores rodeios, ela já nos avisa:

Não quero mais
Essas tardes mornais, normais


Na década de 60 todas as grandes cidades tinham o seu cinema Olympia (Belém, São Paulo, Rio, Salvador – talvez o cinema que Caetano se refere, seja o Olympia da Baixa dos Sapateiros, famoso por suas matinés para a burguesia local, que nos anos 1960 passava filmes de westerns dos anos 40 de Tom Mix e Buck Jones). Caetano Veloso deixou esta música em demo, com o seu exílio nunca a gravou, sendo lançado recentemente um álbum com a versão demo e com inéditas do autor numa caixa comemorativa. Ao cantar “Cinema Olympia”, a voz jovial da cantora não nos indica a leoa enfurecida que está por vir.
Tuareg” (Jorge Ben) parece nos levar para oásis e desertos orientais, mas o ano é de 1969, a guerrilha urbana está no auge, assaltos a bancos, o seqüestro do embaixador norte-americano pela resistência guerrilheira, assassínio nas ruas de São Paulo de Carlos Marighela. Os versos de Jorge Ben não soam tão ingênuos, mas provocativos:

“Pois ele é guerreiro
Ele é bandoleiro
Ele é justiceiro
Ele é mandingueiro
Ele é um tuareg”

Seria um tuareg dos desertos? Ou um guerrilheiro das ruas das cidades brasileiras? A música fez parte da trilha do filme "O Diamante Cor-de-Rosa", de Roberto Farias, 1969, com Roberto Carlos e Erasmo Carlos.
É a partir de “Cultura e Civilização” (Gilberto Gil) que começam os gritos, as mixagens sujas, o canto rascante da leoa enfurecida.

“Contanto que me deixem meu cabelo belo
Meu cabelo belo
Como a juba de um leão


Com Medo, Com Pedro” e “Objeto Sim, Objeto Não” (aqui se registra o ápice da viagem psicodélica) são as outras duas canções de Gilberto Gil que entram no álbum. Gilberto Gil deixara as canções em demo no dia que embarcou para o exílio, para que Gal Costa pudesse saber como cantá-las.
O ano de 1969 também é o ano do festival de Woodstock, que reuniria em um sítio mais de 300 mil hippies e entraria para a história. A influência de Janis Joplin no início da carreira de Gal Costa é literalmente gritante nas faixas “The Empty Boat” (Caetano Veloso) e “Pulsars e Quasars” (Capinam – Jards Macalé), esta última encerra o álbum e mostra a insatisfação da cantora com os acontecimentos políticos, que a transformam na última representante da Tropicália, a sua fúria é refletida nas distorções da guitarra ácida de Lanny Gordin, nos versos que chamam e clamam pelos amigos exilados:

O inverso, um ser mutante universal
Meu ingresso para as touradas do mal
Dos sóis, Cá e Gil me mandem notícias logo
A sós, pulsos abertos, eu volto
Sem voz, ye ye, sem voz


Há tempo para aquela que seria por muitos anos, a música mais lembrada de Jorge Ben, “País Tropical “, numa participação especial de Gilberto Gil e Caetano Veloso. Resta a pergunta, esta participação foi feita em estúdio? Provavelmente não, pois desde que saíram da prisão Gilberto Gil e Caetano Veloso foram escoltados até Salvador, até o embarque para o exílio não pisaram mais no Rio de Janeiro e nem em São Paulo. Apesar de ser uma das mais belas e contundentes interpretações de “País Tropical”, a canção explodiu não com Gal Costa e seus convidados, mas através de Wilson Simonal, sendo esta versão durante anos conhecida apenas pelo público da cantora, recuperada bem mais tarde pela MPB.
O destaque do álbum vai para “Meu Nome é Gal” (Roberto Carlos – Erasmo Carlos), a dupla maior da Jovem Guarda fazia para Wanderléa músicas românticas, ingênuas. Para Gal era diferente, refletia uma mulher contestando a sua época, mostrando o amor livre de então, não importando cor, crença ou tradição. A canção mostra uma Gal Costa libertária, com seus ruídos vocais, os agudos aqui indomáveis diante da guitarra, mudando as oitavas. A cantora encerrava o lado A do disco com esta canção, rasgando a música na metade e se apresentando:

"Meu nome é Gal, tenho 24 anos
Nasci na Barra Avenida, Bahia
Todo dia eu sonho alguém pra mim
Acredito em Deus, gosto de baile, cinema
Admiro Caetano, Gil, Roberto, Erasmo,
Macalé, Paulinho da Viola, Lanny,
Rogério Sganzerla, Jorge Ben, Rogério Duprat,
Waly, Dircinho, Nando,
E o pessoal da pesada
E se um dia eu tiver alguém com bastante amor pra me dar
Não precisa sobrenome
Pois é o amor que faz o homem
"

Ao fechar o lado A do LP, ninguém mais se esqueceria daquela que gritava “Meu Nome é Gal”.
Na época Gal Costa refletia os dois lados da sociedade brasileira: a mulher que era reverenciada por uma juventude massacrada pela ditadura, remanescentes dos ventos vindos do Maio de 1968, de Paris, que trazia cabelos e roupas exóticas, que ousava confrontar os costumes e abraçar as novas tendências do mundo, que era convidada para fazer o show de moda Stravaganza, ao lado de Raul Cortez, na Fenite, e a mulher odiada pelos conservadores, que falavam para as suas filhinhas bem-comportadas: “Se não pentear os cabelos vai virar uma juba que nem os da Gal Costa”.
Gal”, o psicodélico, é tropicalista? É. É rock? É. É o Woodstock tupiniquim? É. É hippie, jopliniano? É tudo isto e mais um pouco. É Gal. O que faz o álbum “Gal”, o psicodélico, diferente do primeiro álbum solo da cantora? O romantismo. Nele não há tempo para as músicas românticas. É tempo de sobreviver, de gritar, contestar, portanto não há espaço para as músicas românticas. É a grande diferença dos dois álbuns de 1969 de Gal Costa.
Gal” 1969 é a intervenção mais radical da carreira de Gal Costa. Mostra uma cantora ímpar e sem limitações de carreira. No distanciamento do tempo, é um álbum amado ou odiado, sem meios termos. De uma atualidade incondicional. Virou o álbum mais cult da carreira da cantora. Depois deste álbum nada mais fez sentido na Tropicália. Encerrou-se aqui!

Release do Disco – Por Caetano Veloso

Você precisa saber que Gal Costa é um dos acontecimentos mais importantes da música brasileira de hoje. Na Bahia havia a Graça e uma sala profunda, enraizada, recôncava de cachoeiras mortas, uma voz guardada apenas ali, absoluta. Gal nunca teve medo. Eu não tenho medo de saber que é difícil para o artista assumir sua própria grandeza. Ela ouviu João Gilberto mais e melhor do que ninguém. Não acredito que alguém ainda tenha medo de guitarras elétricas. WOW! Acho que o nosso trabalho não estabelece um universo para Gal que o nosso experimentalismo necessariamente desorganizado... SNIF, SNIF, tudo é perigoso, "Why Each time Superman appears at that window, Clark Kent is not at his desk?", Janis Joplin, Jackson do Pandeiro, Cool, Paulinho da Viola, a legião dos Sub- heróis. Mas Gal EXPLODIU sozinha, muito acima de tudo. João Gilberto havia se comovido com a Graça, descobrindo sua voz guardada. Ninguém pode deplorar nosso Vale-Tudo: quando Gal canta, ele vale-nada. Gal EXPLODIU sozinha. Só vale Gal.
Eu sei que é assim
Caetano Veloso

Ficha Técnica:

Gal
Philips
1969

Direção da produção: Manuel Barenbein
Arranjos e direção musical: Rogério Duprat
Técnicos: João Kibelkstis e Stélio Carlini
Estúdio: Scatena - SP
Fotos da contracapa: Freitas
Capa: Dicinho

Músicos Participantes:
Baixo, guitarra solo e guitarra base: Lanny Gordin
Bateria: Eduardo Portes de Souza e Diógenes Burani Filho
Violão: Jards Macalé
Baixo: Rodolpho Grani Júnior

Faixas:

1Cinema Olympia(Caetano Veloso),2 Tuareg(Jorge Ben),3 Cultura e civilização(Gilberto Gil),4 País tropical(Jorge Ben)Participação: Caetano Veloso / Gilberto Gil,5 Meu nome é Gal(Erasmo Carlos - Roberto Carlos),6 Com medo, com Pedro(Gilberto Gil),7 The empty boat(Caetano Veloso),8 Objeto sim, objeto não(Gilberto Gil),9 Pulsars e quasars(Capinan - Jards Macalé)

 


 

 
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Segunda-feira, 23 de Fevereiro de 2009

JOHN DONNE: NENHUM HOMEM É UMA ILHA

 

 


 

John Donne é um dos maiores poetas de língua inglesa. Incompreendido na sua época, esquecido por muitos séculos, é hoje reverenciado e lido em todo o mundo. Sua obra serviu de inspiração para muitos outros poetas além do seu tempo.
Foi a partir de um belíssimo texto de John Donne, que o escritor norte-americano Ernest Hemingway, encontrou inspiração para o título do seu romance “Por Quem os Sinos Dobram”. O texto faz parte de “Meditações”, de onde foi extraído o trecho que abre o romance de Hemingway, eternizando-o, fazendo-o um dos textos literários mais conhecidos da atualidade.
O texto é de uma beleza rara, que transporta o homem em um universo que o coloca no centro de um oceano, mas que o revela a fazer parte do mundo, que a grandiosidade da saga humana está na quebra da solidão, porque somos os nossos amigos, o rompimento da nossa solidão. Somos o gênero humano, exaltado pela vida e diminuído apenas pela morte.

Nenhum Homem é uma Ilha Isolada




 


Meditation 17 (original)

 


 

(excerpt)

No man is an island, entire of itself; every man is a piece of the continent, a part of the main; if a clod be washed away by the sea, Europe is the less, as well as if a promontory were, as well as if a manor of thy friend's or of thine own were; any man's death diminishes me, because I am involved in mankind, and therefore never send to know for whom the bell tolls; it tolls for thee.





Meditação 17 (tradução)

(trecho)

Nenhum homem é uma ilha, isolado em si mesmo; todo homem é um pedaço do continente, uma parte da terra firme. Se um torrão de terra for levado pelo mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse o solar dos teus amigos ou o teu próprio; a morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano, e por isso não me perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.
 



Uma Vida Angustiada

John Donne nasceu em Londres, em 22 de janeiro de 1572, no seio de uma família aristocrática e católica. Numa época que para chancelar o seu adultério e divórcio, Henrique VIII rompia com a igreja de Roma, fundando a sua própria, a igreja anglicana. Este conflito religioso marcaria a vida de John Donne, que no seu íntimo considerava-se um católico e repudiava o anglicanismo, mas abraçou este último, para sobreviver e dele obter o reconhecimento e ascensão social da sua época.
O poeta perdeu o pai, também chamado John Donne, ainda criança. Freqüentou as universidades de Oxford e Cambridge, estudando direito. Era um homem que gostava da boemia, da noite e das farras, perdendo-se na juventude entre as mulheres e os pequenos prazeres mundanos.
Ainda na juventude, John Donne perdeu o irmão Henry, que morreu na prisão, onde foi parar por abrigar em sua casa um padre condenado pela justiça. A morte do irmão abala profundamente o poeta, que desde então, duvida da fé e da vida.
John Donne viveu uma vida de contradições interiores, dificuldades econômicas e aventuras existencialistas, como a que o levou a casar-se secretamente com Anne More, jovem de 17 anos, sobrinha do seu patrão. O casamento realizado de forma tempestuosa, foi responsável por sua prisão, provocada pela denúncia de George More, pai da sua mulher.
Com Anne teria 20 filhos, a pobre mulher morreria após o nascimento do último filho do casal, deixando John Donne ainda mais perdido no mundo, e sem vontade de viver. Desde então, Donne definhou a saúde, tornando-se um obcecado pela morte. Algumas semanas antes de morrer, em 1631, John Donne declamou em Londres, “Death’s Duel”, que ficou conhecido como o seu sermão funerário.

Uma Obra Eterna

John Donne foi um dos maiores oradores da sua época. Contemporâneo de William Shakespeare, teve a sua obra literária esquecida por quase três séculos.
Redescoberto, influenciou muitos poetas, como T. S. Elliot. A força dramática das suas palavras é quase um soco na existência humana. Muitas vezes o sopro das palavras percorrem universos mórbidos, linhas existenciais de labirintos que desnuda o homem, tornando-o prisioneiro das suas angústias.
A poesia de John Donne é delineada na beleza das palavras, nas angústias da existência humana, que escrita há mais de 300 anos, ainda se reflete nos nossos dias, tornando-se uma elegia no meio da aventura humana. Donne transforma as emoções religiosas numa poesia metafísica única, de uma rara concepção e beleza.


The Ecstasy (original)

Where, like a pillow on a bed
A pregnant bank swell'd up to rest
The violet's reclining head,
Sat we two, one another's best.

Our hands were firmly cemented
With a fast balm, which thence did spring;
Our eye-beams twisted, and did thread
Our eyes upon one double string;

So to'intergraft our hands, as yet
Was all the means to make us one,
And pictures in our eyes to get
Was all our propagation.

As 'twixt two equal armies fate
Suspends uncertain victory,
Our souls (which to advance their state
Were gone out) hung 'twixt her and me.

And whilst our souls negotiate there,
We like sepulchral statues lay;
All day, the same our postures were,
And we said nothing, all the day.

If any, so by love refin'd
That he soul's language understood,
And by good love were grown all mind,
Within convenient distance stood,

He (though he knew not which soul spake,
Because both meant, both spake the same)
Might thence a new concoction take
And part far purer than he came.

This ecstasy doth unperplex,
We said, and tell us what we love;
We see by this it was not sex,
We see we saw not what did move;

But as all several souls contain
Mixture of things, they know not what,
Love these mix'd souls doth mix again
And makes both one, each this and that.

A single violet transplant,
The strength, the colour, and the size,
(All which before was poor and scant)
Redoubles still, and multiplies.

When love with one another so
Interinanimates two souls,
That abler soul, which thence doth flow,
Defects of loneliness controls.

We then, who are this new soul, know
Of what we are compos'd and made,
For th' atomies of which we grow
Are souls. whom no change can invade.

But oh alas, so long, so far,
Our bodies why do we forbear?
They'are ours, though they'are not we; we are
The intelligences, they the spheres.

We owe them thanks, because they thus
Did us, to us, at first convey,
Yielded their senses' force to us,
Nor are dross to us, but allay.

On man heaven's influence works not so,
But that it first imprints the air;
So soul into the soul may flow,
Though it to body first repair.

As our blood labors to beget
Spirits, as like souls as it can,
Because such fingers need to knit
That subtle knot which makes us man,

So must pure lovers' souls descend
T' affections, and to faculties,
Which sense may reach and apprehend,
Else a great prince in prison lies.

To'our bodies turn we then, that so
Weak men on love reveal'd may look;
Love's mysteries in souls do grow,
But yet the body is his book.

And if some lover, such as we,
Have heard this dialogue of one,
Let him still mark us, he shall see
Small change, when we'are to bodies gone.

O Êxtase (tradução)

Onde, qual almofada sobre o leito,
A areia grávida inchou para apoiar
A inclinada cabeça da violeta,
Nós nos sentamos, olhar contra olhar.

Nossas mãos duramente cimentadas
No firme bálsamo que delas vem,
Nossas vistas trançadas e tecendo
Os olhos em um duplo filamento;

Enxertar mão em mão é até agora
Nossa única forma de atadura
E modelar nos olhos as figuras
A nossa única propagação.

Como entre dois exércitos iguais,
Na incerteza, o Acaso se suspende,
Nossas almas (dos corpos apartadas
Por antecipação) entre ambos pendem.

E enquanto alma com alma negocia,
Estátuas sepulcrais ali quedamos
Todo o dia na mesma posição,
Sem mínima palavra, todo o dia.

Se alguém - pelo amor tão refinado
Que entendesse das almas a linguagem,
E por virtude desse amor tornado
Só pensamento - a elas se chegasse,

Pudera (sem saber que alma falava
Pois ambas eram uma só palavra),
Nova sublimação tomar do instante
E retornar mais puro do que antes.

Nosso Êxtase - dizemos - nos dá nexo
E nos mostra do amor o objetivo,
Vemos agora que não foi o sexo,
Vemos que não soubemos o motivo.

Mas que assim como as almas são misturas
Ignoradas, o amor reamalgama
A misturada alma de quem ama,
Compondo duas numa e uma em duas.

Transplanta a violeta solitária:
A força, a cor, a forma, tudo o que era
Até aqui degenerado e raro
Ora se multiplica e regenera.

Pois quando o amor assim uma na outra
Interanimou duas almas,
A alma melhor que dessas duas brota
A magra solidão derrota,

E nós que somos essa alma jovem,
Nossa composição já conhecemos
Por isto: os átomos de que nascemos
São almas que não mais se movem.

Mas que distância e distração as nossas!
Aos corpos não convém fazermos guerra:
Não sendo nós, não convém fazermos guerra:
Inteligências, eles as esferas.

Ao contrário, devemos ser-lhes gratas
Por nos (a nós) haverem atraído,
Emprestando-nos forças e sentidos.
Escória, não, mas liga que nos ata.

A influência dos céus em nós atua
Só depois de se ter impresso no ar.
Também é lei de amor que alma não flua
Em alma sem os corpos transpassar.

Como o sangue trabalha para dar
Espíritos, que às almas são conformes,
Pois tais dedos carecem de apertar
Esse invisível nó que nos faz homens,

Assim as almas dos amantes devem
Descer às afeições e às faculdades
Que os sentidos atingem e percebem,
Senão um Príncipe jaz aprisionado.

Aos corpos, finalmente, retornemos,
Descortinando o amor a toda a gente;
Os mistérios do amor, a alma os sente,
Porém o corpo é as páginas que lemos.

Se alguém - amante como nós - tiver
Esse diálogo a um ouvido a ambos,
Que observe ainda e não verá qualquer
Mudança quando aos corpos nos mudamos.

Tradução: Augusto de Campos


Cronologia

1572 – Nasce em Londres, em 22 de janeiro, John Donne.
1576 – Morre subitamente, o pai de Donne.
1583 – Aos 11 anos, John Donne e o irmão, Henry, entram para a Hart Hall, na Universidade de Oxford, onde estudou por três anos. Estudaria os próximos três anos na Universidade de Cambridge.
1591 – Estuda direito, como membro da Thavies Inn.
1592 – Ingressa na Lincoln’s Hill, para estudar leis.
1593 – Morre na prisão, o irmão Henry, condenado por ter escondido um padre foragido em sua casa.
1596 – Ingressa na expedição marítima de Robert Devereux, o II Conde de Essex, em direção a Cádiz, Espanha.
1597 – Dirige-se em mais uma expedição, desta vez pata os Açores, onde escreveu “The Calm”.
1598 – Torna-se secretário particular de Sir Thomas Egerton.
1601 – Casa-se secretamente com a sobrinha de Sir Egerton, Anne More, com 17 anos na época. O pai de Anne, George More, manda prender John Donne e os seus amigos cúmplices por duas semanas. Manda-o libertar a seguir, mas rompe com ele.
1607 – John Donne recusa receber as ordens anglicanas. O rei James I persistiu, alegando que Donne não receberia qualquer título de nobreza senão da igreja Anglicana.
1609 – Reconcilia-se com o sogro, Sir George More, que se habilita a pagar-lhe o dote da sua filha.
1615 – John Donne entra para o ministério, tornando-se naquele ano, Capelão Real.
1617 – Morre a mulher Anne, em 15 de agosto, aos 33 anos, após ter dado a luz a vinte filhos, tendo o último nascido morto.
1618 – Vai em viagem, como capelão junto do Visconde Doncaster até a embaixada dos príncipes germânicos.
1620 – Retorna a Londres.
1621 – É nomeado reitor da St. Paul’s Cathedral. Destaca-se no cargo e estabiliza-se financeiramente.
1624 – Publicadas as reflexões que Donne escrevera enquanto estivera gravemente doente, com o nome de “Devotions Upon Emergent Occasions”. Ainda neste ano, foi intitulado vigário de “St Dunstan’s-in-the-West”.
1625 – Morre James I, Donne declama um sermão em seu funeral.
1630 – Devido ao estado frágil da sua saúde, é impedido de tornar-se bispo.
1631 – Morre em Londres, em 31 de março, John Donne.
 
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Quinta-feira, 19 de Fevereiro de 2009

BENÍCIO: RETRATOS DO CINEMA BRASILEIRO

 

 

O cinema nacional dos anos setenta ficou marcado pelas pornochanchadas. O termo surgiu de chanchada, designação para as comédias do cinema nacional de caráter popular, ingênuo e burlesco que predominou da década de trinta à ao início da década de sessenta. Com a mudança dos comportamentos sociais no mundo, o cinema absorveu novas tendências e uma nova linguagem. No Brasil, as chanchadas, inspiradas nos filmes italianos e franceses, adquiriram nos anos setenta, uma verve mais erótica, com cenas de nudez, que fizeram ser classificadas à época de pornográficas, surgindo o termo pornochanchada. Vistas aos olhos de hoje, as pornochanchadas eram filmes até certo ponto maliciosos, picantes, mas de um humor ingênuo, que nada lembram aos filmes pornôs atuais. Uma das características dos filmes das pornochanchadas era os seus cartazes, todos eles feitos pelo ilustrador José Luiz Benício, conhecido por J.L. Benício, ou simplesmente Benício. É dele a autoria dos famosos cartazes da então rainha das pornochanchadas, Vera Fischer, entre eles, o mais conhecido: “A Super Fêmea”, de 1973. Os cartazes de Benício eram uma marca do cinema nacional nos anos setenta e oitenta, não só os das pornochanchadas, mas de clássicos como “Dona Flor e os Seus Dois Maridos” (1976), “Independência ou Morte” (1972), “O Beijo no Asfalto” (1981), ou “Perdoa-me Por Me Traíres” (1983). Foram mais de 300 cartazes de filmes feitos por Benício, praticamente a produção de uma década. O traçado de Benício hoje faz parte do nosso acervo cultural, tornou-se cult, uma obra pop que reflete a identidade de uma época, que já distante, parece que foi ontem.

Das Mãos de Benício, Belos Rostos das Espiãs dos Livros de Bolsos

Benício é gaúcho de Rio Pardo, nascido em 1936. Iniciou a sua carreira de ilustrador aos 16 anos. Foi no Rio de Janeiro que, trabalhando para a Rio Gráfica Editora, passou a ser conhecido, construindo uma carreira que ilustrava, principalmente, as mulheres. Inspirado no norte-americano Norman Rockwell, é de Benício as ilustrações das mais famosas pin-ups feitas no Brasil.
As mulheres das ilustrações de Benício já eram famosas no Brasil antes dele ilustrar os cartazes do cinema. Sua fama vinha dos livros de bolso, ou pocket book. A partir dos anos cinqüenta os livros de bolsos tornaram-se populares no Brasil, atingindo o ápice nos anos sessenta. Uma geração de brasileiros deliciou-se com os livros de bolsos com histórias do western norte-americano, os famosos livrinhos de cowboys. Além deste tema, a Editora Monterrey criou duas outras séries de sucesso dos livrinhos de bolsos: ZZ7 e FBI. Todas as capas desses livros foram feitas por Benício.
É da série ZZ7 que surgiu a famosa espiã Brigitte Montfort. A imagem de Brigitte, uma morena de olhos azuis e corpo escultural, foi inspirada em uma modelo chamada Maria de Fátima Lins. A série dos livros de Brigitte Montfort tem uma origem curiosa, que muito mexeu com imaginário do brasileiro por mais de duas décadas. Sua origem remota da época em que, para concorrer com Nelson Rodrigues, que publicava o folhetim “Meu Destino É Pecar”, em “O Jornal”, sob o pseudônimo de Suzana Flag, David Nasser inventou uma personagem para o “Diário da Noite”, outra publicação dos “Diários Associados”, de Assis Chateaubriand. Surgia “Giselle - A Espiã Nua Que Abalou Paris”. Giselle Montfort foi apresentada aos leitores não como uma personagem fictícia, o “Diário da Noite” anunciava que comprara com exclusividade, as memórias da bela mulher que passara de cama em cama dos nazistas, obtendo informações para as forças aliadas. O nome de David Nasser como sendo o autor das memórias de Giselle, só seria revelado muitos anos depois. “Giselle - A Espiã Nua Que Abalou Paris”, fez vender nas bancas, milhares de exemplares do “Diário da Noite”. David Nasser jamais havia posto os pés em Paris, criou a espiã francesa em conversas com Jean Manzon, fotógrafo parisiense dos “Diários Associados”, para dar veracidade à ficção. Conta-se que, inconformado com os salários atrasados, David Nasser invadiu a sala de Assis Chateaubriand e ameaçou: "O senhor deve ter visto que a personagem principal está encostada num muro e vai ser fuzilada no capítulo de amanhã. Chega de trabalhar de graça." O patrão teria pago de imediato os salários atrasados, ressaltando: "Se Giselle aparecer morta, depois de amanhã você acorda desempregado, seu turco ordinário!". No final da história, Giselle era fuzilada pelos nazistas. Foi então que surgiu a idéia de criar a filha da Giselle, nascia a sedutora Brigitte Monrfort. A filha da espiã francesa foi uma das mais belas e famosas criações das ilustrações de Benício. Foram mais de 1500 capas de pocket books criados pelo ilustrador, que além de Brigitte Montfort, deu notabilidade a outro personagem: K. O. Durban.

Os Cartazes Eróticos das Pornochanchadas

Numa época de rigorosa censura moralista que assolava o Brasil, criar cartazes sensuais que atraíssem os telespectadores às telas dos cinemas exigia talento e sensibilidade, além de uma aguçada visão do momento que se vivia. Os cartazes das pornochanchadas eram insinuantes, eróticos, mas estavam longe da vulgaridade, ou tão pouco, eram pornográficos. Benício sabia como ninguém realçar a beleza sensual das atrizes, tornando-as irresistíveis e desejáveis.
Há que se esclarecer que as pornochanchadas não traziam atrizes de filmes pornôs, não eram filmes de sexo explícito, mas insinuado, eram comédias picantes, com uma dose de cenas de nudismo que excitava a platéia. Em um momento tão inóspito para as artes, foram as pornochanchadas que permitiram a sobrevivência do cinema nacional na época da ditadura militar, uma vez que temas políticos eram proibidos. O gênero só desapareceria em 1982, quando a censura da ditadura militar liberou os filmes de sexo explícito, e os filmes pornográficos passaram a ser feitos no Brasil. O primeiro filme pornográfico produzido no país, “Coisas Eróticas” (1982), teve uma grande repercussão, enterrando de vez as pornochanchadas.
Os cartazes de Benício insinuavam a nudez que se iria ver dentro das salas de cinema, mas jamais a visualizava por inteiro. O cartaz teria que ser revelador, sem cair na pornografia, passar a mensagem erótica, sem fazê-la vulgarmente. A respeito desses cartazes Benício declararia:
Eu era o Pitanguy das atrizes. As deixava mais bonitas do que eram realmente. Tirava a celulite, botava cintura. Eu resolvia o que não podia ser feito por fotografia, e elas ficavam felizes.”
Uma geração não se esquece dos anúncios na porta dos cinemas, com cartazes ilustrados por Benício, entre eles: “A Super Fêmea”, “Histórias Que as Nossas Babás Não Contavam”, “O Grande Gozador”, “.. Cada Um Dá o Que Tem” e “Um Soutien Para o Papai”.
Os cartazes de Benício sobreviveram aos próprios filmes, sendo hoje disputados por uma legião de fãs nos sebos e nos sites de leilões. As pornochanchadas cumpriram nos tempos sombrios da ditadura, a missão de não deixar o cinema nacional morrer. Ainda sobre o seu trabalho para os cartazes desses filmes, Benício, hoje com mais de setenta anos de idade, revela-nos:
“Eu tomava cuidado, nunca desenhava o bico do seio, por exemplo. A gente disfarçava, botava florzinha, um brilhante, o que fosse.”

Valiosa Contribuição Para o Cinema Nacional

A importância do trabalho de Benício para o cinema nacional vai além das pornochanchadas. Da sua genialidade criativa saíram os mais belos cartazes para os mais diversos estilos de filmes feitos no Brasil. Foram cerca de 30 cartazes para os filmes de “Os Trapalhões”. Quem foi criança na época de ouro de Os Trapalhões, lembra-se dos cartazes de Benício para os filmes dos comediantes, entre eles: “Simbad o Marujo Trapalhão", “Cinderelo Trapalhão”, ”Robin Hood o Trapalhão da Floresta”, e o clássico “Os Saltimbancos Trapalhões”, que se tornaria capa do álbum do mesmo nome, com músicas de Chico Buarque.
Das mãos de Benício saíram ainda, cartazes para clássicos do cinema nacional, como: “O Ébrio”, com Vicente Celestino; “O Profeta da Fome”, um psicodélico desenho para o filme de José Mojica Marins, o Zé do Caixão; “A Madona de Cedro”, filme com Leonardo Villar e os saudosos Sérgio Cardoso e Leila Diniz; “Independência ou Morte”, filme com Tarcísio Meira e Glória Menezes, feito para as comemorações dos 150 anos de independência do Brasil, em 1972; ou do mítico “Dona Flor e os Seus Dois Maridos”, de Bruno Barreto, que consagraria Sonia Braga no cinema nacional. Também é de Benício os cartazes de duas adaptações para o cinema da obra de Nelson Rodrigues, feitas nos anos oitenta: “Perdoa-me Por Me Traíres” e “O Beijo no Asfalto”.
José Luiz Benício, que na juventude sonhara ser músico, um pianista, tornou-se um ícone nas artes visuais do país com as suas míticas capas dos livros de bolsos ou com os mais de 300 cartazes para os filmes do cinema nacional.
Convidado por Oswaldo Massaini, em 1969, para ilustrar os cartazes do cinema, Benício só interromperia a sua produção nos anos noventa, quando o então presidente Fernando Collor acabou com a Embrafilme, e, conseqüentemente, com o cinema nacional. Quando foi retomado no fim dos anos noventa, o cinema já usava o computador para a produção dos seus cartazes, que tornam a produção mais barata. E a obra de Benício tornou-se um ícone histórico da sétima arte no Brasil.

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Terça-feira, 17 de Fevereiro de 2009

OS MESES DO ANO - SETEMBRO

 

 
Setembro é um mês de transição entre as estações, sendo tradicionalmente o mês das vindimas (colheita das uvas) no hemisfério norte, considerado por isto, o mês do vinho. Setembro no Brasil é o mês que floresce os ipês, uma das árvores símbolo do país. Por volta de 22 e 23 de Setembro o Sol cruza o Equador celeste rumo ao sul, dando-se o segundo e último Equinócio do ano, iniciando o outono no hemisfério boreal e a primavera no hemisfério austral.
Nono mês do ano do Calendário Gregoriano, possui 30 dias. Setembro tem o seu nome derivado do latim September, Septem significa sete, visto que no antigo Calendário Romano Março, mês que iniciava a primavera da Roma antiga, era o primeiro mês do ano, assim, SETEmbro era o sétimo mês. Mais tarde com o Calendário Juliano, Janeiro, mês do início do mandato dos cônsules romanos, deixou de ser o décimo-primeiro mês do ano, passando a primeiro. Originalmente Setembro tinha 31 dias, com a transformação do mês de Sextilis em Agosto e este passar a ter 31 dias, Setembro e Novembro mudaram a disposição que alternavam os dias dos meses, passando ambos a ter 30 dias.
Setembro inicia-se astrologicamente com o Sol no signo de Virgem (Virgo) e termina no signo de Balança (Libra) . Astronomicamente, o Sol inicia-se na constelação de Leão (Leo) e termina na constelação de Virgem (Virgo).

Setembros na História do Mundo

01 de Setembro
1939 – A Alemanha invade a Polônia, deflagrando uma crise internacional que marcará o início da Segunda Guerra Mundial.
1971 – Proclamada a Independência do Qatar, no Oriente Médio.
1983 – Um avião civil da Coréia do Sul é derrubado, por engano, por caças soviéticos, quando invadia o espaço aéreo daquele país, causando a morte das 269 pessoas que iam a bordo.

02 de Setembro
31 a.C – Otavio derrota as forças navais de Marco Antonio e Cleópatra, na Batalha de Actium (ou Áccio), na costa grega (na foto: quadro A Batalha de Actium, por Lorenzo A. Castro).
1666 – Um grande incêndio assola Londres, destruindo treze mil casas e oito igrejas, incluindo a catedral de Saint Paul.
1752 – A Grã-Bretanha deixa de utilizar o calendário Juliano, substituindo-o pelo Gregoriano, passando automaticamente, o dia seguinte, 3 de setembro para 14 de setembro.

03 de Setembro
1783 – Assinado o Tratado de Paris, entre a Grã-Bretanha e os Estados Unidos, pondo fim à guerra pela independência norte-americana.
1938 – O soviético Leon Trotsky e os seus seguidores funda a Quarta Internacional.
1939 – Após a invasão da Polônia pelo regime nazista, Inglaterra e França declaram guerra à Alemanha, iniciando oficialmente, a Segunda Guerra Mundial.

04 de Setembro
1870 – Deposto Napoleão III e proclamada a Terceira República na França.
1904 – Definidos, por um decreto imperial, os direitos de residência dos judeus na Rússia.
1965 – Lançado o compacto Help, dos Beatles, que iria atingir o primeiro lugar nas paradas inglesas.

05 de Setembro
1972 – O grupo terrorista palestino Setembro Negro, invade a vila olímpica em Munique, em um ataque que matou onze atletas israelenses.
1991 – Derrubada, em Tirana, Albânia, a última estátua de Enver Hoxha, numa cerimônia oficial que tinha jornalistas estrangeiros como convidados.
1997 – Morre a religiosa e humanista madre Teresa de Calcutá, que recebera o Prêmio Nobel da Paz em 1979.

6 de Setembro
1948 – A rainha Juliana é coroada na Holanda.
1991 – Reconhecida, pelo novo Conselho de Estado da União Soviética, a independência das repúblicas bálticas Estônia, Letônia e Lituânia.
1997 – Milhões de pessoas assistem comovidas, ao funeral da princesa Diana, em cortejo que sai da abadia de Westminster, em Londres, e termina em Altroph, na propriedade da família Spencer.

07 de Setembro
1701 – Assinado o Tratado da Grande Aliança, em Haia, que opunha a Grã-Bretanha, a Holanda e o Sacro Império Romano-Germânico contra a França.
1955 – É concedido o direito ao voto para as mulheres no Peru.
1982 – A União Soviética faz uma grande retirada das suas tropas do Afeganistão.

08 de Setembro
1944 – Durante a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha lança sobre Londres, a primeira bomba V-2 (na foto: ataques durante a guerra em Londres, na área de Tower Bridge).
1952 – Publicado nos Estados Unidos, o livro “O Velho e o Mar”, de Ernest Hemingway.
1964 – Malta, situada no mar Mediterrâneo, conquista a independência da Grã-Bretanha.

09 de Setembro
1948 – Criada a Coréia do Norte, separando a península da Coréia em dois países distintos.
1976 – Morre na China, aos 82 anos, o líder revolucionário chinês Mao Tse-Tung.
1991 – O Tadjiquistão torna-se a décima primeira república soviética a declarar-se independente da União Soviética.

10 de Setembro
1586 – Posto, durante o pontificado de Sisto V, no centro da praça de São Pedro, no Vaticano, um obelisco originário do Egito.
1898 – Assassinada, em Genebra, pelo anarquista Luigi Luccheni, a imperatriz da Áustria, Elizabeth Wittelsbach, conhecida como Sissi.
1977 – Última execução pela guilhotina, na França, do assassino Hamida Djandoubi, imigrante da Tunísia.

11 de Setembro
1926 – Benito Mussolini sofre um atentado em Roma, Itália, no qual oito pessoas ficam feridas.
1973 – Golpe de estado no Chile, promovido pelos militares sob a direção de Augusto Pinochet, derruba o presidente Salvador Allende, que morre durante o ataque dos rebeldes ao palácio do governo.
2001 – Aviões seqüestrados por terroristas islâmicos são jogados contra as torres do World Trade Center, em Nova York, derrubando-as e causando a morte de quase duas mil pessoas.

12 de Setembro
1297 – Assinado o Tratado de Alcanizes, entre os reis dom Diniz de Portugal e dom Fernando IV de Castela, definindo as fronteiras de Portugal e Castela.
1943 – Mussolini, preso pelas autoridades italianas após a queda do regime fascista, é libertado por um comando das SS, dirigida pelo capitão Skorzeny.
1968 – A Albânia é expulsa do Pacto de Varsóvia, depois de romper com a União Soviética e aproximar-se da China.

13 de Setembro
1276 - Pedro Julião, cardeal-bispo português, é eleito papa, com o nome de João XXI.
1500 – Expedição de Pedro Alvarez Cabral chega a Calicute, na Índia.
1923 – Golpe de estado militar toma o poder na Espanha, iniciando uma ditadura de sete anos.

14 de Setembro
1812 – Napoleão Bonaparte invade Moscou, mas a população provoca um grande incêndio na cidade, fazendo os franceses abandonarem o local.
1960 – Criada em Bagdá, Iraque, pelo encontro dos países produtores de petróleo, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP).
1982 – Morre, aos 52 anos, em um acidente de automóvel, a princesa Grace de Mônaco, ex-atriz de Hollywood, mundialmente famosa como Grace Kelly.

15 de Setembro
1916 – Usados pela primeira vez, durante a Primeira Guerra Mundial, tanques de guerra, pelo exército britânico no ataque à Alemanha e à Bélgica.
1935 – Aprovação das Leis de Nuremberg, que proibiam o casamento de judeus com alemães não judeus e retirava-lhes a cidadania alemã.
1946 – Proclamada a República Popular da Bulgária.

16 de Setembro
1620 – 102 colonos peregrinos partem de Plymouth, na Inglaterra, no navio Mayflower, rumo à América do Norte, com o objetivo de iniciar a colonização da Nova Inglaterra (na foto, gravura do Mayflower).
1908 – Fundada, nos Estados Unidos, a General Motors, por William Durant.
1975 – Declaração de independência da Papua-Nova Guiné.

17 de Setembro
1934 – A União Soviética passa a fazer parte da Sociedade das Nações.
1946 – Deflagrada a guerra civil na Grécia.
1980 – Assassinado em Assunção, Paraguai, o ex-presidente da Nicarágua, Anastásio Somoza.

18 de Setembro
1499 – O navegador Vasco da Gama desembarca em Lisboa, voltando da bem-sucedida viagem à Índia.
1810 – Declaração de independência do Chile.
1851 – Publicado o primeiro jornal norte-americano, o The New York Times.

19 de Setembro
1881 – Assassinado o presidente dos Estados Unidos, James A. Garfield.
1893 – A Nova Zelândia torna-se o primeiro país a permitir o direito de voto à mulher.
1928 – Mickey Mouse aparece pela primeira vez no filme “Steamboat Willie”, de Walt Disney.

20 de Setembro
1822 – O general San Martin inaugura o Congresso peruano.
1946 – Realização do I Festival Cinematográfico de Cannes.
1990 – Unificadas a Alemanha Ocidental e Alemanha Oriental.

21 de Setembro
1761 – Realização do último auto-de-fé com condenação à morte em Lisboa, em que o padre jesuíta Gabriel Malagrida, denunciado como falso profeta e impostor pelo marquês de Pombal, é queimado no Rossio (na foto, gravura de um auto-de-fé no Rossio, Lisboa).
1949 – Proclamada a República Popular da China, iniciando-se a era de Mao Tse-Tung.
1981 – Declaração de independência do Belize, na América Central.

22 de Setembro
1828 – O fundador do Império dos Zulus, na África do Sul, Shaka, é assassinado pelos seus dois meio irmãos.
1928 – Descoberta, pelo médico e bacteriologista britânico Alexander Fleming, a penicilina.
1932 – O príncipe Abdelaziz Al Saud é proclamado rei da Arábia Saudita.

23 de Setembro
1846 – Descoberto Netuno, o oitavo planeta do sistema solar.
1973 – Morre o escritor e poeta chileno, Pablo Neruda.
1991 – Declaração de independência da Armênia, que deixa de fazer parte da União Soviética.

24 de Setembro
1730 – Um grande incêndio assola a cidade do Porto, em Portugal.
1934 – Morre dom Pedro IV de Portugal e I do Brasil, no Palácio de Queluz, no mesmo quarto onde tinha nascido.
1997 – Chega ao fim a guerra civil da Argélia, após cinco anos, com um saldo de oitenta mil mortos.

25 de Setembro
1513 – Avistado, pela primeira vez, o Oceano Pacífico, pelo explorador espanhol Vasco Nunez de Balboa.
1864 – Fundação, em Londres, da Associação Internacional de Trabalhadores.
1984 – A Jordânia restabelece relações diplomáticas com o Egito, rompidas desde 1979, quando este país reconheceu o Estado de Israel.

26 de Setembro
1907 – Declaração de independência da Nova Zelândia.
1960 – Transmitida pela primeira vez na televisão, um debate entre candidatos à presidência dos Estados Unidos, tendo John Kennedy e Richard Nixon como protagonistas.
1969 – Lançado Abbey Road, o último álbum dos Beatles.

27 de Setembro
1540 – A Companhia de Jesus é reconhecida oficialmente como ordem pelo papa Paulo III.
1940 – Após resistir 19 dias a ataques intensivos, Varsóvia, capital da Polônia, rende-se ao exército invasor alemão.
1996 – As forças talebãs invadem Cabul, capital do Afeganistão, expulsando o presidente e implantando um rígido regime islâmico.

28 de Setembro
1864 – Karl Marx realiza, em Londres, a Primeira Internacional, que dará corpo à criação dos Partidos Socialistas pelo mundo.
1978 – Morre, em circunstâncias obscuras, após 33 dias de pontificado, o papa João Paulo I.
1995 – Yitzhak Rabin, primeiro ministro israelense, e Yasser Arafat, presidente da OLP, assinam um acordo na Casa Branca, na capital norte-americana, que permite a criação de governo palestino para administrar os territórios ocupados por Israel desde 1967 (na foto: Rabin, Clinton e Arafat no dia que se assinou o acordo em Washington).

29 de Setembro
1923 – A Grã-Bretanha inicia o seu mandado sobre a Palestina.
1941 – Mais de 33 mil judeus são mortos durante o massacre de Babi Yar, perto de Kiev, na Ucrânia, no início da invasão alemã à União Soviética.
1992 – Realizadas as primeiras eleições legislativas e presidenciais em Angola.

30 de Setembro
1955 – Morre, aos 24 anos, o ator norte-americano James Dean, em um acidente de automóvel.
1966 – É libertado, após vinte anos de prisão, Albert Speer, arquiteto de Hitler e ministro dos armamentos no fim da Segunda Guerra Mundial, que tinha sido condenado pelo Tribunal de Nuremberg.
1991 – O padre Jean-Bertrand Aristide, presidente do Haiti, é derrubado por um golpe militar.

Setembros na Hitória do Brasil

01 de Setembro
1886 – Nasce em Capivari, São Paulo, Tarsila do Amaral, uma das principais artistas do modernismo no Brasil.
1992 – Câmara dos Deputados recebe das mãos de Barbosa Lima Sobrinho pedido de impeachment do presidente Collor.

02 de Setembro
1807 – Expira o ultimato dado por Napoleão a Portugal para o rompimento com a Inglaterra, o que precipitaria a retirada da corte portuguesa para o Brasil.
1961 – Emenda constitucional institui o sistema parlamentarista, reduzindo o poder do presidente João Goulart.

03 de Setembro
1759 – Lei assinada pelo rei português dom José, sob orientação do futuro marquês de Pombal, expulsa os jesuítas de todos os seus domínios, inclusive o Brasil.
1973 – Desaparecimento de Paulo Stuart Wright, que era perseguido pela ditadura militar por sua atuação como dirigente da Ação Popular.

04 de Setembro
1639 – Henrique Dias é nomeado “governador dos crioulos, negros e mulatos” durante a guerra contra a ocupação holandesa no nordeste.
1969 – Charles Elbrick, embaixador dos EUA no Brasil, é seqüestrado no Rio de Janeiro. O grupo de ativistas exigia a libertação de 15 presos políticos.
1973 – O MDB, partido de oposição ao partido da ditadura militar, indica Ulysses Guimarães e Barbosa Lima Sobrinho como candidatos a presidente e vice-presidente da República.

05 de Setembro
1850 – Criação da província do Amazonas, com nome de São João do Rio Negro.
1889 – Inaugurada a primeira usina hidrelétrica do Brasil, em Juiz de Fora, Minas Gerais.
1893 – Eclode a Revolta da Armada, no Rio de Janeiro, reprimida com violência por ordem do presidente Floriano Peixoto.

06 de Setembro
1612 – O franceses na tentativa de construir uma colônia em terras brasileiras, liderados por Daniel de La Touche, fundam o forte de São Luís, origem da cidade de São Luís do Maranhão.
1897 – Nasce no Rio de Janeiro, o pintor Di Cavalcanti.
1922 – Letra do Hino Nacional, de autoria de Osório Duque Estrada, é oficializada.

07 de Setembro
1822 – Dom Pedro de Portugal lança o grito de independência do Ipiranga, às margens do rio do mesmo nome, próximo a São Paulo (foto).
1824 – O Brasil contrai com a Inglaterra a sua primeira dívida externa, no valor de 3 milhões de libras esterlinas.
1826 – Comemorada pela primeira vez neste dia, a Independência (era celebrada a 12 de outubro, dia da aclamação de dom Pedro I).

08 de Setembro
1612 – São Luís, atual capital do Maranhão, é fundada pelos franceses que ocupavam a região.
1793 – Realizada pela primeira vez, no Pará, a procissão do Círio de Nazaré.
1915 – O senador Pinheiro Machado é assassinado no saguão do Hotel dos Estrangeiros, no Rio de Janeiro, pelo popular Manso de Paiva.

09 de Setembro
1969 – Publicado no Diário Oficial da União o Ato Institucional nº 13, que bania do país todo brasileiro que “se tornar inconveniente, nocivo ou perigoso à segurança nacional”.
1969 – Governo militar decreta o Ato Institucional nº 14, que institui a prisão perpétua e a pena de morte para o caso de “guerra revolucionária”.

10 de Setembro
1611 – Lei do rei Filipe II de Portugal (III de Espanha) declara legítima a escravização dos índios aprisionados em guerra.
1808 – Circula pela primeira vez a Gazeta do Rio de Janeiro, primeiro jornal publicado no Brasil.

11 de Setembro
1812 – Nasce na Polônia, Napoleão Chernoviz, autor do mais famoso manual de medicina popular do Brasil no século XIX.
1861 – O governo imperial passa a reconhecer casamentos celebrados em outras religiões além da católica.
1983 – Os irmãos iatistas Torben e Lars Grael conquistam pela primeira vez o título para o Brasil no campeonato mundial da classe Snipe, em Portugal.

12 de Setembro
1631 – Batalha entre as esquadras espanhola e holandesa pela posse da Bahia.
1711 – À frente de uma grande esquadra, o corsário francês Duguay-Trouin toma e saqueia a cidade do Rio de Janeiro, onde permaneceu por quase dois meses.
1831 – Nascimento de Álvares de Azevedo, escritor brasileiro.

13 de Setembro
1643 – Governo português proíbe o consumo de cachaça no Brasil, com exceção de Pernambuco.
1826 – A cidade de Salvador recebe de dom Pedro I o título de “leal e valerosa”.
1987 – Dois sucateiros encontram aparelho radiológico em Goiânia, dando início da contaminação por césio 137, que levou dezenas de pessoas à morte e provocou mais tarde sérios problemas físicos e psicológicos em outras tantas.

14 de Setembro
1831 – Iniciada em Recife, revolta da tropa de guarnição, movimento que ficou conhecido como “Setembrada”.
1844 – O governo brasileiro reconhece a independência do Paraguai.
1974 – Entra em operação em São Paulo, a primeira linha do metrô do Brasil.

15 de Setembro
1821 – Revérbero Constitucional Fluminense, periódico que publicava textos antilusitanos, começa a circular no Rio de Janeiro.
1869 – Decreto do governo imperial proíbe os leilões de escravos.
1890 – São realizadas as eleições para a Assembléia Constituinte, a primeira republicana, que são consideradas fraudulentas e manipuladas pelos militares alinhados com Deodoro da Fonseca.

16 de Setembro
1817 – É criada por um decreto a capitania do Alagoas, desmembrando-a de Pernambuco.
1896 – Morre em Belém, Pará, o compositor Carlos Gomes, autor da ópera O Guarani (foto).
1963 – Após vencer o Milan na final, o Santos se torna bicampeão mundial de futebol.

17 de Setembro
1854 – Inaugurado no Rio de Janeiro, o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, atual Instituto Benjamin Constant, primeira instituição desse tipo na América Latina.
1971 – É morto em emboscada, Carlos Lamarca, um dos mais ativos membros da oposição armada ao regime militar.

18 de Setembro
1850 – Império sanciona a Lei de Terras, que definia que a única forma de se tornar proprietário de terras desocupadas era comprando-as ao Estado.
1941 – É fundada no Rio de Janeiro, a Atlântida Empresa Cinematográfica do Brasil, que criou as chanchadas no cinema (foto).
1950 – Inaugurada em São Paulo, a TV Tupi, primeira estação brasileira de televisão (foto).

19 de Setembro
1709 – Rei português dom João V eleva povoação de Recife à categoria de vila.
1710 – Jean François Duclerc, corsário francês que havia invadido o Rio de Janeiro, rende-se com seus comandados às tropas improvisadas que defendiam a cidade.
1837 – Padre Antônio Feijó renuncia à regência do governo brasileiro.

20 de Setembro
1702 – Bispo do Rio de Janeiro pede ao governo português providências contra mulheres que saíam à noite para “pecar”.
1835 – Forças rebeldes lideradas por Bento Gonçalves tomam Porto Alegre, iniciando-se assim, a Revolução Farroupilha, contra o centralismo do Império.

21 de Setembro
1904 – Primeira festa em comemoração ao “Dia da Árvore”, no Rio de Janeiro.
1942 – Morre Lindolfo Collor, o primeiro ministro a ocupar a pasta do Trabalho, criada por Getúlio Vargas em 1930.
1994 – Uma operação da Polícia Federal, Florestal e do Ibama desencadeia o fechamento de garimpos ilegais de diamantes na cabeceira do rio Paraguai, no Mato Grosso do Sul.

22 de Setembro
1897 – Morre Antônio Conselheiro, líder dos moradores do arraial de Canudos, destruído pelo exército republicano.
1866 – Tropas brasileiras e argentinas são repelidas pelos paraguaios na batalha de Curupaiti, durante a Guerra do Paraguai.
1959 – Conferida postumamente a Santos Dumont a patente honorária de marechal-do-ar.

23 de Setembro
1703 – Dom Pedro II, rei de Portugal, proíbe que as escravas do Brasil usem jóias de ouro e roupas de seda.
1966 – Polícia invade a Faculdade de Medicina no Rio de Janeiro, e prende seiscentos estudantes.
1994 – Nasce o primeiro bebê de proveta brasileiro, gerado durante a menopausa da mãe, uma enfermeira de 53 anos, no Rio de Janeiro.

24 de Setembro
1834 – Morre aos 36 anos em Lisboa, dom Pedro I do Brasil (IV de Portugal).
1972 – Burlando a censura, o jornal O Estado de S. Paulo publica notícia sobre a guerrilha do Araguaia.

25 de Setembro
1534 – Capitania de Pernambuco é doada a Duarte Coelho.
1960 – Recenseadores do IBGE encontram em Ubatuba, índios que nunca tinham tido contato com a civilização.
1967 – Carlos Lacerda e João Goulart se encontram em Montevidéu, Uruguai, e tentam organizar um movimento para derrubar a ditadura militar no Brasil.

26 de Setembro
1762 – Nasce em Salvador, Cipriano Barata, um dos líderes da Conjuração Baiana, em 1798, e da Revolução Pernambucana em 1817, contra a Coroa portuguesa.
1936 – Fundada em Curitiba, a Academia Paranaense de Letras.
2000 – Morre Baden Powell de Aquino, grande violonista brasileiro.

27 de Setembro
1736 – Morre em Paris, Duguay-Trouin, corsário francês que liderou a invasão ao Rio de Janeiro em 1711.
1842 – Inaugurada em São Paulo, a iluminação pública a azeite.
1953 – A TV Record, segunda emissora de televisão brasileira, é inaugurada em São Paulo.

28 de Setembro
1871 – A Lei do ventre Livre declara livres todos os filhos de escravas nascidos a partir da data da sua promulgação.
1885 – Assinada a Lei dos Sexagenários, que prevê a extinção “gradual” do trabalho escravo.

29 de Setembro
1857 – Lei da província do Rio de Janeiro eleva a povoação de Petrópolis à categoria de cidade.
1908 – Morre o escritor brasileiro Machado de Assis.
1988 – Desempregado, culpando o presidente Sarney pelo fato, seqüestra um Boeing-737 e mata co-piloto, com o objetivo de jogar o avião sobre o Palácio do Planalto, mas é morto após pousar em Goiânia.

30 de Setembro
1642 – Começa no Maranhão uma insurreição liderada por Antônio Muniz Barreiros, contra o domínio holandês no Nordeste.
1937 – Divulgado documento (conhecido como “plano Cohen”) produzido pelo capitão do exército e militante integralista, Olimpio Mourão Filho, sobre um suposto plano comunista para tomar o Brasil, que desencadearia o golpe que inauguraria o governo ditatorial do Estado Novo.
1992 – Itamar Franco assume a presidência do Brasil após o impeachment de Fernando Collor.

Nascidos em Setembro

01 de Setembro
António Lobo Antunes, escritor e psiquiatra português
Edgar Rice Burroughs, escritor norte-americano
Fernanda Borsatti, atriz portuguesa
Tarsila do Amaral, pintora brasileira
Vittorio Gassman, ator italiano
Yvonne De Carlo, atriz canadense

02 de Setembro
Giuliano Gemma, ator italiano
Keanu Reeves, ator canadense nascido no Líbano
Oscar Magrini, ator brasileiro
Paulo Francis, jornalista brasileiro
Salma Hayek, atriz mexicana
Victor Fasano, ator brasileiro

03 de Setembro
Alan Ladd (foto), ator norte-americano
Charlie Sheen, ator norte-americano
Irene Papas, atriz grega
Luciano Huck, apresentador brasileiro

04 de Setembro
Dick York, ator norte-americano
Mitzi Gaynor, atriz e bailarina norte-americana
Wes Bentley, ator norte-americano

05 de Setembro
Freddie Mercury, cantor britânico nascido em Zanzibar
George Lazenby, ator australiano
Luís XIV, rei da França
Michael Keaton, ator norte-americano
Raquel Welch, atriz norte-americana

06 de Setembro
Di Cavalcanti, pintor brasileiro
Elvira Pagã, atriz, cantora e compositora brasileira
Irene Cruz, atriz portuguesa

07 de Setembro
Ariclê Perez, atriz brasileira
Elia Kazan, cineasta grego-americano
Elizabeth I, rainha britânica
Gloria Gaynor, cantora norte-americana
Paulo Autran, ator brasileiro
Peter Lawford, ator britânico

08 de Setembro
Antonin Dvorak, compositor tcheco
Leandra Leal, atriz brasileira
Peter Sellers, ator britânico
Virna Lisi, atriz italiana

09 de Setembro
Adam Sandler, ator, músico e produtor norte-americano
Cliff Robertson, ator norte-americano
Eva Todor, atriz brasileira nascida na Hungria
Hugh Grant, ator britânico
Leon Tolstoi, escritor russo
Maria Rita, cantora brasileira

10 de Setembro
Amy Irving, atriz norte-americana
Ary Coslov, ator e diretor brasileiro
Edmond O’Brien, ator norte-americano
Ferreira Gullar, escritor brasileiro
Gustavo Kuerten, tenista brasileiro
Paulo Betti, ator brasileiro
Robert Wise, cineasta norte-americano
Vanda Lacerda, atriz brasileira
Wolf Maya, ator e diretor brasileiro

11 de Setembro
Alexandre Lipiani, ator brasileiro
Brian De Palma, cineasta norte-americano
Pepita Rodrigues, atriz brasileira nascida na Espanha

12 de Setembro
Álvares de Azevedo, escritor brasileiro
Barry White, cantor e produtor musical norte-americano
Geraldo Vandré, cantor e compositor brasileiro
Ian Holm, ator britânico
Juscelino Kubitschek, ex-presidente brasileiro
Leci Brandão, cantora e compositora brasileira
Malu Mader, atriz brasileira
Maurice Chevalier, ator e cantor francês
Tânia Alves, atriz e cantora brasileira
Vicente Celestino, cantor brasileiro

13 de Setembro
Claudette Colbert, atriz francesa
Jacqueline Bisset, atriz britânica
Laura Cardoso, atriz brasileira
Maria Helena Dias, atriz brasileira
Maurice Jarre, compositor francês

14 de Setembro
Cyl Farney, ator brasileiro
Ismael Silva, compositor e cantor brasileiro
Joana Fomm, atriz brasileira
Sam Neill, ator britânico
Vera Gimenez, atriz brasileira

15 de Setembro
Agatha Christie, escritora britânica
Antonio Abujamra, diretor de teatro e ator brasileiro
Carmen Maura, atriz espanhola
Fernanda Torres, atriz brasileira
Manuel Maria Barbosa du Bocage, poeta português
Miriam Mehler, atriz brasileira nascida na Espanha
Oliver Stone, cineasta norte-americano
Tommy Lee Jones, ator norte-americano

16 de Setembro
Andréa Beltrão, atriz brasileira
B. B. King, guitarrista e cantor norte-americano
Carolina Dieckmann, atriz brasileira
Lauren Bacall, atriz norte-americana
Lupicínio Rodrigues, compositor brasileiro
Mickey Rourke, ator norte-americano
Peter Falk, ator norte-americano
Yara Amaral, atriz brasileira

17 de Setembro
Anne Bancroft, atriz norte-americana
Francisco de Quevedo, escritor espanhol
Guerra Junqueiro, poeta português
Marina Lima, cantora e compositora brasileira
Roddy McDowall, ator britânico

18 de Setembro
Eloísa Mafalda, atriz brasileira
Frankie Avalon, ator e cantor norte-americano
Greta Garbo (foto), atriz sueca
Jack Warden, ator norte-americano
Robert Blake, ator norte-americano
Rossano Brazzi, ator italiano
Sinhô, cantor e compositor brasileiro
Yolanda Cardoso, atriz brasileira

19 de Setembro
Adam West, ator norte-americano
Bia Seidl, atriz brasileira
César Camargo Mariano, músico brasileiro
Jeremy Irons (foto), ator britânico
Twiggy, modelo e atriz britânica
Zequinha de Abreu, músico e compositor brasileiro

20 de Setembro
Carlos Kroeber, ator brasileiro
Humberto Castelo Branco, ex-presidente do brasileiro
Nicola Siri, ator ítalo-brasileiro
Sophia Loren (foto), atriz italiana

21 de Setembro
Bill Murray, ator norte-americano
Eliana Macedo, atriz brasileira
H. G. Wells, escritor britânico
Jofre Soares, ator brasileiro
Larry Hagman, ator norte-americano
Leonard Cohen, cantor, poeta e novelista canadense
Popó (Acelino Freitas), pugilista brasileiro
Rogério Fróes, ator brasileiro
Stephen King, escritor norte-americano

22 de Setembro
Andrea Bocelli, tenor italiano
Gonzaguinha, compositor e cantor brasileiro
Ornella Vanoni, cantora italiana
Ronaldo, jogador de futebol brasileiro
Vanusa, cantora brasileira
Yara Cortes, atriz brasileira
Zezé Polessa, atriz brasileira

23 de Setembro
Augutus, imperador romano
Bruce Springsteen, cantor norte-americano
Gilda de Abreu, cineasta, atriz, cantora e escritora brasileira
John Coltrane, músico e compositor norte-americano
Julio Iglesias, cantor espanhol
Mickey Rooney, ator norte-americano
Ray Charles, cantor e músico americano
Romy Schneider, atriz austríaca

24 de Setembro
F. Scott Fitzgerald, escritor norte-americano
Kevin Sorbo, ator norte-americano
Pedro Almodóvar, cineasta espanhol

25 de Setembro
Catherine Zeta-Jones, atriz britânica
Christopher Reeve (foto), ator norte-americano
Glória Perez, novelista brasileira
Ida Gomes, atriz e dubladora brasileira nascida na Polônia
Michael Douglas, ator norte-americano
Will Smith, ator norte-americano
William Falkner, escritor norte-americano

26 de Setembro
Alexandra Lencastre, atriz portuguesa
Bryan Ferry, músico, cantor e compositor britânico
Dan Stulbach, ator brasileiro
Gal Costa, cantora brasileira
George Gershwin, compositor norte-americano
Eduardo Tornaghi, ator brasileiro
Luís Fernando Veríssimo, escritor brasileiro
Olívia Newton-John, cantora e atriz britânica
T. S. Eliot, poeta e dramaturgo britânico

27 de Setembro
Arthur Penn, diretor e produtor norte-americano
Caco Ciocler, ator brasileiro
Denis Carvalho, ator e diretor brasileiro
Greg Morris, ator norte-americano

28 de Setembro
Brigitte Bardot (foto), atriz francesa
Ed Sullivan, apresentador norte-americano
Emiliano Queiroz, ator brasileiro
Gwyneth Paltrow, atriz norte-americana
Marcello Mastroianni (foto), ator italiano
Patrícia França, atriz brasileira
Sylvia Kristel, atriz holandesa
Tim Maia, cantor e compositor brasileiro

29 de Setembro
Anita Ekberg, atriz sueca
Caravaggio, pintor italiano
Cid Moreira, locutor e apresentador brasileiro
Greer Garson, atriz britânica
Guilherme Leme, ator brasileiro
Jerry Lee Lewis cantor e compositor norte-americano
Lech Walesa, político polonês
Marcos Frota, ator brasileiro
Michelangelo Antonioni, cineasta italiano
Miguel Cervantes, escritor espanhol
Plínio Marcos, escritor e ator brasileiro
Stanley Kramer, cineasta norte-americana

30 de Setembro
Angie Dickinson, atriz norte-americana
Chacrinha, animador e apresentador brasileiro
Daniel Filho, diretor e ator brasileiro
Deborah Kerr (foto), atriz britânica
Dirce Migliaccio, atriz brasileira
Johnny Mathis, cantor norte-americano
Monica Bellucci, atriz italiana
Truman Capote, escritor norte-americano

Datas Comemorativas

01 de Setembro – Dia do Profissional de Educação Física
02 de Setembro – Dia do Repórter Fotográfico
03 de Setembro – Dia do Guarda Civil
03 de Setembro – Dia do Biólogo
05 de Setembro – Dia Oficial da Farmácia
05 de Setembro – Dia da Amazônia
06 de Setembro – Dia do Alfaiate
06 de Setembro – Oficialização da Letra do Hino Nacional Brasileiro
07 de Setembro – Dia da Independência do Brasil
08 de Setembro – Dia Internacional da Alfabetização
09 de Setembro – Dia do Administrador
09 de Setembro – Dia do Médico Veterinário
09 de Setembro – Dia da Velocidade
10 de Setembro – Fundação do 1º Jornal do Brasil
11 de Setembro – Patriot Day nos EUA
12 de Setembro – Dia do Operador Rastreamento
13 de Setembro – Dia do Agrônomo
14 de Setembro – Dia da Cruz
14 de Setembro – Dia do Frevo
16 de Setembro – Dia Internacional para a Preservação da Camada de Ozônio
17 de Setembro – Dia da Compreensão Mundial
18 de Setembro – Dia dos Símbolos Nacionais
19 de Setembro – Dia de São Geraldo
19 de Setembro – Dia do Teatro
20 de Setembro – Dia do Funcionário Municipal
20 de Setembro – Dia do Gaúcho
21 de Setembro – Dia da Árvore
21 de Setembro – Dia do Fazendeiro
21 de Setembro – Dia da Luta Nacional das Pessoas com Deficiência
22 de Setembro – Data da Juventude do Brasil
22 de Setembro – Dia do Contador
23 de Setembro – Início da Primavera (Hemisfério Sul) e Outono (Hemisfério Norte)
23 de Setembro – Dia do Soldador
23 de Setembro – Dia do Técnico Industrial e do Técnico em Edificações
25 de Setembro – Dia Nacional do Trânsito
26 de Setembro – Dia Interamericano das Relações Públicas
26 de Setembro – Dia Nacional do Surdo
27 de Setembro – Dia de Cosme e Damião
27 de Setembro – Dia do Encanador
27 de Setembro – Dia Mundial de Turismo
28 de Setembro – Dia da Lei do Ventre Livre
29 de Setembro – Dia do Anunciante
29 de Setembro – Dia do Petróleo
30 de Setembro – Dia da Secretária
30 de Setembro – Dia da Navegação
30 de Setembro – Dia Mundial do Tradutor
30 de Setembro – Dia Nacional do Jornaleiro
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Segunda-feira, 16 de Fevereiro de 2009

ISRAEL 60 ANOS, A REALIZAÇÃO DA UTOPIA SIONISTA

 

 


Há sessenta anos a ONU dava um novo destino à Palestina, idealizando a criação de dois estados, um judeu e outro muçulmano. Nascia o Estado de Israel, que trazia uma luz sobre o estigma da sombra do holocausto. Conflitos deflagrados entre a nova nação e as nações árabes da região, fizeram com que só o estado judeu prevalecesse.
A Segunda Guerra Mundial ainda ardia na lembrança das pessoas, com o seu fim, em 1945, ficou um saldo de 6 milhões de judeus mortos nos campos de concentração nazistas. O mundo apercebeu-se da necessidade da criação de um estado judeu, restituindo a este povo uma indenização histórica devida às perseguições e ao genocídio que sofreram ao longo dos séculos. Seguindo o lema sionista “uma terra sem povo para um povo sem terra”, criou-se o estado judeu, que contrariamente a este lema, encontrou uma terra com uma população disseminada de palestinos, que com a chegada em massa dos judeus, com as guerras que se seguiram, resultou a este povo uma grande tragédia individual e coletiva, sustentada por ódios seculares.
Israel surgiu do conceito utópico do movimento sionista de Theodore Herzl, dentro de todas as catástrofes sofridas pelo povo hebreu no século XX, é um exemplo de como esta utopia superou os sofrimentos, a intolerância, o genocídio, e tornou-se uma realidade, talvez a única utopia bem sucedida no século passado. O jovem Estado de Israel, na sua comemoração de 60 anos, é um dos estados mais desenvolvidos do mundo, moderno, com mais de 6 milhões de habitantes, mas que ainda procura uma identidade, visto que foi formado por pessoas vindas de todas as partes do mundo, inseridas nos mais diversos costumes. Nesta busca por uma identidade, terá que aprender a conviver com os vizinhos da região, formada pelos árabes. Ainda há muitas arestas do ódio a ser limadas, para que se comemore verdadeiramente a criação desta nação e a volta dos hebreus à terra prometida, à terra dos seus antepassados.

Os Hebreus na Palestina

Abraão, considerado o pai das grandes religiões monoteístas (judaísmo, cristianismo e islamismo), teria migrado de Ur, sua terra natal, na Mesopotâmia, por ordem de Deus, para a região habitada pelos cananeus, situada entre o rio Jordão e o mar Mediterrâneo. À sua prole foi prometida habitar toda a terra. Do seu filho Isaac, fruto que teve com a mulher Sara, surgiria o povo hebreu, e do filho Ismael, que teve com a sua escrava Hagar, surgiria os ismaelitas, dos quais surgiria o povo árabe.
As escrituras bíblicas relatam que Abraão, provado por Deus, recebeu a ordem de executar o filho Isaac em honra ao Criador. O holocausto de Isaac seria no afloramento de rocha no monte Moriá. Quando já se preparava para nesta rocha sacrificar o filho, foi impedido por um anjo enviado por Deus. Provados o amor e a fidelidade de Abraão a Deus, ele foi recompensado, tornando-se o pai de nações e de religiões. Este relato mostra a presença mais antiga dos hebreus na Palestina.
Os netos de Isaac, os doze filhos de Jacó, teriam migrado para o Egito por volta de 1300 antes de Cristo, devido à fome que assolava a Palestina. José, um dos filhos de Jacó, abandonado quando criança pelos irmãos, ali vivia, a desfrutar dos favores do faraó. Restabelecida a amizade com os irmãos, José possibilitou que o clã vivesse confortavelmente no Egito. Com a morte de José, algumas gerações depois, os hebreus seriam feitos escravos do faraó Ramsés.
Moisés, o grande profeta de Israel, foi o escolhido para livrar os hebreus da escravidão no Egito, conduzindo-os em uma das maiores sagas da humanidade. Da fuga do Egito, da perambulação no deserto do Sinai por quarenta anos, surge a utopia da terra prometida de Canaã. É através de Moisés que Deus transmite as leis que os judeus deveriam cumprir para que se diferenciassem dos outros povos, tornando-se o povo eleito do Criador. Moisés morreu antes de entrar na terra prometida. Coube a Josué conduzir o seu povo, que lutou com várias tribos por aquelas terras. De 1220 a 1200 a.C. os hebreus conquistaram Canaã, atual Palestina. Uma vitória que nunca foi absoluta, pois viviam em guerras constantes com as tribos vizinhas dos moabitas, dos filisteus, dos amonitas, dos amalecitas, dos idumeus e dos arameus.
Na virada do primeiro milênio antes de Cristo, o rei Davi conquistou Jerusalém aos seus habitantes originários, os jebuseus. É nesta época que o rei dos judeus compra ao jebuseu Onã, o terreno onde Abraão sacrificaria Isaac, para que ali fosse construído um templo para abrigar a Arca da Aliança. Este templo só seria construído no reinado do seu filho, o rei Salomão.
A nação hebraica tem o seu apogeu tanto econômico, quanto em extensão territorial, no reinado de Salomão. Após a morte deste rei, o reino é dividido em dois: o de Judá e o do Israel. Assim permanece até a sua queda, quando os caldeus, sob o comando de Nabucodonosor, conquistaram a terra prometida, destruindo o Templo de Salomão, levando os judeus como escravos para a Babilônia, encerrando-se de vez a existência de um estado judeu independente. Os judeus só voltariam à Terra Prometida em 515 antes de Cristo, quando os persas conquistaram a região, e o rei Ciro permitiu que retornassem e que reconstruíssem um novo Templo em Jerusalém.
Mesmo de volta à Palestina, os judeus permaneceram sob o domínio de vários povos. Os macedônios, sob a espada de Alexandre, o Grande, conquistaram a região aos persas. Com a morte prematura de Alexandre, seu vasto império é dividido entre os seus generais. Por anos o antigo reino de Israel é disputado pelos ptolomeus, baseados no Egito, e pelos selêucidas, baseados na Mesopotâmia. Sem ter um rei, os judeus eram direcionados pelo sumo sacerdote em Jerusalém, que assumia algumas funções reais.
Mesmo sob o domínio de vários povos, os hebreus não aceitam pacificamente nenhum dos povos dominantes, mantendo a sua religião e os seus costumes. É assim com os gregos e, a seguir, com os romanos. Quando a região é dominada pelos romanos, é dado a Herodes o poder de rei dos judeus. Este homem, um rei cruel e tirano, tentou conciliar o poder submisso a ele, por sua vez submisso a Roma, com as tradições judaicas, ampliando o Segundo Templo, aumentando os seus alicerces pela construção de gigantescos muros de retenção a oeste, ao sul e a leste. O Templo foi uma das mais belas realizações do mundo antigo. Herodes alçou Israel a um nível de esplendor poucas vezes alcançado pela nação hebraica. Mas os seus feitos não foram suficientes para conter as insubordinações de um povo que ansiava por uma nação livre do domínio dos gentios e dos seus costumes pagãos. Com a morte de Herodes, a incompetência dos seus sucessores durante nove anos, fez com que Roma colocasse a Judéia sob o governo direto de um procurador romano, entre eles Pôncio Pilatos.
Sob o domínio das várias nações, surgiu aos hebreus a expectativa das promessas da vinda de um messias, que redimiria o povo de Israel, tornando-o uma nação livre outra vez, sob um reinado que se estenderia para sempre, e, conseqüentemente, redimir-se-ia através dos judeus, o próprio mundo. Na época do domínio romano, vários foram os homens que se proclamaram o messias, entre eles Yeshua Ben Yossef, ou Jesus Cristo, cuja pregação resultaria na seita dos cristãos, e futuramente, no cristianismo.
A intensa expectativa messiânica, juntamente com a certeza de ser o povo eleito de Deus desde os primórdios da história, fizeram com que o povo hebreu acirrasse a sua rebelião contra os romanos, que deflagraria a guerra total. No ano de 66, os judeus expulsaram os romanos, tornando-se senhores das suas próprias terras, organizando a sua defesa contra o retorno dos algozes. Sob o comando de Tito, eles voltariam, trazendo uma guerra sangrenta, que reduziria os redutos dos judeus a algumas fortalezas longínquas e à cidade de Jerusalém. A resistência feroz que os romanos encontraram, fez com que, em setembro de 70, quando finalmente entraram em Jerusalém, após seis meses de lutas intensas, despejassem todo o seu ódio sobre aquele povo, massacrando a população. Tito ordenou que toda a cidade fosse destruída, inclusive os escombros do Segundo Templo. Calcula-se que mais de um milhão de pessoas morreram no cerco de Jerusalém, sendo escravizados os sobreviventes. Um grupo de rebeldes ainda resistiu na fortaleza de Massada. Quando finalmente os romanos entraram em Massada, encontraram quase mil pessoas mortas, elas mataram-se umas as outras, evitando assim, tornarem-se escravas dos romanos.
Com a destruição de Jerusalém e do Segundo Templo, iniciava-se a diáspora pelo mundo do povo hebreu. Cerca de sessenta anos após a queda de Massada, Simeon ben-Koseba foi reconhecido pelo rabi Akiba como o messias prometido. O novo “messias” iniciou uma outra rebelião contra os romanos, que apesar de ter êxito no início, duraria dezoito meses, até agosto de 135. A rebelião foi esmagada e Simeon ben-Koseba executado. A punição a esta rebelião foi severa, os judeus cativos eram mortos ou feitos escravos. A Judéia foi definitivamente abolida, tornando-se a província da Síria-Palestina. Todos os judeus foram excluídos da cidade de Jerusalém. No local do Templo, foram erguidos santuários ao imperador Adriano e ao deus Júpiter.

Canaã, Judéia ou Palestina, a Terra Sagrada das Religiões Monoteístas

No século VII surgiu o islamismo, através do profeta Maomé, um descendente de Ismael, filho de Abraão. Em 620, Maomé teve uma visão, na qual cavalgava um corcel celestial, el-Buruq, com o anjo Gabriel, até o monte do Templo, em Jerusalém, para encontrar Abraão, Moisés e Jesus, e daí ascendia ao trono de Deus, passando pelos sete céus. Maomé morreu na Arábia, em 632, após liderar uma peregrinação a Meca. Pela visão que teve, para o islamismo a sua ascensão aos céus teria sido feita no monte do Templo, da rocha onde Abraão sacrificaria o filho Isaac. Por este motivo, ao lado de Meca e Medina, Jerusalém foi considerada cidade sagrada para os muçulmanos.
Foi em Jerusalém que Jesus Cristo entrou, celebrou a Páscoa com os seus apóstolos, onde foi preso, julgado e executado na cruz, no ano 26 (ou 33 do calendário gregoriano). Ali teria ressuscitado e numa descrição parecida com a visão de Maomé, também teria ascendido aos céus. Com a separação do cristianismo do judaísmo, Jerusalém tornou-se uma cidade santa também para os cristãos.
Com a diáspora do povo judeu, surgiu a designação de Palestina às terras do antigo reino de Israel, ou Judéia. Com a cristianização de Roma, Jerusalém esteve por anos sob o domínio do Império Bizantino. Sendo chamada pelos cristãos de Terra Santa. Com o surgimento do islamismo, a Palestina é tomada pelos seguidores do profeta Maomé. Desde então, aos poucos, a maioria da sua população é constituída por árabes. Na Idade Média, a igreja, aliada aos nobres dos reinos cristãos da Europa, promove as Cruzadas, ou guerras para a conquista da Terra Santa. Os cruzados tomam Jerusalém e a Palestina aos sarracenos por várias vezes, originando várias cruzadas. Por fim, a região cairia definitivamente sob o domínio do Império Otomano.

O Surgimento do Estado de Israel

No século XIX, surgiu a utopia de um estado judeu, propagada pelo movimento sionista, com o objetivo de reunir o povo hebreu que estava espalhado pelo mundo, vítima de várias perseguições através dos séculos. Durante a Idade Média, os filhos de Israel foram expulsos de muitos dos reinos cristãos da Europa, além de se tornarem o alvo predileto do Tribunal da Inquisição, que resultou em forçadas conversões, torturas e condenações à morte nas fogueiras. No início do século XX a idéia do estado judeu começou a desenhar um esboço, e com o incentivo do movimento sionista, deu-se início a uma migração para a Terra Santa. Em julho de 1906, na Convenção dos Judeus de Yafo, feita no Yeshurun Club, Arieh Akiva Weiss, que tinha acabado de chegar à Palestina, propôs a criação de um novo bairro fora de Yafo. Em 1909, no segundo dia da Páscoa judaica, é feita a cerimônia do sorteio de lotes de terra, que marca oficialmente a fundação de Tel Aviv, bairro que se iria separar de Yafo, tornando-se a maior cidade judaica do mundo.
Com o fim da Primeira Guerra Mundial, o já decadente Império Otomano fragmenta-se por completo. A Inglaterra herda deste império a Palestina e a península do Sinai (hoje parte do Egito), tomando-os como uma colônia britânica. A população árabe, maioria na região, não reagiu pacificamente à colonização européia. Também os judeus, que chegavam todos os dias de todas as partes do mundo, desejavam um estado judaico independente.
O movimento sionista pregava que só um estado judeu poderia evitar as perseguições e as tragédias como as que aconteceram durante o tempo que predominou a Inquisição. Com a deflagração da Segunda Guerra Mundial, uma outra tragédia aconteceria aos israelitas: o holocausto promovido pelos nazistas, causando a morte de seis milhões de judeus. Por causa do holocausto, uma migração em massa dos israelitas europeus assolou a Palestina. Diante da divulgação do genocídio nazista ao povo judeu, o mundo indignou-se, a ONU viu-se pressionada a reparar a injustiça nazista. A Inglaterra deixava definitivamente a colônia da Palestina. Em 14 de maio de 1948, os judeus ganharam um estado independente. Nascia também um pequeno estado árabe, que descontentou os islâmicos.

Uma Nação Construída às Margens das Guerras e do Terrorismo

A criação de um estado judaico nunca agradou aos países árabes vizinhos. Mais do que criar um estado para o povo palestino, Jordânia, Síria e Egito estavam interessados em “varrer Israel para o mar”. Em 1948, 24 horas após ter sido criado, o Estado de Israel é invadido pelas nações árabes da Jordânia, Egito, Síria, Líbano e Iraque. A Jordânia conquista para si a Cisjordânia e parte de Jerusalém. Israel, com o apoio dos Estados Unidos, em 1949, vence a guerra e ainda expande as suas fronteiras. A anexação da Cisjordânia pela Jordânia e da Faixa de Gaza pelo Egito, deixa claro que a criação de um estado palestino não é o objetivo dos países árabes da região.
Os conflitos não se encerram em 1949. Egito, Jordânia e Síria proclamam internacionalmente, em 1956, o fim de Israel. Alertado para uma nova invasão, pouco antes de ela acontecer, tropas israelitas avançam e derrotam os inimigos. Uma paz passageira é obtida meses depois. Perduraria até 1967, quando novamente Egito, Síria e Jordânia lideram uma nova invasão para riscar Israel do mapa. Israel contra-ataca e toma da Jordânia, a Cisjordânia e Jerusalém. Da Síria anexa as colinas de Golã. Do Egito toma a Faixa de Gaza e a península do Sinai.
Outra investida do Egito, Jordânia e Síria foi tentada em 1973, desta vez sem que os países árabes anunciassem a invasão, mas novamente são derrotados.
A animosidade e a tensão com o Egito findaram, quando em 1978, após uma reunião em Camp Davis, foi assinado um acordo de paz entre as duas nações em 1979, chancelado por Anwar Al-Sadat, do Egito, e Menachen Béguin, de Israel. Este acordo possibilitou que Israel devolvesse a península do Sinai ao Egito, em 1982, mas custou o assassínio de Sadat, em 1981. Em 1994 um acordo de paz foi assinado com a Jordânia.
O maior avanço para solucionar o problema dos palestinos foi feito em 13 de setembro de 1993, com o acordo de paz entre Israel e a OLP de Yasser Arafat, o que valeu o Prêmio Nobel da Paz em 1994, para Yasser Arafat, Yitzak Rabin e Shimon Perez . A situação do conflito árabe-israelense tomava novos rumos, até então considerados inimagináveis. Com o acordo, vislumbrava-se a criação do estado palestino, engatinhando como nação em Gaza e no enclave de Jericó. Em 1995 radicais judeus assassinaram Yitzak Rabin. Em 2000 uma nova infantada palestina originou ataques terroristas, deixando mais distante o sonho de paz entre os dois povos, e a autodeterminação do estado da Palestina. A situação é agravada pelas dificuldades financeiras do incipiente estado palestino, pelos ataques dos grupos extremistas, quer de judeus, como a Espada de Davi, quer de islâmicos, como o Hamás e a Jihad Islâmica, que não aceitam sequer a existência do Estado de Israel, e pela disposição de Israel implementar, no futuro, a completa devolução da Cisjordânia.

Israel, 60 Anos

Israel é um estado diferente dos outros, não se formou naturalmente, não se desenvolveu gradualmente ao longo dos séculos, em redor de uma mesma população e de uma mesma história. Quando foi criado, em 14 de maio de 1948, era um pequeno país atrasado, com uma população de cerca de 600 mil judeus, que dependia para sobreviver, da generosidade do judaísmo mundial. 60 anos depois, é um país industrializado, tendo um PIB mais elevado que a soma dos PIB de todos os seus vizinhos árabes, que têm uma população 15 vezes superior ao estado judeu.
Israel desde que foi criado, viveu sempre no limiar da sua sobrevivência, passando por quatro guerras, vários atentados terroristas, e muitas hostilidades dos vizinhos. Para desenvolver e assegurar um futuro a esta nação, é preciso uma integração progressiva com os vizinhos árabes, uma capacidade maior para negociar a paz, e, principalmente, fazer uma integração irrestrita e bem sucedida de todos os cidadãos árabes que habitam o seu território. Quem sabe assim, quando completar 70 anos, a utopia sionista tornada realidade, veja finalmente a paz florir sobre Israel.

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Quarta-feira, 11 de Fevereiro de 2009

HOSPITAL REAL DE TODOS OS SANTOS

 

 

Quando em 1755, um grande terremoto assolou a cidade de Lisboa, a catástrofe levou a maior parte medieval da cidade. Entre os monumentos perdidos, estava o Hospital Geral de Todos os Santos, que por mais de 250 anos foi o maior hospital de Portugal. Além de ter sido um grande monumento arquitetônico, o hospital foi responsável pelo desenvolvimento da medicina no país lusitano.
Nascido de uma antiga concepção de Dom João II, em 1479, o Hospital Real de Todos os Santos teve algumas lendas criadas em torno da sua construção, como a de que fora amaldiçoado pelos mouros e judeus, porque as pedras da sua construção teriam vindo em parte, de campas e cabeceiras de jazigos de mouros e do cemitério dos judeus, o que não é verdade, visto que a sua construção iniciou-se em 1492. Quando da expulsão dos mouros e judeus de Portugal, em dezembro de 1496, as obras já iam adiantadas, o que inviabiliza esta hipótese.
Amaldiçoado ou não, a verdade é que, coincidentemente, o hospital foi destruído em 1 de novembro de 1755, após o grande terremoto, seguido por um incêndio, ou seja, no seu dia, o dia de todos os santos. Pouco mais de cinco séculos após a sua construção, o Hospital Real de Todos os Santos merece ser lembrando pelo seu esplendor arquitetônico e pela sua imensa importância histórica.

Um Longo Caminho Até o Lançamento da Primeira Pedra

Com o fim da Idade Média, as pequenas instituições de beneficência, sustentadas por conventos ou de legados pios deixados por nobres beneméritos, entram em decadência, dando lugar a grandes hospitais centrais. Essas instituições rudimentares medievais eram, ao mesmo tempo, hospitais, albergarias e hospícios. Os hospitais centrais tinham rendimentos próprios, acrescidos dos rendimentos dos pequenos hospitais neles incorporados. Os primeiros hospitais centralizados surgiram nos reinos italianos, como o Hospital de Santa Maria Nuova, de Florença, que surgiu no século XIII, sendo modernizado no século XV. Havia ainda, o Hospital do Espírito Santo, em Roma, o Hospital Maggiore de Milão, e o Hospital de Santa Maria, em Siena. Estes hospitais serviram de modelo para o (ainda) príncipe Dom João, que idealizou fundar um grande hospital em Lisboa, reunindo os bens de 43 instituições de assistência existentes em Lisboa e nos arredores. Como os rendimentos dessas instituições eram próprios e geridos pela igreja, era preciso da autorização papal para concentrá-las em uma só. Em 1479, o Príncipe Perfeito consegue autorização concedida pelo papa Sisto IV, através da bula Ex debito sollicitudinis officio pastoralis, para a construção de um grande hospital real.
O Príncipe Perfeito sobe ao trono em 1481, como Dom João II, já com a idéia da construção do “Hospital Grande”. A demora na concretização do projeto, faz com que a bula assinada por Sisto IV não tenha mais valor depois da sua morte, em 1484. Somente em 1486 a autorização é confirmada, através da bula Iniunctum nobis desuper, chancelada pelo papa Inocêncio VIII. Concentrar todas as instituições em uma só levaria o seu tempo. Em 15 de Maio de 1492, numa cerimônia no Rossio, Dom João II lança a primeira pedra para a construção do Hospital Real de Todos os Santos.

Pleno Funcionamento em 1504

O local escolhido para a edificação do hospital foi nos terrenos da horta do mosteiro de São Domingos, lado oriental do Rossio. O autor de tão imponente monumento, não se sabe ao certo, mas há um consenso de historiadores que seria de Diogo Boytoc, o arquiteto do mosteiro dos Jerónimos.
Desde a sua fundação, no início da sua construção, em 1492, por nomeação régia, foram escolhidos o provedor, o vedor e o escrivão, sendo o primeiro provedor Estevão Martins, mestre da Escola da Sé de Lisboa.
As obras já iam adiantadas, quando Dom João II morreu, em 1495, cabendo a seu sucessor, Dom Manuel, terminar o hospital. Fazia parte das disposições testamentárias de Dom João II que o seu sucessor concluísse o “Hospital Grande” de Lisboa, e que o seu regimento fosse inspirado nos hospitais de Florença e Siena.
Dom Manuel continuou as obras do hospital, concluindo as instalações hospitalares e construindo a fachada voltada para o Rossio. Já em 1497 o provedor despachava do hospital, apesar de ele levar alguns anos para ser inaugurado. Há documentos que registram que em 1498, houve ali uma reunião da Câmara. Neste ano as obras seriam novamente interrompidas devido à ausência de Dom Manuel, que acompanhou a sua mulher grávida, a rainha Dona Isabel, filha dos reis católicos, Fernando e Isabel, à Espanha. Ali a Dona Isabel seria jurada herdeira do trono dos reinos da Espanha unificada.
Não se sabe ao certo em que ano o hospital começou a receber os primeiros doentes. Há registros que apontam para o ano de 1501, quando teria recebido os desalojados dos hospitais extintos. É de 1502 a data da nomeação da maioria do pessoal que trabalharia no hospital: um físico (mestre Delymilam, que por não ser suficientemente competente, seria substituído por mestre Jorge Físico Solorgião, em 1509), dois cirurgiões, um boticário, quatro enfermeiros e uma enfermeira, além dos seus ajudantes. Mas a data de seu pleno funcionamento seria 1504.

Consumido Pelos Incêndios e Pelo Terremoto

Quando em pleno funcionamento em 1504, o edifício do Hospital Real de Todos os Santos ocupava um quadrilátero aproximadamente coincidente com os limites da antiga Praça da Figueira e a atual Praça Dom João I, ficava enquadrado, a poente, pela Praça do Rossio (sobre o qual avançava a sua escadaria); a norte, pelo convento de São Domingos com o qual se ligava através do alpendre de arcarias, interpondo-se, entretanto, entre os dois monumentos, um conjunto de edificações, dos quais sobressaía a ermida de Nossa Senhora do Amparo; ao sul, pela Rua da Betesga; pelo nascente, entestava com as casas dos condes de Monsanto.
O Hospital Real de Todos os Santos era um dos mais antigos da Europa, com uma planta cruciforme, adotou as inovações introduzidas em estabelecimentos congêneres dos reinos italianos no decurso do século XV, e era, para a sua época, uma grandiosa e moderna instituição, de um belo edifício arquitetônico.
O imponente hospital serviu à medicina e aos doentes de Lisboa por mais de 250 anos. No decorrer desses anos a sua riqueza e beleza foram sendo consumidas, aos poucos, pelos sucessivos incêndios de 1601, 1750 e 1755. Depois do terremoto de 1755 e do incêndio que se lhe seguiu, o hospital ficou profundamente danificado, ficando os seus enfermos sob as barracas do Rossio, e, depois, nas cocheiras do Palácio do Conde de Castelo-Melhor. Foram feitas algumas obras de remedeio, que lhe permitiu funcionar até 1963. Após um período de hesitação entre a restauração do hospital ou a sua transferência para outro local, optou-se em 1775, pela transferência para o antigo Colégio de Santo Antão-o-Novo, que ficou devoluto desde a expulsão dos jesuítas. Em homenagem ao rei da época, Dom José I, que executou a transferência e as obras de adaptação, o Hospital Real passou a denominar-se Hospital de São José.
O antigo Hospital Real de Todos os Santos, fundado em 15 de Maio de 1492, por Dom João II, no Rossio, foi definitivamente extinto, melancolicamente, no dia 1 de Novembro de 1755, dia do grande terremoto que assolou Lisboa, dia de todos os santos.
 
 
 
 

 

 
 
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Sexta-feira, 6 de Fevereiro de 2009

SONIA BRAGA & GAL COSTA SOB AS LENTES DE ANTONIO GUERREIRO

 

 
Nos anos setenta e oitenta, as mulheres mais bonitas do país foram fotografas pelas lentes do fotógrafo Antonio Guerreiro, o preferido de nove entre dez celebridades. Fernanda Montenegro, Leila Diniz, Vera Fischer, Lucélia Santos, Tônia Carrero, Zezé Motta, Sandra Bréa, Dina Sfat, Priscila Fantin, Betty Faria e muitas outras, nenhuma mulher famosa escapou aos olhos e à câmera do artista. Dentre tantas beldades, duas estrelas eram as musas preferidas de Antonio Guerreiro: a atriz Sonia Braga, com quem viveu um romance, e a cantora Gal Costa. Estas duas mulheres que têm vários pontos comuns entre si, como a sensualidade e a beleza quente que retrata a mulher brasileira, além das personagens para as quais Sonia Braga emprestou o corpo, e Gal Costa a voz; foram registradas no esplendor da juventude por Antonio Guerreiro.
Belíssimas, míticas, emblemáticas, Gal Costa e Sonia Braga, sob as lentes mágicas do fotógrafo, um momento etéreo de beleza e de ludismo, para sempre eternizados. As fotografias apresentadas neste artigo, com exceção da de Gal Costa e Sonia Braga juntas, são todas de Antonio Guerreiro. Façamos um zoom às musas do fotógrafo.

Sonia Braga e Gal Costa, Corpo e Voz de Grandes Personagens



A emblemática parceria que colaria para sempre o corpo de Sonia Braga à voz de Gal Costa aconteceu em 1975, quando a telenovela “Gabriela”, adaptação do romance “Gabriela, Cravo e Canela”, de Jorge Amado, foi produzida pela tevê Globo. Centenas de testes foram feitos para que se escolhesse uma atriz para viver Gabriela. No seu livro “O Circo Eletrônico”, Daniel Filho conta-nos sobre a escolha da intérprete da personagem de Jorge Amado:
Quem faria o papel título de Gabriela? Pensei em algo inusitado, afinal tínhamos uma Gabriela no imaginário do público brasileiro: Gal Costa. Ela não aceitou. ‘Sei representar não’, disse com aquela malícia baiana e olhar de Gal/Gabriela.".
Com a recusa de Gal Costa, a escolha recaiu sobre Sonia Braga. Gal Costa ficaria com a interpretação da música “Modinha Para Gabriela”, tema de abertura da novela, feita por Dorival Caymmi especialmente para ela. Todos os dias, durante a exibição da novela, o público ouvia a voz de Gal Costa, que abria os capítulos, e o sorriso sedutor de Sonia Braga, que apaixonou o Brasil.
Em 1983, o romance de Jorge Amado ganhou uma versão para o cinema. Sonia Braga voltaria a viver a personagem e Gal Costa a interpretar a trilha sonora, desta vez feita por Tom Jobim. Na ocasião do lançamento da trilha sonora do filme "Gabriela" (primeira parceria entre Tom Jobim e Gal Costa, compositor que reflete até hoje na carreira da cantora), Jorge Amado declarou:
"O corpo de Gabriela pode ser de qualquer atriz, mas a voz é de Gal Costa".
Em 1984 Jorge Amado declararia, outra vez, em entrevista para à revista Manchete:
Olhe Gal, para mim foi você que botou voz na Gabriela. Eu não botei... "
“...Mas a voz da Gabriela foi Gal quem botou, correndo na praia, cantando pra televisão.”
Gal Costa não interpretou Gabriela como atriz, mas como cantora eternizou a voz da morena com cheiro de cravo e cor de canela. A fusão Sonia Braga-Gal Costa deu-nos a imagem exata e definitiva de uma Gabriela de corpo e voz sensuais, para sempre gravado no imaginário brasileiro, nesta tão bem sucedida união entre imagem-música- literatura.

Outros Encontros de Gal Costa e Sonia Braga

"Tigresa", música de Caetano Veloso, reza a lenda, foi feita para Sonia Braga. Lenda ou fato, há versos que mostram nitidamente fatos afins à carreira da atriz: "Ela me conta que era atriz e trabalhou no Hair". "Hair" foi um musical de grande impacto, encenado em 1970, que tinha, entre outras provocações, os atores atuando completamente nus no palco. Sonia Braga fazia parte do elenco. Também os versos que diz: "íris cor de mel", evidenciam os olhos de Sonia Braga. "Tigresa”, na voz de Gal Costa , foi tema da personagem de Sonia Braga na novela “Espelho Mágico", de Lauro César Muniz, que estreou em horário nobre em junho de 1977, na tevê Globo. Novamente a associação Gal Costa/Sonia Braga foi um sucesso. A voz da cantora traduzia bem a performance da atriz, mesclando canto e interpretação como se fossem apenas uma. "Tigresa" tem na voz da Gal Costa a interpretação sensual, intimista e forte que a música exige.
Esta associação voltaria a acontecer em 1997, quando Sonia Braga viveu nas telas de cinema “Tieta do Agreste”, outra personagem mítica de Jorge Amado, e Gal Costa deu vida à voz e à luz de Tieta, interpretando a trilha sonora composta por Caetano Veloso.

Capas de Discos e Cartazes de Cinema de Antonio Guerreiro

As belezas agrestes, brasileiras, de Sonia Braga e Gal Costa, trespassam as luzes da objetiva. Vistas aos olhos de Antonio Guerreiro, o corpo toma formas mais sedutoras, a nudez é um todo da alma. Os cabelos longos das duas caem como um véu sobre a luz, que contrasta com a pele. As belezas da cantora e da atriz não sofrem as alterações dos Photoshops de hoje, contam com a maquiagem, a luz e o carisma das modelos.
A nudez estonteante de Sonia Braga mostra-nos a beleza fogosa dos seus seios, que derrubam qualquer ilusão de que a mulher nasceu para ter silicone no peito.
Também os seios e as pernas de Gal Costa nos faz caminhar por caminhos agrestes, de uma beleza selvagem, abrandada na sua voz doce de sereia.
O olhar de cada uma das modelos é um convite aos mistérios que as envolvem. Antonio Guerreiro manipula esses doces mistérios das musas, através das lentes de ludismo etéreo, ele extrai a beleza na sua forma mais perfeita, dando a certeza de que a mulher é infinita quando reveladas à luz das suas imagens.
Antonio Guerreiro fez além dos ensaios fotográficos, registros de várias capas míticas dos álbuns de Gal Costa, entre elas, a polêmica capa de “Índia”, de 1973, que trazia a cantora de seios nus, vestida de índia na contra-capa, e em close frontal vestida apenas de uma minúscula tanga. É de Antonio Guerreiro a famosa fotografia da cantora com rosas nos cabelos, do álbum “Gal Tropical”, de 1979, outra capa marcante da carreira da artista. A sofisticação de Gal Costa no auge dos seus 35 anos, é registrada com elegância pelo fotógrafo em “Aquarela do Brasil”, de 1980. Também são de Guerreiro as fotografias das capas dos álbuns: “Fantasia”, de 1981 e “Minha Voz”, de 1982.
A musa Sonia Braga foi fotografada por Antonio Guerreiro para a famosa revista masculina Status, para o calendário da Pirelli. Também foi ele quem fez os famosos cartazes dos filmes “A Dama do Lotação”, de 1978, de Neville de Almeida, e “Eu Te Amo”, de 1981, de Arnaldo Jabor, ambos estrelados pela atriz.

Antonio Guerreiro, Pequena Biografia

Antonio Guerreiro nasceu em Madrid, na Espanha. Filho de pais imigrantes portugueses, veio para o Brasil ainda criança. Saiu de Juiz de Fora, Minas Gerais, mudando-se para o Rio de Janeiro, ainda adolescente. Foi na cidade maravilhosa que começou a sua brilhante carreira. No início, depois de um estágio no “Jornal do Brasil", como colunista, foi convidado pelo fotógrafo David Zingg para trabalhar na revista Setenta, iniciando-se como profissional, em 1967.
Em 1972 foi trabalhar como fotógrafo de moda da Editora Bloch, em Paris. Quando voltou ao país, tornou-se um dos maiores fotógrafos da década de setenta no Brasil. Fotografou com arte e beleza, as celebridades do país, principalmente as mulheres. Virou o fotógrafo preferido das mulheres, que diziam, sob a lente de Antonio Guerreiro, jamais ficavam feias. Trabalhou para a revista Homem, futura Playboy, e para a Status. Nos ensaios para estas revistas, as mais desejadas mulheres foram desnudadas por sua câmera.
Foi das lentes de Antonio Guerreiro que surgiram mais de 50 capas de discos de cantores brasileiros, entre eles, Gal Costa, Simone, Maysa, Alcione, Beth Carvalho, Gonzaguinha, Baby Consuelo, Elba Ramalho, Joanna, Marina, Jorge Benjor, Nelson Gonçalves.
Tido como um bon vivant, Antonio Guerreiro ficou famoso também, pelos romances que viveu com as mais belas mulheres do Brasil, como Sonia Braga, Sandra Bréa, Silvia Bandeira, Denise Dumond, entre tantas. Todas elas passaram por sua objetiva. Sobre as mulheres e a relação com elas e com a sua câmera, ele diz:
Eu amei muitas das mulheres que fotografei, mas muitas também não foram amadas. E Isso não impediu que elas fossem bem fotografadas”.



Exposições de Antonio Guerreiro

1978 - Fotofantasia - Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
1980 - Individual - Sheraton Lisboa - PORTUGAL
1981 - Mostra Livre de Slides - Núcleo de Fotografia Funarte RJ
1983 - Individual - GB Arte - Shopping Casino Atlantico RJ
1985 - Quadrienal de Fotografia - Museu de Arte Moderna de São Paulo
1986 - Polaroid - Imagens Instantâneas - Galeria de Fotografia Funarte RJ
1988 - Orquestra de Câmeras - Casashopping RJ
1989 - Orquestra de Câmeras ll - Casashopping RJ
1990- Coletiva de Fotógrafos do The Image Bank em SP
1991 - Shopping Rio Sul - Exposição fotográfica individual nos 4 andares em homenagem à mãe brasileira no mês de maio
1995 - Casa do Arquiteto RJ - Projeção de slides
1996 - Museu Nacional de Belas Artes - 30 anos de Olhar e Paixão - Rio de Janeiro
1997 - Diamond Mall - Belo Horizonte - 100 Portraits
1999 - Palácio das Artes - BH - 30 Anos de Olhar e Paixão
1999 - Diamond Mall - BH - Personas 99
2000 – Tropical Manaus – 30 anos de Olhar e Paixão
2000 – Tropical Manaus – Personas Manaus
2001 – Castro’s Park – Goiânia – 30 anos de Olhar e Paixão
2001 – Beco das Garrafas – Rio de Janeiro – 2001 The Stars



Premiações

1980 - Menção Honrosa da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA)
1981 - Premio Editora Abril - Melhor foto em cores do ano
1983 - Premio Editora Abril - Melhor produção fotográfica do ano



Trabalhos Publicitários

- Faet - Embratur - Dijon - Blu 4 - Hotel Nacional - Du Loren - Jeans Inega
- De Millus - Rio Sul Shopping Center - Petrobras - Raquel Presentes - Canecão
- Gazeta Mercantil - Grendene - Companhia Souza Cruz - Tavares Roupas
- Helena Rubinstein - Walita - TV Globo - Orquestra Sinfonica Brasileira - Dimpus
- Roditi Joias - Hollywood Sports Line - Pierre Cardin - Newman - Maria Bonita - Kendall do Brasil - Rio Grafica e Editora - Jornal O Globo - Jornal do Brasil
- Socila - Wella - Farmitalia Carlo Erba - Chase Manhattan Bank - De Beers - Celular e Celular



Antonio Guerreiro (em uma fotografia em preto e branco de 1972, e em outra colorida, de 2008) pode ser visto em seu site na internet. Além do site, em 2007, criou o blog fotográfico "Antonio Guerreiro - 40 Anos de Fotografia". Visitar a sua obra é sempre uma belíssima e agradável descoberta.

Site: http://www.antonioguerreiro.fot.br/
Blog: http://antonioguerreiro1.blogspot.com/
 


 

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Terça-feira, 3 de Fevereiro de 2009

A MÚSICA E A CENSURA DA DITADURA MILITAR

 

 
Quando o golpe militar foi deflagrado, em 1964, ironicamente o Brasil tinha na época, os movimentos de bases político-sociais mais organizados da sua história. Sindicatos, movimento estudantil, movimentos de trabalhadores do campo, movimentos de base dos militares de esquerda dentro das forças armadas, todos estavam engajados e articulados em entidades como a UNE (União Nacional dos Estudantes), o CGT (Comando Geral dos Trabalhadores), o PUA (Pacto da Unidade e Ação), etc, que tinham grande representatividade diante dos destinos políticos da nação. Com a implantação da ditadura, todas essas entidades foram asfixiadas, sendo extintas ou a cair na clandestinidade. Em 1968, os estudantes continuavam a ser os maiores inimigos do regime militar. Reprimidos em suas entidades, passaram a ter voz através da música. A Música Popular Brasileira começa a atingir as grandes massas, ousando a falar o que não era permitido à nação. Diante da força dos festivais da MPB, no final da década de sessenta, o regime militar vê-se ameaçado. Movimentos como a Tropicália, com a sua irreverência mais de teor social-cultural do que político-engajado, passou a incomodar os militares. A censura passou a ser a melhor forma da ditadura combater as músicas de protesto e de cunho que pudesse extrapolar a moral da sociedade dominante e amiga do regime. Com a promulgação do AI-5, em 1968, esta censura à arte institucionalizou-se. A MPB sofreu amputações de versos em várias das suas canções, quando não eram totalmente censuradas.
Para censurar a arte e as suas vertentes, foi criada a Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP), por onde deveriam previamente, passar todas as canções antes de executados nos meios públicos. Esta censura prévia não obedecia a qualquer critério, os censores poderiam vetar tanto por motivos políticos, ou de proteção à moral vigente, como por simplesmente não perceberem o que o autor queria dizer com o conteúdo. A censura além de cerceadora, era de uma imbecilidade jamais repetida na história cultural brasileira.

Os Perseguidos do Pré-AI-5

Antes mesmo de deflagrado o AI-5, alguns representantes incipientes da MPB já eram vistos pelos militares como inimigos do regime, entre eles, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Taiguara e Geraldo Vandré.
A intervenção de Caetano Veloso era mais no sentido da contracultura do que contra o regime militar. Os tropicalistas estavam mais próximos dos acontecimentos do Maio de 1968 em Paris, do que das doutrinas de esquerda que vigoravam na época, como o marxismo-leninismo soviético e o maoísmo chinês. Mas os militares não souberam identificar esta diferença, perseguindo Caetano Veloso e Gilberto Gil pela irreverência constrangedora que causavam. Na época da prisão dos dois cantores, em dezembro de 1968, os militares tinham de concreto contra eles, a acusação de que tinham desrespeitado o Hino Nacional, cantando-o aos moldes do tropicalismo na boate Sucata, e uma ação que queria mover um grupo de católicos fervorosos, ofendidos pela gravação do “Hino do Senhor do Bonfim” (Petion de Vilar – João Antônio Wanderley), no álbum “Tropicália ou Panis et Circenses” (1968). Juntou-se a isto a provocação de Caetano Veloso na antevéspera do natal de 1968, ao cantar “Noite Feliz” no programa de televisão “Divino Maravilhoso”, apontando uma arma na cabeça. O resultado foi a prisão e o exílio dos dois baianos em Londres, de 1969 a 1972.
Ainda do repertório do álbum mítico “Tropicália ou Panis et Circenses” , a música “Geléia Geral” (Gilberto Gil – Torquato Neto), sofreu o veto da censura por ser considerada de conteúdo política contestatória, além de segundo os censores, fazer um retrato equivocado da situação pela qual passava o país.
Ao retornar do exílio, Caetano Veloso e Gilberto Gil sofreram com a perseguição da ditadura e da censura. Em 1973, Caetano Veloso teve a sua canção “Deus e o Diabo”, vetada por causa do último verso “Dos bofes do meu Brasil”. Diante do veto, a gravadora solicitou recurso, foi sugerido pelo censor que o autor substituísse a palavra “bofes”. Mas um segundo censor menciona os versos “o carnaval é invenção do diabo que Deus abençoou” e “Cidade Maravilhosa/ Dos bofes do meu Brasil”, como ofensivos às tradições religiosas. Em 1975, o álbum “Jóia” trazia na sua capa Caetano Veloso, sua então mulher Dedé e o filho Moreno, completamente nus, com o desenho de algumas pombas a cobrir-lhe a genitália. Censurada, o álbum foi relançado com uma nova capa, onde restaram apenas as pombas.
Geraldo Vandré tornou-se o inimigo número um do regime militar. A sua canção “Caminhando (Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores)”, que ficou com o polêmico segundo lugar no Festival Internacional da Canção, em 1968, tornou-se um hino contra a ditadura militar, cantado por toda a juventude engajada do Brasil de 1968. Esta canção, afirmam alguns analistas de história, foi uma das responsáveis pela promulgação do AI-5. Ficou proibida de ser cantada e executada em todo país. Só voltaria a ser ressuscitada em 1979, após a abertura política e a anistia, quando a cantora Simone a cantou em um show, no Canecão. Perseguido pelo regime, Geraldo Vandré esteve exilado de 1969 a 1973. Após o exílio, jamais conseguiu recuperar a carreira interrompida pela censura da ditadura militar. Calava-se uma expressiva carreira emprestada ao combate à ditadura.
Taiguara, uma das mais belas vozes masculinas da MPB, interpretou com maestria diversos gêneros musicais. Foi um dos cantores que mais se opôs contra a repressão da ditadura militar. Sua obra pagou o preço da perseguição e da censura. Deparou-se com a atenção da censura em 1971, que esteve atenta às canções do álbum “Carne e Osso”. Em 1973 teve 11 músicas proibidas. Perseguido pela censura, Taiguara teve muitas das suas músicas assinadas por Ge Chalar da Silva, sua esposa na época. Exilado em Londres, Taiguara gravou o álbum "Let the Children Hear the Music", em inglês. O disco foi proibido de ser lançado, pela EMI, por decisão da polícia federal brasileira. O compositor recorreu ao Conselho Superior de Censura, em 1982, tendo o disco finalmente liberado.

Chico Buarque, o Alvo Predileto da Censura Militar

Tendo silenciado e asfixiado Geraldo Vandré, os militares elegeram o seu novo inimigo do regime: Chico Buarque de Hollanda. No período que durou a censura e o regime militar, Chico Buarque foi o compositor e cantor mais censurado. A sua obra sofreu respingos da censura em todas as vertentes, tanto nas canções de protesto, quanto nas que feriam os costumes morais da época.
Os problemas de Chico Buarque com a censura começaram junto com a sua carreira. Em 1966, a música “Tamandaré”, incluída no repertório do show “Meu Refrão”, com Odete Lara e MPB-4, é proibida após seis meses em cartaz, por conter frases consideradas ofensivas ao patrono da marinha. Era o começo de um longo namoro entre a censura e a obra de Chico Buarque.
Exilado na Itália, de 1969 a 1970, Chico Buarque sofreria com a perseguição da censura após o retorno ao Brasil. Em 1970, recém chegado do exílio, o compositor enviou a música “Apesar de Você” para a aprovação da censura, tendo a certeza que a música seria vetada. Inesperadamente a canção foi aprovada, sendo gravada imediatamente em compacto, tornando-se um sucesso instantâneo. Já se tinha vendido mais de 100 mil cópias, quando um jornal comentou que a música referia-se ao presidente Médici. Revelado o ardil, o exército brasileiro invadiu a fábrica da Philips, apreendendo todos os discos, destruindo-os. Na confusão, esqueceram de destruir a matriz.
Em 1973 Chico Buarque sofreria todas as censuras possíveis. A peça “Calabar, ou o Elogio à Traição”, escrita em parceria com Ruy Guerra, foi vetada pela censura. As conseqüências da proibição viriam no seu álbum, “Calabar”, também daquele ano. A capa do disco trazia a palavra “Calabar” pichada num muro. Os censores concluíram que aquela palavra pichada tinha um significado subversivo, o que resultou na proibição da capa. A resposta de Chico Buarque foi lançar o álbum com uma capa totalmente branca e sem título. O disco trazia o registro das canções da peça vetada, por isto teve várias músicas (todas elas em parceria com Ruy Guerra) que amargaram nas malhas da censura. “Vence na Vida Quem Diz Sim” teve a letra totalmente censurada, sendo gravada no disco uma versão instrumental; “Ana de Amsterdam” teve vários trechos censurados. “Não Existe Pecado ao Sul do Equador”, que fazia parte deste disco, alcançaria grande sucesso quando gravada por Ney Matogrosso, em 1978, quando foi escolhida como tema de abertura da novela da tevê Globo “Pecado Rasgado”, na versão original da música o verso "Vamos fazer um pecado safado debaixo do meu cobertor", foi substituído por "Vamos fazer um pecado rasgado, suado, a todo vapor". “Fado Tropical” teve proibido parte de um texto declamado por Ruy Guerra, além da frase “além da sífilis, é claro”, herança portuguesa, segundo a personagem Mathias, no sangue brasileiro. “Bárbara”, um dueto entre as personagens Ana de Amsterdam e Bárbara, teve cortada a palavra “duas”, por sugerir um relacionamento homossexual entre elas. Tanto “Ana de Amsterdam” quanto “Bárbara”, já tinham sofrido os mesmos cortes no álbum “Caetano e Chico Juntos Ao Vivo”, ali substituídos por palmas. Ainda no registro do encontro de Chico Buarque e Caetano Veloso, além da censura às duas canções citadas, “Partido Alto” (Chico Buarque), interpretada por Caetano Veloso, sofreu alterações na letra, sendo substituídas as palavras “brasileiro” por “batuqueiro” e “pouca titica” por “pobre coisica”.
Diante de tantas mutilações da censura, o álbum “Calabar”, com capa branca, de Chico Buarque, foi um fracasso de vendas. Após o fracasso comercial , a Philips decidiu recolher o disco com capa branca, relançando-o semanas depois, com uma nova capa, trazendo apenas com uma fotografia do artista, de perfil, com o título “Chico Canta”.
Naquele ano de 1973, a música “Cálice” (Chico Buarque – Gilberto Gil), foi proibida de ser gravada e cantada. Gilberto Gil desafiou a censura e cantou a música em um show para os estudantes, na Politécnica, em homenagem ao estudante de geologia da USP Alexandre Vanucchi Leme (o Minhoca), morto pela ditadura. Ainda naquele ano, no evento “Phono 73”, festival promovido pela Polygram, Chico Buarque e Gilberto Gil tiveram os microfones desligados quando iriam cantar “Cálice”, por decisão da própria produção do show, que não quis criar problemas com a ditadura.
Em 1974 a censura não dá tréguas ao artista. Impedido de gravar a si mesmo, Chico Buarque lança um disco, Sinal Fechado (1974), com composições de outros autores. Diante de tantas canções vetadas, a sofrer uma perseguição acirrada, Chico Buarque cria os pseudônimos de Julinho da Adelaide e Leonel Paiva. É sob o heterônimo do Julinho da Adelaide que a censura deixa passar canções de críticas inteligentes à ditadura, lidas nas entrelinhas: “Jorge Maravilha”, que trazia o verso “Você não gosta de mim mas sua filha gosta”, que era lida como uma referência ao então presidente Geisel, cuja filha Amália Lucy, teria dito em entrevista, que admirava as canções do Chico Buarque. “Acorda Amor”, outra canção liberada do Julinho da Adelaide, era uma referência clara aos órgãos da repressão, que vinham buscar cidadãos suspeitos de subversivos em suas casas, levando-os em uma viatura, desaparecendo com eles. Diante da polícia repressiva, ele chamava pelo ladrão. “Milagre Brasileiro” também levou a assinatura de Julinho da Adelaide.
Outro clássico da MPB que sofreu uma censura moralista foi “Atrás da Porta” (Chico Buarque – Francis Hime), o verso original “E me agarrei nos teus cabelos, nos teus pêlos”, seria substituído por “E me agarrei nos teus cabelos, no teu peito”, a censura achava a palavra “pêlos” de caráter indecente.
Outra canção vetada de Chico Buarque foi “Tanto Mar”, uma homenagem do artista à Revolução dos Cravos em Portugal. Por ter sido uma revolução considerada socialista, a canção foi proibida. Seria gravada no álbum “Chico Buarque & Maria Bethânia Ao Vivo” (1975), numa versão instrumental. Mais tarde, em 1978, seria liberada com uma outra letra. Curiosamente, a versão original, sem cortes e cantada de “Tanto Mar”, consta no mesmo álbum “Chico Buarque & Maria Bethânia Ao Vivo” lançado em Portugal.
Quando o AI-5 foi extinto, em 1978, Chico Buarque vingou-se dos anos de censura, gravou “Cálice”, regravou “Apesar de Você”, além de criar músicas provocantes, que afrontavam à moral da época, como "Folhetim", que descrevia uma prostituta, ou “Geni e o Zepelim” e “Não Sonho Mais”, temas de dois travestis, Genivaldo da peça “A Ópera do Malandro” e Eloína, do filme “A República dos Assassinos”, respectivamente.

1973, o Ano Negro da Censura às Músicas da MPB

Chico Buarque não teria sido o único cantor da MPB a sofrer mutilações na sua obra naquele opressivo ano de 1973. O endurecimento deve-se à volta das manifestações estudantis, nos últimos anos bruscamente combalidas, resultado das perseguições aos líderes do movimento, que estavam em sua maioria presos, exilados ou desaparecidos. Outro disco mutilado pela censura naquele ano foi “Milagre dos Peixes”, de Milton Nascimento, lançado em LP e compacto simples. Do álbum seriam vetadas as canções: “Hoje é Dia d’El Rey” (Márcio Borges – Milton Nascimento), “Os Escravos de Jó” (Milton Nascimento – Fernando Brant) e “Cadê” (Milton Nascimento – Ruy Guerra). Uma das faixas proibidas teria a participação de Dorival Caymmi, com a sua exclusão, não aconteceu esta participação. “Diálogo Entre Pai e Filho” teve uma única frase que não foi proibida: “Meu filho”. Diante da censura, Milton Nascimento gravou apenas as melodias das canções vetadas.
Foi no tumultuado ano de 1973, que a banda Secos & Molhados explodiu, conquistando o país inteiro. O público dos Secos & Molhados, devido à proposta inovadora e ao seu carisma, era composto por todas as idades, inclusive por crianças e por adolescentes. Os três integrantes da banda eram Ney Matogrosso, Gerson Conrad e João Ricardo, que se apresentavam com os rostos pintados. Ney Matogrosso além de trazer a cara pintada, tinha uma voz de timbre totalmente diferente da de um homem cantor, um aspecto andrógeno e apresentava-se entre plumas, sem camisa. Os pêlos do peito do cantor e os seus frenéticos rebolados, incomodaram à censura, à moral e aos seus bons costumes vigentes, que proibiu que as câmeras da televisão focassem o cantor de perto, sendo permitido apenas aparecer o rosto em close. Assim apareceriam os Secos & Molhados em um clipe do recém estreado “Fantástico”, programa da Rede Globo.
Além da capa de “Calabar”, também em 1973, Gal Costa teve censurada a capa do disco “Índia”, por trazer um close frontal da cantora vestida de uma tanga minúscula, e na contra-capa fotografias da mesma de seios nus, vestida de índia. A gravadora Philips comercializou o álbum coberto por um envelope opaco, de plástico azul. Do mesmo álbum, a música “Presente Cotidiano”, de Luiz Melodia, foi proibida de tocar em rádios e locais públicos. Em 1984, já no fim da ditadura, pós Diretas Já, Gal Costa teria outra canção proibida pela censura de ser tocada em público: “Vaca Profana” (Caetano Veloso), do álbum “Profana”.
Ainda naquele tenso 1973, uma reportagem da revista Veja, dava conhecimento de que o álbum de Gonzaguinha, “Luiz Gonzaga JR.” (1973), era resultado do corte feito pela censura de 15 músicas.
Ainda em 1973, Raul Seixas teria 18 composições vetadas pela censura. Luiz Melodia, além de ter “Presente Cotidiano” proibida de ser executada nas rádios, teve várias palavras excluídas ou alteradas das canções do seu disco de estréia, e várias músicas vetadas na íntegra.

Linguagem Poética e Coloquial Sofrem Censuras

Na ignorância cega da censura, sem uma lógica que a sustentasse, até o poeta Mário de Andrade foi vetado. O fato inusitado aconteceu em 1970, quando a gravadora Festa decidiu homenagear os 25 anos da morte do poeta, preparando um disco com alguns dos seus mais conhecidos poemas. Após ser submetido à censura, o projeto teve seis poemas proibidos, entre eles “Ode ao Burguês” e “Lira Paulistana”. Os vetos foram justificados pelos censores como estéticos, “falta de gosto”. O que se concluía era que, os censores jamais tinham ouvido falar em Mário de Andrade, confundindo-o com um autor vulgar do Brasil da época.
Outro exemplo eloqüente da ignorância e do despreparo dos censores, foi com o compositor e cantor Adoniran Barbosa. Conhecido como o mais paulistano dos compositores, Adoniran Barbosa usava em suas canções o jeito coloquial de falar dos paulistanos. Não querendo problemas com a censura, em 1973 o artista decidiu lançar um álbum com várias canções já gravadas na década de cinqüenta. Inesperadamente, cinco das suas canções foram vetadas, mesmo não sendo inéditas. Diante da linguagem coloquial de “Samba do Arnesto” (Adoniran Barbosa – Alocin), que trazia nos seus versos “O Arnesto nos convidou prum samba/ Ele mora no Brás/ Móis fumo/ Num encontremo ninguém/ Fiquemo cuma baita duma réiva/ Da outra veiz nóis num vai mais (Nóis num semo tatu)”, o censor só liberaria a música se ele regravasse cantando assim: “Ficamos com um baita de uma raiva/ Em outra vez nós não vamos mais (Nós não somos tatus)”. Na letra da música “Tiro ao Álvaro” (Adoniran Barbosa – Oswaldo Moles), a censora faz um círculo nas palavras “tauba”, “revorve” e “artormove”, concluindo que a “falta de gosto impede a liberação da letra”. Para que pudessem ser aprovadas, “Samba do Arnesto” e “Tiro ao Álvaro”, teriam que virar “Samba do Ernesto” e "Tiro ao Alvo”. Tiveram o mesmo destino “Já Fui uma Brasa” (Adoniran Barbosa – Marcos César), "Eu também um dia fui uma brasa. E acendi muita lenha no fogão" e “O Casamento do Moacir” (Adoniran Barbosa – Oswaldo Moles), "A turma da favela convidaram-nos para irmos assistir o casamento da Gabriela com o Moacir". “O Casamento do Moacir” foi considerada de "péssimo gosto" pela censora Eugênia Costa Rodrigues. Diante da censura, Adoniran Barbosa não mudou a sua obra, deixou para gravar as músicas mais tarde, quando a burrice já tivesse passado.
Outro poeta que teve problemas com a censura foi Vinícius de Moraes. Sua música “Paiol de Pólvora” (Vinícius de Moraes – Toquinho), feita para a trilha sonora de “O Bem-Amado”, foi proibida de ser o tema de abertura da novela, em 1973, por causa do verso “estamos sentados em um paiol de pólvora”, sendo substituída na abertura pela música “O Bem Amado” (Vinícius de Moraes – Toquinho), interpretada pelo coral da Orquestra Som Livre. Também a belíssima canção “Valsa do Bordel” (Vinícius de Moraes – Toquinho), sobre a vida de uma velha prostituta, esteve proibida por dez anos. Vinícius cantava esta música em shows, ironicamente chamando-a de “A Valsa da Pura”, por causa da censura.
Paulinho da Viola, em 1971, teve no seu álbum “Paulinho da Viola”, duas canções proibidas: “Chico Brito” (Wilson Batista – Afonso Teixeira), música composta em 1949, e “Um Barato, Meu Sapato” (Paulinho da Viola – Milton Nascimento), ambas vetadas sob a alegação de que evidenciavam o clima marginal do samba.

Outros Tantos Vetos

Vale registrar, ainda, que em 1972, Jards Macalé teria que reescrever sete vezes a letra de Revendo Amigos” (Jards Macalé – Waly Sailormoon), do álbum “Movimento dos Barcos”.
Sérgio Bittencourt, jornalista e compositor, filho de Jacob do Bandolim, em 1970, teve a sua música “Acorda, Alice”, proibida pela censura da ditadura militar por causa do verso “Acorda, Alice/ Que o país das maravilhas acabou”. Esta canção seria gravada por Waleska já na época da abertura política.
Rita Lee teve as músicas “Moleque Sacana” (Rita Lee e Mu) e “Gente Fina” (Rita Lee) censuradas, a primeira por causa da palavra sacana, considerada obscena, a segunda porque poderia ferir os bons costumes da época.
Carlos Lyra sentiu o gosto da censura com a sua música “Herói do Medo”, proibida por causa dos versos "odeio a mãe por ter parido" e "o passatempo estéril dos covardes". Carlos Lyra não alterou o conteúdo da letra, preferiu sair do país.
Belchior, que durante muito tempo foi considerado autor marginal, teve a música “Os Doze Pares de França” (Belchior – Toquinho) censurada, porque para os censores, os autores vangloriavam a França, fazendo dele um país melhor para se viver do que o Brasil. Também a canção “Pequeno Mapa do Tempo” (Belchior), de 1977, uma crítica implícita ao regime, por causa dos versos "eu tenho medo e medo está por fora" e "eu tenho medo em que chegue a hora, em que eu precise entrar no avião", uma alusão ao exílio, os censores concluíram que a música trazia mensagem de protesto político.
Ao contrário do que se pensa, o cantor e compositor Luiz Ayrão foi um dos artistas brasileiros que mais contestou a ditadura militar. A sua música “Quem Eu Devo é Que Deve Morrer”, tem como tema uma dívida pessoal que só será paga se Deus quiser. Também a dívida externa brasileira encontrava-se nessas condições. Luiz Ayrão faz um samba provocativo. Diante da afirmação do verso “quem eu devo é que deve morrer", a canção é vetada, sendo a proibição justificada pela censura porque a letra era um incentivo ao homicídio, com uma mensagem de caráter negativo.
Sueli Costa deu a canção “Cordilheira” (Sueli Costa – Paulo César Pinheiro) para Erasmo Carlos gravar. Feito o registro, a canção jamais saiu, sendo proibida. Os autores chegaram a ir a Brasília em busca de uma explicação para o veto. Encontram o silêncio dos censores, sem nenhuma justificativa. Mas os versos falavam por si: “Eu quero ver a procissão dos suicidas, caminhando para a morte pelo bem de nossas vidas”. “Cordilheira” é uma das mais belas canções de teor contestatório já feita no Brasil. Quando liberada, seria gravada por Simone, em 1979, no álbum “Pedaços”. O registro de Erasmo Carlos só saiu em uma caixa de cds comemorativos à carreira do cantor. Outra canção censurada de Sueli Costa foi “Altos e Baixos” (Sueli Costa – Aldir Blanc), que cantava de forma densa uma cena de agressão entre um casal, que trazia um casamento desgastado. A música falava de uísque, Dietil, Diempax, e foi justamente por ter citado o nome do ansiolítico Diempax, que a canção foi censurada. Elis Regina conseguiria a liberação da música, gravando-a no seu álbum “Essa Mulher” (1979).

O Brega ou Popularesco, Nada Escapa à Censura

Como já se pôde observar , a censura da ditadura militar não obedecia a nenhum critério. Qualquer ameaça não só ao regime por ela imposto ao país, como à sociedade conservadora que a ajudou a ascender ao poder e nele continuar por mais de duas décadas. Vestido de uma moral hipócrita, o regime militar barrava qualquer obra que suspeitasse ofender à moral, ou que se mostrasse obscena a essa moral. Em um mesmo contesto, tanto Chico Buarque, quanto Odair José, um cantor e compositor de sucessos popularescos, sem vínculos com qualquer militância política, ou mesmo o genial e popular Genival Lacerda, sofriam os reveses da censura. “Tanto Mar” (Chico Buarque), “Pare de Tomar a Pílula” (Odair José) e “Severina Xique Xique”, apesar de canções antagônicas, de vertentes diversas dentro da música brasileira, oscilando entre a canção política e a considerada “brega” ou “pimba”, eram consideradas pela censura um perigo latente ao regime e à moral que se construía naquela época. Em 1975, já Genival Lacerda tinha transformado a sua música “Severina Xique Xique” (Genival Lacerda – João Gonçalves) em um grande sucesso de público no nordeste brasileiro, quando foi vítima do preconceito das famílias do Ceará, que acusavam a palavra “boutique” de ter duplo sentido, ofendendo os bons costumes do lugar. Diante do protesto, o departamento regional da polícia federal do Ceará encaminhou a letra à Divisão de Censura de Brasília. Surpreendentemente, o técnico de censura de Brasília, mantém a liberação da música e afirma que a canção "é um veículo de integração da nacionalidade". Este fato prova que a censura não vinha só do regime militar, mas da sociedade que apoiava este regime, e que muitas vezes, era mais repressiva e conservadora do que ele.
Dentro do popularesco da canção brasileira, Odair José foi um dos compositores que mais sofreu com a censura. “O Motel” (Odair José), teve só pelo seu título, o veto da censura. Revelar a intimidade de um casal naqueles preconceituosos anos setenta era inconcebível para a censura militar. Outra música de Odair José vetada pela censura foi “A Primeira Noite”, considerada inconveniente para ser consumida pelo público jovem e adolescente da época. O autor mudou o título da canção para “Noite de Desejos”, conseguindo liberá-la e gravá-la. A mais polêmica música de Odair José foi “Pare de Tomar a Pílula”, onde ele pedia para a namorada deixar de usar anticoncepcionais para que pudesse engravidá-la. Vista à ótica do tempo, a canção chega a ser ingênua, de uma simplicidade quase grotesca, absolutamente inofensiva para um público atual, mas aviltante para as velhas senhoras que em 1964, saíram às ruas de rosários nas mãos, saudando, em nome da família brasileira, os golpistas militares.
Dentro da corrente popularesca, a censura não poupou nem mesmo a dupla Dom e Ravel, que em 1970, tornara-se a menina dos olhos da repressão, com uma música que exaltava a nação, tornando-se o hino da ditadura: “Eu Te Amo, Meu Brasil”. O motivo que levou o regime a interrogar Dom e Ravel, foi quando eles apresentaram, em 1972, a canção “A Árvore”, os censores desconfiaram do trecho “venha, vamos penetrar”. Além de imaginar que o tema que falava de árvores, seria supostamente sobre a canabilis (planta da maconha). A música foi proibida, apesar de ter uma gravação da banda Os Incríveis, nunca foi lançada. A esta altura, a incoerência da censura já dava passagem para uma certa esquizofrenia social e política, sem ideologia ou razão.
Dentro de um processo repressivo, todos os argumentos tornam-se incoerentes, a razão é substituída pela força bruta. A censura não constrói uma lógica, muitas vezes ela percorre movida pelas decisões pessoais dos censores. Para manter as necessidades de uma ditadura, a censura fazia parte da arma de propaganda do estado repressivo, podava a liberdade de expressão, principalmente as que feriam os princípios que justificam um governo ilegítimo, emanado da força, da opressão e da traição aos princípios da democracia.

 

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