Quarta-feira, 22 de Outubro de 2008

OS NASCIMENTOS DE ATENA E TIFÃO

 

 

Um dos maiores mistérios que envolvem o mundo cristão é o nascimento de Jesus Cristo. Segundo a tradição, a gravidez de Maria teria sido concebida sem a participação de um homem, através do espírito santo enviado por Deus. Estaria assim, livre do pecado genético, transmitido pela degeneração de Adão passada através das gerações dele provenientes, ou seja, a humanidade. Maria teria mantido-se virgem até o nascimento do messias, cumprida a sua função santa de trazer ao mundo aquele que o redimiria de todos os males, tomou a sua posição de mulher judia daquela época, dando vários filhos e filhas ao marido José. Por séculos esta história foi contada, muitas vezes desacreditada, outras tantas a criar dogmas de fé na religião cristã.
Mas antes da história de Cristo ser conhecida e divulgada através do mundo ocidental, a mitologia grega trazia lendas de deuses que teriam tido experiências de ter tido filhos sem a participação de um macho ou de uma fêmea. Os deuses gregos eram diferentes dos deuses pagãos semitas ou egípcios por adquirem a forma humana e as suas virtudes e defeitos. Para os gregos era inconcebível ter um deus metade homem, metade pássaro, como os egípcios ou babilônicos. Portanto a concepção vinha da participação de um deus e de uma deusa. Gaia, a mãe Terra, gerara filhos com Urano, o Céu, que foi destronado e sucedido pelo filho, o titã Cronos, que devorou os filhos que teve com Réia, para que nunca fosse destronado. Mas seu filho Zeus o destronaria e se tornaria senhor absoluto dos deuses e do Olimpo, tornando-se pai de deuses, heróis e ninfas. Os filhos do poderoso Zeus foram gerados com a participação de uma companheira, divina ou mortal. Muitas vezes o senhor dos deuses adquiriu várias formas em suas conquistas amorosas, como a de um touro ou de um cisne, mas sempre gerou filhos a partir das suas conquistas amorosas.
Há duas lendas que fogem do princípio deus e deusa (homem e mulher) para a concepção de um filho. São as lendas que envolvem o nascimento da deusa Atena e do monstro Tifão. Ambas trazem a visão que os gregos antigos tinham do lugar que homem e a mulher tinham na sua sociedade.
 
Da Cabeça de Zeus Surge a Bela Atena


Zeus encheu-se de amor pela bela deusa Métis, a Prudência. Havendo resistência da parte da deusa, perseguiu-a por todo o universo, até que um dia conseguiu alcançá-la e seduzi-la com a sua paixão ardente. Zeus fez de Métis a mais feliz das amantes. Mas a felicidade ficou ameaçada quando a deusa engravidou-se de um filho do senhor do Olimpo.
Zeus contemplava o ventre crescido da amada. Sentia uma estranha sensação diante daquele ventre, como se um presságio crescesse junto com ele. Para tentar aliviar aquele constrangimento que lhe consumia o sono, o senhor do Olimpo consultou o oráculo de Gaia, queria saber o que o inquietava diante do futuro daquele filho por nascer. O oráculo revelou-lhe que nasceria uma filha do ventre de Métis, mas que da sua segunda gravidez nasceria um filho que iria aprisioná-lo e destroná-lo do Olimpo. Ao lhe ser revelado o futuro dos filhos que teria com Métis, Zeus decidiu defender a si e ao seu reinado sobre os deuses. Convidou a amante para o leito, e, envolvendo-a em sua teia amorosa, engoliu-a.
Passado algum tempo, o senhor do Olimpo passeava pelas margens do lago Tritônis, quando foi acometido de uma terrível dor de cabeça. As dores aumentavam, a cabeça ardia e latejava, como se vários punhais lhe tivessem sendo fincados. Zeus soltou um grito que estremeceu a terra e o Olimpo. Hermes, o mensageiro dos deuses, encontrou o pai a gritar desesperado com as dores que sentia. Correu para buscar Hefestos, o ferreiro divino. Ao ver o desespero de Zeus, Hefestos partiu-lhe a cabeça com um machado de ouro. Do crânio do deus dos deuses surgiu uma belíssima mulher vestida de uma armadura reluzente. A mulher trazia um elmo de ouro na cabeça, nas mãos trazia o escudo e a lança.
Ao ver tão formosa figura saída da ferida do seu crânio, Zeus reverenciou a beleza da filha, regozijou-se de ser pai de tão imponente deusa. O lago encheu-se de ondas, os deuses do Olimpo vieram contemplar tão imponente mulher.
Nascia assim, do crânio de Zeus, Atena, deusa da sabedoria, da inteligência, das artes da estratégia e da guerra. Atena seria a deusa protetora de quase toda a Grécia antiga. A deusa da sabedoria jamais se uniria a um outro deus, herói ou simples mortal, não teve descendência, mantendo-se casta. Ser filha de Zeus, sem ter nascido do ventre de mulher mortal ou divina, fazia dela a deusa da inteligência dos homens e da estratégia de sobrevivência dos gregos em sua expansão pelo mundo antigo, transformando-os em um povo superior diante dos seus vizinhos da Ásia Menor.

Tifão, o Filho da Amargura de Hera
 

Quando Atena nasceu, todo o Olimpo falava da sua beleza e da sua sabedoria. Todas as reverências foram dadas a Zeus por ter concebido tão formosa e guerreira filha. Ao ver Atena, Hera, a ciumenta mulher de Zeus, a rainha do Olimpo, encheu-se de cólera e amargura. Não suportava a idéia do marido ter concebido tão bela filha sem a sua participação. Enfurecida, Hera não quis receber Atena diante de si.
Desde o nascimento da filha, que Zeus tornara-se um pai zeloso, cheio de empáfia por sua obra. Hera sentiu-se diminuída diante dos desuses. O único filho que dera a Zeus tinha sido o feio e coxo Hefestos, deus dos vulcões. Ao dar à luz a filho tão feio e com deficiência na perna, ficou tão furiosa que o atirara ao mar. Depois daquele fruto indesejado, Zeus aparecia diante dela sendo pai de uma deusa belíssima, concebida somente por ele.
Hera não suportava tanta humilhação. Desejou conceber um filho sem a participação do marido. Queria ela ser mãe de um belo deus. Tanto rogou a Gaia, a mãe Terra, e às forças da terra, que conseguiu o seu propósito. Após inúmeras súplicas, Hera viu o seu ventre crescer. Também ela iria sozinha, gerar um filho, sem a presença do marido. Para punir e humilhar ainda mais o senhor do Olimpo, Hera não permitiu que o marido a procurasse durante a gravidez. Preferiu retirar-se para os templos onde era adorada e onde os humanos rendiam-lhe homenagens e sacrifícios.
Finalmente chegou o dia tão esperado. Hera começou a sentir as dores do parto. Estava ansiosa para ver o fruto da sua concepção solitária. Quando nasceu o filho da sua solidão e amargura, Hera decepcionou-se, ele não trazia a forma de um deus e nem a de um mortal. Era um terrível monstro em forma de serpente que cuspia fogo. Deu-lhe o nome de Tifão. Impossibilitada de livrar-se do filho, Hera voltou ao Olimpo a trazer nos braços tão vergonhosa produção. Tifão criou problemas com todos os deuses do Olimpo, fazendo intrigas entre eles. Importunados por tão incômoda presença, as divindades enviaram Tifão para Delfos, para ao lado da serpente Pitão, tomar conta do oráculo. Mais tarde Apolo matou Pitão e atirou Tifão no fundo do mar, onde ficou prisioneiro para sempre. Todas às vezes que o filho de Hera esbraveja mal humorado nas profundezas do mar, entra em erupção os vulcões Etna e Vesúvio, assombrando toda a Itália.
Na visão dos gregos antigos, a sociedade é patriarcal. O homem pode conceber grandes obras sem a mulher, inclusive a concepção. Mas a mulher só produziria seres deformados e obras espúrias sem a participação do homem.

 

 
 
publicado por virtualia às 05:02
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